domingo, 22 de abril de 2018
PARÁBOLA DO GRANDE BANQUETE
sábado, 21 de fevereiro de 2015
A MULHER EQUIVOCADA
O Evangelho narra que, naqueles dias de festa, havia grande tumulto nas ruas. Em dado momento, em meio a um grande alvoroço, um grupo de fariseus lançou aos pés de Jesus uma jovem mulher, flagrada em adultério.
Para o povo de Israel, a definição de adultério diferia entre homens e mulheres. Um homem só era acusado de adultério se mantivesse relações com uma mulher casada ou comprometida, pois entendia-se que, ao fazê-lo, ele agredia outro homem. Por outro lado, quando uma mulher cometia adultério, considerava-se que ela agredia o matrimônio.
A suspeita de adultério deveria ser submetida à prova da "água amarga". A mulher suspeita deveria ingerir uma bebida desagradável feita com pó coletado no Templo. Se ela vomitasse ou adoecesse após a ingestão, era considerada culpada.
Aquela mulher que os fariseus levaram até Jesus havia sido surpreendida em flagrante adultério. A pena para tal ato era a morte. Os fariseus a submeteram ao julgamento de Jesus. Na verdade, embora tivessem olhos atentos para todas as faltas alheias, o objetivo naquele momento era mais aproveitar o incidente para armar uma cilada ao Profeta de Nazaré do que zelar pela pureza do matrimônio.
Eles a jogaram no chão, e ela ali ficou, sem coragem sequer de erguer os olhos. Sabia que havia delinquido e conhecia a penalidade. Sabia, igualmente, que ninguém teria piedade dela. Ninguém, exceto Ele.
Enquanto a indagação dos fariseus aguardava uma resposta do Rabi sobre a pecadora, Ele se inclinou e traçou na areia do pavimento caracteres misteriosos.
O que Ele estaria escrevendo? O nome do cúmplice que havia fugido? O nome do marido que, ferido no orgulho, permitia que sua esposa fosse tão vilmente tratada?
Diversos intérpretes do texto evangélico narram que Ele estaria grafando a marca moral do erro de cada um dos presentes. Curiosos, aqueles que ali esperavam a sentença de morte, para se extasiarem no espetáculo de sangue e impiedade, podiam ler: "ladrão", "adúltero", "caluniador", etc. Em síntese, suas próprias mazelas morais.
A expectativa crescia. Jesus se ergueu e percorreu com o olhar perscrutador a turba dos acusadores, que sentiram ser atingidos em sua intimidade, e disse tranquilamente: "Aquele dentre vós que estiver sem pecado, atire-lhe a primeira pedra."
Em silêncio, os circunstantes começaram a se afastar, um a um, começando pelos mais velhos, pois os mais velhos carregam consigo uma maior soma de enganos e problemas, remorsos e amarguras.
No meio da indecisão geral, Jesus voltou a traçar na areia sinais enigmáticos. Quando o silêncio se instalou, Ele se levantou. Ali estava a mulher, à espera de seu castigo. Se todos os demais haviam partido, ela deveria esperar d'Ele a sentença e a execução.
O Divino Pastor considerou a fragilidade do ser humano e, compadecido com suas misérias morais, disse-lhe: "Mulher, onde estão aqueles que te acusavam? Ninguém te condenou?"
"Ninguém, Senhor", ousou responder, com a voz embargada.
Então, em vez do sibilar mortífero das pedras, ela ouviu as palavras de perdão e de vida: "Nem eu tampouco te condeno: vai e não peques mais!"
O espírito Amélia Rodrigues, no livro "Pelos Caminhos de Jesus", relata que, naquela noite, a mulher que errara procurou o Mestre na residência que o acolhia. Ela falou da fraqueza que a dominara nos dias de sua mocidade, sentindo-se sozinha.
O esposo, poucos dias após o matrimônio, retomara as noitadas alegres e despreocupadas com os amigos. Ela, sentindo-se carente, cedera ao cerco do sedutor, que a brindava com atenção e pequenos mimos. Nada disso a desculpava, ela reconhecia. E agora, consumada a tragédia, para onde iria? O esposo não a aceitaria de volta, especialmente após o espetáculo público. Também não poderia contar com a proteção paterna, pois fora levada à execração pública, não tendo recebido simplesmente uma carta de repúdio, o que poderia ter servido até como indenização ao seu pai, já que o marido que assim procedesse deveria devolver uma parte do dote da noiva ao sogro. Não havia lugar para ela em Jerusalém. O que seria dela, sozinha e desprotegida?
O Mestre lhe acenou com horizontes de renovação, discorrendo sobre como a memória do povo é duradoura em relação às faltas alheias. Ela sentiu, nas entrelinhas, que deveria buscar outros lugares, paragens onde não a conhecessem, nem ao drama que acabara de viver.
Na despedida, Jesus a confortou: "Há sempre um lugar no rebanho do amor para as ovelhas que retornam e desejam avançar. Onde quer que vás, eu estarei contigo, e a luz da verdade, no archote do bem, brilhará à frente, clareando o teu caminho."
Dez anos se passaram, e ei-la em Tiro, em uma casa humilde, onde acolhe peregrinos cansados e enfermos desamparados. Ela erguera ali um refúgio de amor. Jamais esquecera daquele entardecer e da entrevista noturna.
Tornara-se uma divulgadora da Boa Nova. De seus lábios brotavam espontaneamente referências ao Doce Rabi, alentando as almas, enquanto cuidava das chagas dos corpos doentes.
Foi em um final de tarde que lhe trouxeram um homem à beira da morte. Ela o lavou e tratou-lhe as chagas. Deu-lhe caldo reconfortante e, tão logo percebeu que ele estava aliviado das dores, ofereceu-lhe uma mensagem de encorajamento, em nome de Jesus.
Emocionado, ele confessou que conhecera o Galileu em um infausto dia em Jerusalém. Odiara-O, então, porque Ele salvara a mulher que cometera adultério, sua esposa, mas não tivera para com ele, o ofendido, nenhuma palavra.
O tempo fez com que ele refletisse sobre como se equivocara em seu julgamento. Confessou que, há algum tempo, vinha buscando a companheira, procurando-a em muitos lugares, sem êxito. Até que a doença visitou seu corpo, consumindo-lhe as energias.
Embargada pelas emoções desenfreadas naquele momento, a mulher se recordou da praça e do diálogo à noite com o Mestre, um decênio antes, reconheceu o companheiro do passado e, sem dizer-lhe nada, segurou-lhe a mão suavemente e o consolou: "...Deus é amor, e Jesus, por isso mesmo, nunca está longe daqueles que O querem e buscam. Agora durma em paz enquanto eu velo, porquanto, nós ambos já O encontramos.