Jesus passava pela região dos gadarenos quando um homem emergiu das sepulturas e correu ao Seu encontro assim que O avistou. Esse não era um homem comum; há muito tempo estava possuído por demônios. De aparência desgrenhada, parcialmente despido, com olhos vitrificados e alimentando-se de restos, ele habitava o local destinado às sepulturas.
Ao ver Jesus, o homem correu e prostrou-se diante da Luz do Mundo, exclamando: "Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? "Peço que não me atormentes." Jesus perguntou: "Qual é o teu nome?" Ele respondeu: "Legião é o meu nome, pois somos muitos."
Naquele momento, uma manada de porcos passava por ali. O homem implorou a Jesus que não os expulsasse da província. Os demônios rogaram: "Envia-nos para os porcos, para que entremos neles." Jesus consentiu, e os espíritos imundos entraram nos porcos. A manada se precipitou por um despenhadeiro no mar e se afogou.
O texto conduz a lições profundas que vão além da narrativa aparente. Literalmente, a história fala de um homem vítima de obsessão espiritual. No entanto, ao encontrar Jesus, a personificação do amor, ele corre ao Seu encontro, suplicando que o deixe em paz, pois seu tempo ainda não havia chegado (Mt 8:29).
O diálogo se estabelece com a legião de espíritos que sugavam as energias vitais do homem (Mc 5:9-13). Eles pedem a Jesus que lhes permita entrar nos porcos que passavam por ali, e o Mestre concede. Consumada a transferência, a manada se atira penhasco abaixo e se afoga no mar.
O texto nos convida a um autoexame. Questiona o cultivo de "sepulcros" internos, onde abrigamos paixões, pensamentos e emoções infelizes. O autoconhecimento é uma recomendação constante nas mensagens de Jesus. Contudo, muitos, ocupados com as trivialidades do mundo, negligenciam essa prática. E quando a morte chega, surpreendem-se ao perceber que sua mente foi um depósito de cadáveres emocionais, alimentando longos processos de auto-obsessão.
Emmanuel, no livro "Pão Nosso", capítulo 32, reflete sobre o tema: "Luta contra os cadáveres de qualquer natureza que se abriguem em teu mundo interior. Deixa que o divino sol da espiritualidade te penetre, pois, enquanto fores ataúde de coisas mortas, serás seguido, de perto, pelas águias da destruição."
É preciso questionar quem está no comando de nossas ações, pensamentos e desejos. Estamos sendo guiados por nossa consciência divina ou pelas nossas imperfeições morais e vícios? Essas imperfeições consomem as energias sutis da alma e estabelecem conexões com mentes que vibram na mesma frequência, levando a processos obsessivos difíceis de romper.
Por outro lado, é crucial refletir que, embora o ser humano encarnado necessite da matéria para sua evolução, o culto ao material e ao impermanente cria amarras que o aprisionam. Isso o situa em uma faixa vibratória tão densa que sua condição se assemelha à do homem obsidiado de Gadareno. Nada conseguia libertá-lo dessa situação, pois todas as tentativas de removê-lo dali foram em vão; ele estava profundamente atado às suas próprias trevas. Ele só se libertou quando a legião de espíritos que o atormentava foi transferida para uma manada de porcos. A imagem da manada de porcos se atirando do penhasco simboliza as múltiplas reencarnações do espírito, necessárias para a superação das imperfeições morais.
O Evangelho de Jesus é o maior tesouro enviado pelo Pai para despertar as almas do sono profundo da ignorância. No entanto, dois mil anos se passaram, e a humanidade ainda exibe os mesmos defeitos: orgulho, egoísmo, vaidade, impaciência e ignorância diante dos desafios da vida.
Quando procrastinamos a mudança de um comportamento reconhecidamente errôneo, a voz do homem de Gadareno ressoa em nosso íntimo: "Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Vieste aqui para nos atormentar antes do tempo?"
O momento para a mudança é agora, não amanhã. Jesus desafia as consciências daqueles que já são capazes de entender Seu Evangelho, mas relutam em viver de acordo com Seus ensinamentos. Eles preferem permanecer, como o homem de Gadareno, nos sepulcros de suas imperfeições, vivendo com uma legião de vícios e fraquezas morais.
Lembremos do apóstolo Paulo que nos convida a despertar.
"Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará" (Efésios 5:14)