O Reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo homem, tendo-o achado, torna a esconder, e, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem, e compra aquele campo" Mateus 13:44. O reino dos céus é semelhante ao homem, negociante, que busca boas pérolas; e, encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha, e comprou-a." Mateus 13:45-46.
As parábolas apontam duas situações. Na primeira, um homem encontra um tesouro por acaso, pois não o procurava. Feliz com o achado, resolve vender tudo o que tem para adquirir aquele campo e, consequentemente, apossar-se do tesouro.
Na segunda situação, o homem, um negociante de pérolas, está à procura de uma pérola de grande valor e, ao encontrá-la, vende tudo o que possui para adquiri-la.
Jesus compara o Reino de Deus a um tesouro de valor incalculável, de modo que todos os outros interesses e prioridades escolhidas para a vida perdem completamente o significado diante do brilho desse tesouro.
Alguns vivem uma experiência semelhante à do primeiro homem, que encontra o tesouro sem estar à procura dele; mas, ao encontrá-lo, transforma-se e dá um novo rumo à sua própria existência.
É exatamente assim que acontece o despertar da consciência para a conquista dos valores espirituais. Muitos permanecem no mundo com todas as atenções voltadas exclusivamente para atender às necessidades da vida material, até que uma experiência libertadora lhes toque, despertando-os da anestesiante ilusão com que enfrentavam o mundo e apontando-lhes outro rumo.
Foi assim com o filho pródigo de outra parábola contada por Jesus (Lucas 15:11-32). O moço desperdiçou bens materiais e a própria saúde para se saciar em atividades mundanas inferiores. Sem conseguir a satisfação que buscava, em um determinado momento de sua vida, ele "cai em si" e, ao fazer isso, passa a mobilizar todas as forças de sua alma para retornar à casa do Pai.
Saulo de Tarso também vivenciou uma experiência libertadora. Sendo a esperança do farisaísmo, jovem, belo, atleta e poliglota, ele viveu uma experiência cósmica com o Cristo às portas de Damasco. Despertando das trevas exteriores e como alguém que encontra um tesouro sem o estar procurando, ele se transforma no Apóstolo Paulo, o "convertido de Damasco", alterando completamente o rumo de sua vida e abandonando tudo o que tinha para investir no tesouro encontrado.
Foi assim também com Francisco Bernadone, que, ao despertar para os valores da vida espiritual e encontrar o tesouro que não buscava, deixou tudo para ir em busca dessa riqueza interior, transformando-se no Pobrezinho de Assis.
O mesmo ocorreu com Maria de Magdala, Zaqueu e muitos outros heróis conhecidos, bem como inúmeros anônimos que, todos os dias e sem estar à procura, encontram seu tesouro escondido e dão um novo rumo à própria vida, felizes por terem despertado para os verdadeiros valores da existência.
Na segunda situação apresentada na parábola, o homem está ciente da existência de uma pérola de grande valor e a busca ativamente até encontrá-la.
Assim como muitos de nós que já conhecemos o valor do Evangelho do Cristo, mas ainda resistimos a vivencia-lo.
A proposta expressa na parábola é clara. Para cultivar virtudes e sentimentos nobres na intimidade do coração, é necessária uma tomada de atitude que implique em deixar de lado tudo o que até então era valorizado, direcionando as energias psíquicas para o aprimoramento moral.
Cada um sabe o que valoriza na vida e para qual direção suas atenções se voltam. Se você não sabe, basta se autoobservar por um dia e logo notará que as forças da alm são mobilizadas para atender a caprichos, ociosidades, futilidades, vaidades, animosidades, feridas emocionais, orgulho, desejo de vingança, e vícios físicos e mentais, entre outros. A proposta da parábola é abandonar todas essas "riquezas" superficiais para cultivar o verdadeiro tesouro que reside dentro de nós.
O cultivo do tesouro interno passa pela reforma íntima. A questão 919 do Livro dos Espíritos, neste sentido, é esclarecedora, apontando o autoconhecimento como medida prática para se conquistar a paz íntima.
Jesus fez o convite e a doutrina espírita apontou um caminho, mas somente o esforço pessoal poderá operar a edificação moral, legítima e definitiva em cada um.
Portanto, "esqueçamos o desperdício de energia, os caprichos da infância espiritual e cresçamos para ser, com o Pai, os tutores de nós mesmos". (Emmanuel, Vinha de Luz)