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quarta-feira, 5 de junho de 2019

A CANDEIA DEBAIXO DO ALQUEIRE

Na parábola da Candeia Jesus encoraja cada indivíduo a ser o arquiteto de sua própria evolução espiritual, enfatizando a importância da autotransformação moral. Este ensinamento convida-nos a refletir profundamente sobre nossa trajetória e responsabilidades, destacando que, em nossas mãos, está a capacidade de moldar nosso caráter e destino através da introspecção e do compromisso moral.

A parábola traz o seguinte texto em Lucas 8, 18 a 18: 


Ninguém, acendendo uma candeia, a cobre com um vaso, ou a coloca de baixo de um leito, mas coloca-a sobre o candeeiro para que os que entram vejam a luz. Porque não há algo escondido que não se torne manifesto, nem oculto que não venha a ser conhecido e manifesto. Vede, pois, como ouvis; pois quem tiver, a ele será dado, e quem não tiver, até o que parece ter será tirado dele.


A verdadeira essência da parábola da Candeia demanda uma análise minuciosa de cada versículo individualmente. Esse exercício de reflexão detalhada nos permite capturar e compreender plenamente a mensagem que Jesus desejava transmitir.

1-Ninguém, acendendo uma candeia, a cobre com algum vaso, ou a põe debaixo da cama; mas põe-na no velador, para que os que entram vejam a luz. 

Candeia era um instrumento essencial de iluminação durante a época de Jesus, alimentada por óleo e comumente encontrada em todas as residências. Era tradicionalmente posicionada em lugares elevados dentro das casas para garantir uma distribuição eficaz da luz no ambiente. 

Na parábola da candeia, Jesus utiliza esta simbologia para nos encorajar a uma introspecção profunda, buscando a iluminação de nosso íntimo. Ele nos alerta sobre as densas sombras internas que frequentemente originam atitudes, comportamentos, reações, pensamentos e palavras que podem surpreender e perturbar a própria pessoa que os manifesta. O Mestre nos convida a iluminar essas áreas obscuras de nossa psique para alcançarmos uma verdadeira transformação interior. 

Quantas vezes nos pegamos surpresos por nossos próprios pensamentos, permeados por sentimentos de rancor, inveja, ciúme, ódio ou desejo de vingança? Quantas vezes nos sentimos envergonhados por nossas próprias palavras, ações e comportamentos? Tais manifestações ocorrem porque o psiquismo humano encontra-se, muitas vezes, imerso em profundas sombras, reclamando  iluminação. Este acervo interno obscuro, em diversas ocasiões, se conecta com a espiritualidade de ordem inferior, conforme elucidado no Livro dos Espíritos. E, como destaca Emmanuel no livro "Pensamento e Vida", psicografado por Francisco Cândido Xavier, "todos nós somos capazes de captar as emissões mentais daqueles que pensam como nós". 

Por isso, o processo do autoconhecimento se faz urgente, sobretudo neste tempo de transição planetária. 

Na parábola, a candeia tem como fonte de combustível o óleo. Qual seria o combustível que pode gerar iluminação no campo íntimo, permitindo o ser iluminar suas densas sombras internas? 

Em João 8:32, Jesus nos oferece uma diretriz clarividente: "Conhecereis a verdade e ela vos libertará". 

A verdade é, portanto, o caminho capaz de libertar a criatura humana das próprias sombras internas, libertando-se, assim, de toda dor e sofrimento. Ela é o farol que nos guia, o combustível que ilumina nosso íntimo.

Mas, afinal, o que é a verdade? 

A pergunta foi feita pela primeira vez à Jesus pelo governador da Judeia, Pôncio Pilatos, há dois mil anos, conforme está no Evangelho de João 18, 38.  O Mestre, no entanto, fez silêncio a respeito. 

O espírito Humberto de Campo, no livro Lázaro Redivivo, capítulo 32, psicografia Chico Xavier, esclarece que o silêncio de Jesus à Pilatos se deu porque o conhecimento da Verdade não é um bem transmissível, não se pode conquistá-la por informações alheias, no caminho da vida. A verdade é uma realização pessoal e eterna, que deve ser construída e assimilada gradativamente dentro de cada ser, moldada e compreendida por meio das experiências, reflexões e, sobretudo, da consciência individual.

Se a verdade é o combustível que tem o potencial de iluminar e libertar a alma de suas trevas internas, pavimentando o caminho para o autoconhecimento, então surge a questão inevitável: como podemos alcançá-la? 

No Evangelho de João 14, 6,  Jesus afirma: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim". 

Ao confirmar sua conexão plena com Deus, Jesus nos indica que a verdadeira aproximação com o Pai ocorre por meio dele. Suas palavras e ensinamentos, consolidados em seu Evangelho de Amor, são como um farol para todas as almas que buscam esse estado de comunhão divina. O Evangelho, repleto de amor e sabedoria, é o combustível capaz de iluminar os corações e direcionar as almas rumo à verdadeira iluminação.

No entanto, é crucial entender que apenas o conhecimento superficial do Evangelho não basta. A simples leitura e memorização de seus versículos não garantem a transformação interior e a iluminação da alma. 

o adentrarmos nas páginas do livro "Renúncia", ditado pelo espírito Emmanuel e psicografado por Chico Xavier, somos conduzidos aos profundos ensinamentos de Alcione, a personagem central da narrativa. Ela destaca que o Evangelho de Jesus não é apenas um conjunto de palavras ou histórias, mas sim um vasto trajeto de ascensão espiritual. E, para trilhar esse caminho com verdadeira dedicação, não basta somente conhecer suas palavras, mas é essencial meditar sobre elas, sentir sua profundidade e, acima de tudo, vivenciar seus ensinamentos.

Seguindo a perspectiva de Alcione, podemos perceber que a jornada de autoiluminação se desenrola em etapas. A primeira é o conhecimento. Assim como uma candeia precisa ser acesa para iluminar a escuridão, o coração humano precisa do conhecimento do Evangelho para iluminar sua jornada espiritual. Ler e estudar as palavras de Jesus é mais do que um mero exercício intelectual; é o início da ignição interna que clareará todo o ser. Isso constitui o primeiro passo consciente em direção à evolução, o momento em que o indivíduo decide ativamente acender a luz de sua alma através da sabedoria contida nas mensagens evangélicas.

Por outro lado, não basta acender a candeia e colocá-la debaixo do leito, ofuscando-a. Apenas estudar os ensinamentos de Jesus, sem aplicá-los no cotidiano, é o mesmo que ofuscar a luz que foi acesa.

Para sustentar viva a chama da candeia em nosso íntimo, é essencial prosseguir na senda evolutiva que nos aproxima de Deus. É imprescindível, portanto, meditar sobre o conhecimento assimilado. Meditar significa aquietar a mente, permitindo que o ensinamento ressoe no coração. Trata-se de decifrar o texto e compreender sua relevância para a vivência cotidiana, questionando-se: "De que maneira posso incorporar em meu dia a dia o ensinamento de 'perdoar 70x7'? Como posso manifestar em minhas ações o mandamento 'amai-vos uns aos outros'? Como posso vivenciar o princípio de 'atire a primeira pedra quem estiver sem pecado', abstendo-me de julgar o próximo? De que forma posso abraçar as lições de auto-perdão, expressas nas palavras de Cristo 'Vai e não tornes a pecar'?" A lista é extensa, pois os ensinamentos de Jesus são inúmeros e cada um carrega profundas reflexões e orientações para nossa evolução espiritual

Meditar é refletir, visualizando a sua aplicação. 

Sentir e vivenciar o Evangelho exige esforço, disciplina, e uma imensa capacidade de persistência, porque são verbos que conjugam emoções e sentimentos. 

Não é nada fácil para espíritos habitantes de um mundo de provas e expiações, onde o mal prepondera, amar e desenvolver todas as demais virtudes, filhas do amor. Isso acontece porque, como espíritos ainda em processo de evolução, estamos habituados a sentimentos mais rudimentares ligados ao Ego, como egoísmo, rebeldia, orgulho, vaidade e outras imperfeições, ancoradas no interesse pessoal

No entanto, se Jesus veio ao mundo para exemplificar o amor, é sinal que humanidade está pronta para desenvolver esta virtude. Afinal, o amor também se aprende e se desenvolve com exercícios, como ensina o espírito Joana de Angelis, no livro Garimpos de Amor, página 14:

Eis por que é necessário aprender-se a amar, porquanto o amor também se aprende, aprimorando-se incessantemente. Esse aprendizado é feito através de treinamento, de exercícios repetitivos, no início sem muita convicção, para, de imediato, passar-se a senti-lo em forma de bem-estar e de harmonia íntima. 

Mas como exercitar as virtudes? 

Nos tempos atuais, graças a bondade imensa do Criador, a humanidade conta com variados recursos no campo das modernas terapias que auxiliam o ser na modulação de suas emoções, auxiliando-o no processo do autoconhecimento, caso entenda necessário. 

Jesus, em sua sabedoria infinita, nos ensinou que o amor pode ser exercitado e apreendido, conforme está em Mateus 7,12. Quando o ser humano faz aos outros tudo o que gostaria que lhe fosse feito e quando deixa de fazer aos outros o tudo que não gostaria que lhe fizessem, está conjugando o verbo amar. 

A autoiluminação é o convite expresso na Parábola da Candeia, permitindo ao ser evoluir de forma consciente, já que lhe permite ampliar sua visão íntima. Isso o capacita a reconhecer suas falhas morais para transformá-las, alinhando seu psiquismo ao modelo de Jesus.

"Brilhe a vossa luz diante dos homens!" Este é o convite de Jesus. No entanto, para que a luz interna brilhe, é necessário libertá-la das sombras que a encobrem. 

Jesus destaca na Parábola e esclarece que o processo de autoiluminação amplia a compreensão interna do ser no âmbito dos sentimentos e emoções, levando-o ao autoconhecimento

2- Porque não há coisa oculta que não haja de manifestar-se, nem escondida que não haja de saber-se e vir à luz. 

Quando praticamos o autoconhecimento por meio da introspecção, nossas imperfeições morais, nossos sentimentos egoístas e nossas ilusões vão, gradualmente, se tornando evidentes. À medida que trazemos à consciência nossos conflitos e dificuldades internas, torna-se imprescindível aceitarmo-nos, pois possuir imperfeições é próprio da condição humana. Somos espíritos ainda imperfeitos em aprendizado constante. Por isso, devemos trabalhar, com muita paciência, para atenuar as falhas morais identificadas, até que desapareçam por completo. Não devemos negá-las, reprimi-las ou mascará-las, mas aceitá-las, numa postura de quem reconhece estar em processo de construção íntima, guiado por Jesus. 

E, conclui, o Mestre Jesus:

 3- Vede, pois, como ouvis; porque a qualquer que tiver lhe será dado, e a qualquer que não tiver até o que parece ter lhe será tirado.

 Ao nos movimentarmos em direção ao autoconhecimento, trazendo à luz sentimentos grosseiros que estavam ocultos e trabalhando pela sua transformação, mais nos será concedido em termos de força, bênçãos e visão íntima, permitindo-nos prosseguir em nossa jornada de iluminação.

O processo de autoconhecimento nos permite descortinar pseudo-virtudes e falsas manifestações de bondade, humildade e amor, que servem apenas para mascarar nossas verdadeiras imperfeições. Por isso, Jesus diz: “aquilo que parece ter lhe será tirado" – referindo-se às pseudo-virtudes que a pessoa adota para parecer algo que não é, sugerindo que, no processo de evolução consciente, o ser humano, com clareza, desvitaliza as suas próprias máscaras.

O processo de evolução consciente, que leva a conquista da transformação moral, por meio do autoconhecimento, é gradativo, longo e bastante difícil, mas é o único caminho que nos libertará de todo sofrimento e de toda dor. 

Vinde a mim, todos vós que sofreis, e eu vos aliviarei." O caminho que nos conduz a Jesus começa com o entendimento de seu Evangelho de Amor. Ao refletirmos e aplicarmos seus ensinamentos, somos convidados a vivenciá-los em sua plenitude. Apenas ao incorporarmos verdadeiramente a mensagem de Jesus é que chegaremos até Ele, encontrando alívio e uma felicidade genuína. O percurso é árduo, mas tenhamos coragem. É possível triunfar!






terça-feira, 19 de setembro de 2017

A PORTA ESTREITA



Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela (Mateus 7:13)


Na época de Jesus, o povo da Palestina, embora moralmente endurecido, mantinha uma forte adesão e compromisso com os preceitos religiosos presentes na Torá.

Devido a essa orientação, os judeus demonstravam uma profunda reverência pela cidade de Jerusalém, a capital religiosa do judaísmo, considerada sagrada e divina. Isso ocorria principalmente porque lá se encontrava construído o único templo onde eles deveriam adorar a Deus.

Nas datas religiosas, os judeus de toda a Palestina deixavam suas cidades e peregrinavam até a cidade sagrada de Jerusalém para celebrar as festas no templo.

Naquela época, as cidades importantes eram fortificadas e cercadas por altos muros, destinados à sua defesa. O acesso às cidades era possível apenas através de portas ou portões. 

Em Jerusalém, existiam doze portas, cada uma com um propósito específico. Havia uma porta pela qual o lixo da cidade era retirado, a porta central que era utilizada pelos peregrinos em dias de festa, uma porta pela qual os produtos eram trazidos para serem comercializados e, além destas, havia também a porta através da qual as ovelhas eram conduzidas para serem sacrificadas.

Naquela época, os judeus praticavam o sacrifício de animais como uma forma de expressar adoração a Deus. Como muitos judeus eram pastores de ovelhas, eles frequentemente utilizavam esses animais nos rituais sagrados. Durante os dias de festas religiosas, a venda de animais para sacrifício era abundante nas proximidades das portas da cidade.

Os animais destinados ao sacrifício só podiam entrar na cidade por uma porta específica, conhecida como a Porta das Ovelhas ou a Porta do Sacrifício. Essa porta permitia acesso direto à área posterior do templo e era estreita e pequena, tornando difícil a passagem de pessoas. 

Jesus, então, utiliza a simbologia presente na imagem da Porta das Ovelhas, que era estreita e reservada para o sacrifício, para transmitir ensinamentos sobre o processo de transformação moral. 

A porta é um elemento que define a fronteira entre dois espaços e possibilita a passagem de um para outro lado. Ninguém pode transpor uma porta sem se colocar em movimento. 

A reforma íntima é um processo individual que requer que as forças da alma sejam postas em movimento, permitindo abandonar um estágio evolutivo para ascender a outro.

Jesus frequentemente incentivava esse movimento com a frase: "Vai e não peques mais..." 

A porta, simbolicamente usada na lição, possui uma característica peculiar: é estreita. Para atravessá-la, é necessário percorrer o caminho do sacrifício. 

O caminho da transformação moral é estreito e requer sacrifícios, o que faz com que poucos sejam capazes de percorrê-lo. Isso ocorre porque o processo de transformação moral exige a constante disciplina, a renúncia e o desapego.

Para os espíritos que estão acomodados em suas atitudes, a tarefa da reforma íntima parece pesarosa. No entanto, para aqueles que têm boa vontade, esse caminho se torna um roteiro de vida.  

A Terra é um planeta de provas e expiações, e, por isso, oferece aos seus habitantes inúmeras portas largas, que acessam o mundo exterior das ilusões e das seduções, verdadeiras possibilidades de se adensar as próprias imperfeições morais, como o orgulho, vaidade, egoísmo, viciações, hábitos equivocados etc.

A porta estreita, por outro lado, leva ao caminho da plenitude. 

No entanto, para atravessá-la, é essencial possuir a disposição de olhar para dentro de si mesmo, mantendo a prática constante da oração e da vigilância.

O hábito contínuo da oração eleva o nível de vibração espiritual e estabelece uma conexão com esferas mais elevadas, das quais emanam as melhores inspirações para exercer o livre-arbítrio. Além disso, essa prática expande a visão interior, permitindo que o indivíduo identifique as dificuldades internas que carrega na alma. 

Além da oração, é fundamental exercer a vigilância sobre os pensamentos, palavras e sentimentos, uma vez que o que é expresso por meio das palavras, emoções e sentimentos oferece uma melhor compreensão de si mesmo.

A oração e a vigilância são caminhos que facilitam o processo de autoconhecimento. Sem esse autoconhecimento, a pessoa tende a agir sob a influência de sua natureza inferior, suas sombras e conteúdos psíquicos mais densos. A partir disso, a passagem pela porta larga se torna uma questão de oportunidade. 

O percurso do autoconhecimento, apesar de desafiador, é o único capaz de guiar o ser humano em direção à felicidade e à perfeição espiritual. Sem a dedicação à renúncia, à superação do interesse pessoal e ao desapego, que são parte integrante do processo do autoconhecimento, é inviável atravessar a porta que, embora estreita, conduz a um novo horizonte - o horizonte da liberdade.