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quinta-feira, 18 de outubro de 2018

A PARÁBOLA DO RICO E LÁZARO


A parábola do rico e Lázaro, registrada no Evangelho de Lucas, capítulo 16, versos 19 a 31, ressalta a possibilidade da comunicação entre os mortos e os vivos, as diferenças vibratórias entre os espíritos e a lei de causa e efeito. O cerne dessa parábola, entretanto, é a indiferença moral, que se revela como uma característica predominante nos habitantes do planeta Terra, dificultando o seu progresso em direção a Deus.
Emmanuel, no livro "O Consolador", na questão 180, afirma que a indiferença é a cristalização do sentimento. O benfeitor ressalta que a indiferença é um dos piores estados psíquicos da alma, uma vez que anula as possibilidades de progresso do espírito, bloqueando os germes de sua perfeição
No capítulo IX, item 8, do "Evangelho Segundo o Espiritismo," o espírito comunicante, coincidentemente chamado Lázaro, registra que a civilização planetária atualmente apresenta a atividade intelectual como virtude,  enquanto mantém a indiferença moral como vício.
A humanidade, sem dúvida, tem progredido de maneira admirável no campo do conhecimento, na pesquisa científica e na tecnologia. Entretanto, juntamente com essas conquistas tecnológicas surpreendentes, a indiferença moral em relação às necessidades dos outros também é impressionante.
A indiferença moral pode ser observada nas ruas tanto dos pequenos quanto dos grandes centros urbanos, acompanhando em silêncio a ativa atividade intelectual humana. Entre prédios, veículos, construções e equipamentos públicos, permanecem invisíveis os necessitados que estão presentes por toda parte: nos semáforos, nas calçadas, nas portas de bancos, lojas e restaurantes, estendendo suas mãos em busca de ajuda, enquanto aqueles que passam por eles seguem indiferentes.
A indiferença moral também se manifesta nos comportamentos humanos que optam por não cumprimentar um conhecido, agindo como se não o vissem. Ela está presente nos comportamentos que negam a um pai, irmão, filho, amigo ou até a um desconhecido qualquer forma de auxílio, seja material ou intelectual.
Foi por isso que Jesus contou esta parábola:
“havia um homem rico que se vestia de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele. E desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas. E aconteceu que o mendigo morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico e foi sepultado. No Hades, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão e Lázaro, no seu seio. E, clamando, disse: Abraão, meu pai, tem misericórdia de mim e manda a Lázaro que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro, somente males; e, agora, este é consolado, e tu, atormentado. E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá, passar para cá. E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos, para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento. Disse-lhe Abraão: Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos. E disse ele: Não, Abraão, meu pai; mas, se algum dos mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Porém Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite.

As parábolas de Jesus são convites à reflexão, orientados para o processo de transformação moral. Diante deste texto, é relevante questionarmo-nos se nos identificamos com algum dos personagens ou com os conteúdos e símbolos apresentados.
O personagem rico na parábola representa a indiferença diante das necessidades alheias. Apesar de ser retratado como alguém rico em recursos materiais, é crucial considerar todas as demais riquezas que Deus concede ao espírito para sua jornada evolutiva bem-sucedida. Todas as pessoas possuem talentos e possibilidades diversificadas, muitas vezes não compartilhadas com os outros devido à indiferença e ao egoísmo que as aprisionam
Por outro lado, os "Lázaros" das necessidades podem ser qualquer pessoa em dificuldade ou necessidade, buscando auxílio dos outros, mas encontrando apenas indiferença e frieza por parte daqueles a quem pedem ajuda. São indivíduos que Deus espera serem socorridos por meio do auxílio de outros, mas que não encontram nos corações daqueles que possuem a capacidade de ajudar a boa vontade necessária para se tornarem instrumentos de apoio aos necessitados.
O grande desafio apresentado pela parábola é a capacidade de reconhecer, no íntimo de cada ser, a presença da indiferença, buscando dissolvê-la. Essa ação permitirá libertar-se das correntes do egoísmo, um vício de caráter que colocou o rico da parábola em um estado doloroso de consciência, que se assemelha ao inferno. Este é o destino de todos aqueles que conduzem suas vidas na direção oposta à lei do Amor.
O rico, da parábola, desperta no mundo espiritual em uma situação dolorosa, resultado direto do egoísmo que guiou o uso dos talentos que Deus lhe concedeu. Ele percebe que Lázaro está em uma condição melhor do que a sua e é informado de que isso ocorre porque Lázaro enfrentou as provações de sua vida miserável com resignação. Em meio à profunda amargura, ele suplica por ajuda a Abraão, que na parábola representa um benfeitor espiritual.
Contudo, Abraão não pode socorrê-lo naquele momento, sendo-lhe impossível. Um abismo existe entre aqueles que se atormentam com a culpa em suas consciências e aqueles que aprenderam a amar e a servir.
Deus cuida de todos os Seus filhos, atendendo às suas necessidades verdadeiras, não aos seus desejos superficiais. No caso do rico, sua impossibilidade de receber socorro naquele momento decorre dos desígnios da lógica divina, que muitas vezes são desconhecidos e inacessíveis aos seres humanos. Em algumas ocasiões, a maior dor e o mais intenso sofrimento na vida de uma pessoa podem ser os instrumentos que a conduzirão a uma conexão mais profunda com Deus.
O apóstolo Paulo, na segunda carta aos Coríntios, capítulo 12, versos 7 e 8, faz referência a um "espinho na carne" que o atormentava constantemente. Ele havia suplicado a Deus para ser libertado desse sofrimento. Contudo, a resposta divina foi negar seu pedido, pois esse "espinho" era aquilo que o mantinha espiritualmente vigilante e atento.
Isso ilustra que nem sempre a remoção imediata do sofrimento é o melhor caminho, pois às vezes é através dessas dificuldades que somos impulsionados a crescer espiritualmente e a desenvolver uma maior proximidade com Deus.
Léon Denis, no livro "O Problema do Ser, do Destino e da Dor," destaca a importância da dor no processo de renovação moral. Ele descreve a dor como uma ferramenta divina capaz de purificar o coração humano, eliminando o mal que a consciência não reconheceu.
O egoísmo do rico na parábola se manifesta mesmo quando ele está enfrentando o sofrimento. Ele está disposto a rogar por bênçãos divinas somente para seus entes queridos, demonstrando esquecimento em relação às demais criaturas humanas, que também são filhas do mesmo Pai. Ele pede a Lázaro, em espírito, que retorne para alertar seus irmãos sobre as verdades da vida após a morte. No entanto, sua preocupação está apenas com sua família, ignorando as necessidades de todas as outras criaturas. O egoísmo ainda prevalece em seus impulsos, e ele não percebe que é exatamente esse egoísmo que é a raiz de toda a dor e sofrimento que está vivenciando.
Abraão respondeu, afirmando que os familiares do rico já tinham à disposição Moisés e os Profetas, e que eles deveriam estudar esses ensinamentos, pois nada do que estava ocorrendo era novo; todas essas verdades já haviam sido transmitidas pelos missionários que vieram antes de Jesus.
O rico possuía as revelações divinas deixadas pelos Profetas, mas negligenciou a oportunidade de se aprofundar nessas sábias palavras e permitir que elas guiassem sua vida.
A humanidade tem no Evangelho de Jesus um guia para a sua evolução espiritual, e na Doutrina Espírita um manual para percorrer esse caminho. Conhecer, refletir e aplicar os ensinamentos que Jesus nos deixou é uma escolha individual que compete a cada um fazer.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

A PORTA ESTREITA



Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela (Mateus 7:13)


Na época de Jesus, o povo da Palestina, embora moralmente endurecido, mantinha uma forte adesão e compromisso com os preceitos religiosos presentes na Torá.

Devido a essa orientação, os judeus demonstravam uma profunda reverência pela cidade de Jerusalém, a capital religiosa do judaísmo, considerada sagrada e divina. Isso ocorria principalmente porque lá se encontrava construído o único templo onde eles deveriam adorar a Deus.

Nas datas religiosas, os judeus de toda a Palestina deixavam suas cidades e peregrinavam até a cidade sagrada de Jerusalém para celebrar as festas no templo.

Naquela época, as cidades importantes eram fortificadas e cercadas por altos muros, destinados à sua defesa. O acesso às cidades era possível apenas através de portas ou portões. 

Em Jerusalém, existiam doze portas, cada uma com um propósito específico. Havia uma porta pela qual o lixo da cidade era retirado, a porta central que era utilizada pelos peregrinos em dias de festa, uma porta pela qual os produtos eram trazidos para serem comercializados e, além destas, havia também a porta através da qual as ovelhas eram conduzidas para serem sacrificadas.

Naquela época, os judeus praticavam o sacrifício de animais como uma forma de expressar adoração a Deus. Como muitos judeus eram pastores de ovelhas, eles frequentemente utilizavam esses animais nos rituais sagrados. Durante os dias de festas religiosas, a venda de animais para sacrifício era abundante nas proximidades das portas da cidade.

Os animais destinados ao sacrifício só podiam entrar na cidade por uma porta específica, conhecida como a Porta das Ovelhas ou a Porta do Sacrifício. Essa porta permitia acesso direto à área posterior do templo e era estreita e pequena, tornando difícil a passagem de pessoas. 

Jesus, então, utiliza a simbologia presente na imagem da Porta das Ovelhas, que era estreita e reservada para o sacrifício, para transmitir ensinamentos sobre o processo de transformação moral. 

A porta é um elemento que define a fronteira entre dois espaços e possibilita a passagem de um para outro lado. Ninguém pode transpor uma porta sem se colocar em movimento. 

A reforma íntima é um processo individual que requer que as forças da alma sejam postas em movimento, permitindo abandonar um estágio evolutivo para ascender a outro.

Jesus frequentemente incentivava esse movimento com a frase: "Vai e não peques mais..." 

A porta, simbolicamente usada na lição, possui uma característica peculiar: é estreita. Para atravessá-la, é necessário percorrer o caminho do sacrifício. 

O caminho da transformação moral é estreito e requer sacrifícios, o que faz com que poucos sejam capazes de percorrê-lo. Isso ocorre porque o processo de transformação moral exige a constante disciplina, a renúncia e o desapego.

Para os espíritos que estão acomodados em suas atitudes, a tarefa da reforma íntima parece pesarosa. No entanto, para aqueles que têm boa vontade, esse caminho se torna um roteiro de vida.  

A Terra é um planeta de provas e expiações, e, por isso, oferece aos seus habitantes inúmeras portas largas, que acessam o mundo exterior das ilusões e das seduções, verdadeiras possibilidades de se adensar as próprias imperfeições morais, como o orgulho, vaidade, egoísmo, viciações, hábitos equivocados etc.

A porta estreita, por outro lado, leva ao caminho da plenitude. 

No entanto, para atravessá-la, é essencial possuir a disposição de olhar para dentro de si mesmo, mantendo a prática constante da oração e da vigilância.

O hábito contínuo da oração eleva o nível de vibração espiritual e estabelece uma conexão com esferas mais elevadas, das quais emanam as melhores inspirações para exercer o livre-arbítrio. Além disso, essa prática expande a visão interior, permitindo que o indivíduo identifique as dificuldades internas que carrega na alma. 

Além da oração, é fundamental exercer a vigilância sobre os pensamentos, palavras e sentimentos, uma vez que o que é expresso por meio das palavras, emoções e sentimentos oferece uma melhor compreensão de si mesmo.

A oração e a vigilância são caminhos que facilitam o processo de autoconhecimento. Sem esse autoconhecimento, a pessoa tende a agir sob a influência de sua natureza inferior, suas sombras e conteúdos psíquicos mais densos. A partir disso, a passagem pela porta larga se torna uma questão de oportunidade. 

O percurso do autoconhecimento, apesar de desafiador, é o único capaz de guiar o ser humano em direção à felicidade e à perfeição espiritual. Sem a dedicação à renúncia, à superação do interesse pessoal e ao desapego, que são parte integrante do processo do autoconhecimento, é inviável atravessar a porta que, embora estreita, conduz a um novo horizonte - o horizonte da liberdade.