Não Vos Inquieteis: o roteiro de Jesus para vencer a ansiedade
Eis por que vos digo: "Não vos inquieteis por saber onde achareis o que comer para sustento da vossa vida nem de onde tirareis veste para cobrir o vosso corpo. Não é a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que as vestes?" Olhai os pássaros do céu: não semeiam, não ceifam, não guardam em celeiros, mas vosso Pai celestial os alimenta. Não valeis muito mais do que eles? E qual, dentre vós, o que pode, com todos os seus esforços, aumentar sequer alguns instantes de sua vida? Por que, também, vos inquietais pelo vestuário? Olhai como crescem os lírios dos campos; não trabalham nem fiam; entretanto, Eu vos declaro que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles.
Ora, se Deus tem o cuidado de vestir dessa maneira a erva dos campos, que existe hoje e amanhã será lançada na fornalha, quanto maior cuidado não terá em vos vestir, ó homens de pouca fé! Não vos inquieteis, pois, dizendo: Que comeremos? Ou: que beberemos? Ou: com que nos vestiremos? como fazem os pagãos, que andam à procura de todas essas coisas; porque vosso Pai sabe que tendes necessidade delas. Buscai primeiramente o Reino de Deus e a sua justiça, que todas essas coisas vos serão dadas de acréscimo. Assim, pois, não vos inquieteis pelo dia de amanhã, porque o amanhã cuidará de si. A cada dia basta o seu mal.
(Mateus, 6:19 a 21; 25 a 34)
A Repetição Significativa do "Não Vos Inquieteis"
A leitura do texto, narrado por Lucas, denota que a expressão 'não vos inquieteis' aparece quatro vezes no texto. Esta repetição não é casual - ela nos convida a uma profunda reflexão sobre como a inquietação e a ansiedade têm se tornado obstáculos em nossa jornada evolutiva espiritual.
Consultando o dicionário, encontramos o termo 'inquietação' definido como perturbação, falta de tranquilidade ou calma - um sentimento de apreensão ou preocupação que se aproxima da ansiedade.
A Ansiedade e Seus Desdobramentos
A ansiedade, em sua manifestação natural, é uma emoção que nos prepara para enfrentar desafios ou ameaças. No entanto, quando se torna persistente e excessiva, transforma-se em uma verdadeira armadilha mental, aprisionando-nos em preocupações constantes com o futuro, sejam elas reais ou imaginárias. Nesse estado, pode evoluir para um transtorno de ansiedade, comprometendo significativamente nosso equilíbrio e qualidade de vida.
Foi sobre os perigos dessa preocupação excessiva com o futuro que Jesus, há mais de dois mil anos, nos alertou. Não por acaso, repetiu várias vezes 'não vos inquieteis', enfatizando a importância desse ensinamento.
O Equilíbrio Entre o Material e o Espiritual
Não vos inquieteis com a busca por coisas materiais que excedam as necessidades reais para uma sobrevivência digna. Jesus não nos pede para sermos negligentes com nossas responsabilidades familiares ou necessidades materiais básicas, mas nos convida a reavaliar o peso que essas preocupações exercem sobre nosso bem-estar.
O ensinamento não propõe o abandono de nossas obrigações, mas sim seu enfrentamento com serenidade e confiança, impedindo que as inquietações materiais nos subtraiam a paz interior. Trata-se de encontrar o justo equilíbrio entre o cumprimento de nossos deveres e a preservação de nossa harmonia espiritual.
As Metáforas da Natureza
Para ilustrar sua mensagem, Jesus recorre a exemplos simples da natureza. Ele nos fala sobre os pássaros, que não semeiam nem colhem, mas são sustentados pelo Pai, e sobre os lírios do campo, que não trabalham nem fiam, mas são revestidos de uma beleza que transcende qualquer riqueza material. Esses exemplos revelam a ordem perfeita que rege a Criação, um sistema divino em que cada elemento é amorosamente cuidado e sustentado.
Através dessas metáforas, o Mestre nos ensina que, assim como os pássaros e os lírios, também somos parte integrante dessa ordem divina. Ao afirmar que 'a vida é mais que o alimento, e o corpo mais que as vestes', Jesus estabelece uma hierarquia de valores que nos auxilia a reorientar nossas prioridades em um mundo cada vez mais dominado pelo consumismo e pela busca incessante de bens materiais.
A Ansiedade na Era Digital
Este ensinamento mostra-se especialmente relevante em nossa era de profundas incertezas e ansiedades crescentes. Vivemos um tempo em que o futuro é frequentemente percebido como ameaçador, sob a constante pressão social e o imediatismo que caracterizam nosso cotidiano. A exigência de estarmos continuamente conectados, respondendo instantaneamente a mensagens e atendendo a inúmeras demandas externas, intensifica nosso sentimento de sobrecarga e exaustão mental.
A 'síndrome do pensamento acelerado' reflete nossa realidade atual, onde a avalanche de estímulos rápidos e incessantes impede reflexões mais profundas e significativas. A busca desenfreada por conquistas materiais e validação externa contribui para a formação de um vazio existencial que nenhum bem material consegue preencher.
Agravando esse cenário, a exibição de vidas supostamente 'perfeitas' nas redes sociais alimenta a ansiedade coletiva, levando muitos a perseguirem padrões irreais de felicidade e sucesso. Essa busca perpetua frustrações e promove a desconexão com a própria essência, numa sociedade que privilegia as aparências e valoriza o 'ter' em detrimento do 'ser'.
O Reino de Deus Interior
O Reino de Deus, tal como apontado por Jesus, não diz respeito a um lugar físico ou a uma condição externa a ser alcançada, mas a uma realidade espiritual que reside dentro de cada um de nós. No Evangelho de Lucas (17:21), o Mestre declara: "O Reino de Deus está dentro de vós", reforçando a ideia de que esse Reino é uma dimensão interna, acessível por meio de um mergulho no próprio ser — um encontro com nossa alma, em uma jornada profunda de autoconhecimento.
Reflexões Fundamentais
- Quem realmente somos?
- O que estamos fazendo da oportunidade de estarmos encarnados neste mundo de provas e expiações?
- Que valores morais já conquistamos?
- Quais dificuldades superamos e quais ainda precisamos vencer?
Sobretudo, somos convidados a olhar com clareza e humildade para nossas próprias limitações, aprendendo a nos amar em nossa humanidade e pequenez. Afinal, somos eternos aprendizes da vida, em constante processo de crescimento espiritual.
A Prática da Serenidade
Tudo na vida é prática e repetição. Nossa mente está habituada a viver no futuro, e não será repentinamente que conseguiremos mudá-la. É preciso, gradualmente, disciplinar nossos pensamentos, substituindo hábitos mentais perturbadores por aqueles saudáveis que propiciam a vivência do amor. Assim, manter-nos-emos serenos, com a mente focada em ideais elevados.
Conclusão
Sigamos o conselho de Jesus e aprendamos com a natureza, observando os pássaros no céu e os lírios do campo. Ela nos ensina a realizar um pouco a cada dia, respeitando nossos limites, com serenidade, sem a ansiedade de transformações imediatas. As construções do Espírito são eternas e, justamente por isso, demandam tempo. Aquilo que perdurará pela eternidade precisa receber o selo sagrado do tempo, do esforço persistente, da perseverança incansável e da paciência amorosa.