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segunda-feira, 30 de setembro de 2019

CONCILIA-TE COM TEU ADVERSÁRIO

   

Concilia-te depressa com teu adversário, enquanto estás a caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão. Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil. Mateus 5,25.


De acordo com o dicionário padrão, adversário é definido como o antagonista, opositor, aquele que se opõe. Conciliar, por sua vez, consiste em entrar em acordo com; pôr ou ficar em paz.

O texto destacado traduz um convite de Jesus à pacificação com os adversários como medida terapêutica para a obtenção de saúde mental, emocional e espiritual

Obviamente, os adversários mencionados no texto não se referem apenas às pessoas com quem se criou inimizades devido a contendas, mas também representam os sentimentos e pensamentos negativos que residem na intimidade do ser, do espírito imortal.

No capítulo 05 do livro 'Ceifa de Luz', na mensagem 'A lição da espada', Emmanuel afirma que os inimigos de nossa paz estão ocultos em nosso próprio eu, manifestando-se como orgulho, intemperança, egoísmo e animalidade.

Por sua vez, Joanna de Angelis, ao analisar a mesma mensagem no livro 'Triunfo Pessoal', conclui que os adversários aos quais Jesus se referia correspondem aos pensamentos, sentimentos e comportamentos negativos que mantemos e alimentamos.

Todavia, o contato com os adversários na intimidade do ser exige um mergulho profundo na alma, alcançado através do autoconhecimento. A literatura oferece uma variedade de técnicas voltadas a esse fim, dentre as quais se destaca a auto-observação. 

Esta prática consiste em observar os próprios pensamentos, sentimentos e comportamentos, abstendo-se de qualquer julgamento ou autocrítica. Trata-se de um exercício de pura observação, similar ao recomendado em práticas de meditação.

O processo de auto-observação não é simples nem sempre agradável, pois demanda disciplina e determinação. Muitas vezes, quando o observador se depara com suas próprias dificuldades morais, que antes acreditava não possuir, surge a tentação de desistir da experiência. 

É natural que, à medida que a auto-observação se aprofunda e as imperfeições morais vêm à tona, surjam sentimentos de vergonha e autocrítica. Contudo, é vital recordar que a Terra é vista como um planeta de provas e expiações, povoado por espíritos ainda em aprendizado, onde o mal tem grande presença. Diante disso, torna-se claro que todos os seus habitantes carregam, em alguma medida, imperfeições de ordem espiritual.

Diante dessa realidade, não há motivo para cultivar sentimentos de vergonha ao reconhecermos nossas fraquezas morais, já que todos nós as temos em variados graus. O reconhecimento dessas falhas é essencial para o crescimento espiritual: ele nos permite um entendimento mais profundo de nós mesmos e nos incentiva a trabalhar para superar tais imperfeições, em busca da evolução pessoal. O crucial é ver essas imperfeições como chances de aprendizado e transformação, e não como motivos para vergonha.

Jesus orientou que oremos uns pelos outros, pois estamos todos na mesma faixa vibratória. Aceitar-se como um espírito ainda em evolução, encarnado em um mundo de provas e expiações, é uma atitude humilde, que evidencia a consciência de nossa condição humana e a compreensão de que somos meros  aprendizes na jornada da vida.

Contudo, o perigo se encontra em negar as imperfeições morais que identificamos em nossa essência. Tal atitude impede qualquer possibilidade de pacificação, como Jesus nos orientou.  Afinal, como é possível promover a paz com adversários internos quando negamos sua existência?

Muitos conflitos psicológicos surgem devido à falta de aceitação das próprias imperfeições, as quais não deixam de existir apenas porque foram negadas. Pelo contrário, quando ignoradas, essas imperfeições tendem a se manifestar nos pensamentos, ações e sentimentos, sem que haja controle consciente sobre elas.

A menção à prisão no texto simboliza a condição daqueles que se tornam prisioneiros de suas próprias emoções e imperfeições, perdendo o controle sobre suas vidas. Todas as suas escolhas, ações, pensamentos e decisões são influenciados pelas imperfeições morais que foram reprimidas, negadas.

Na mensagem, o preço da liberdade é simbolizado pelo ceitil, um montante monetário de pouca importância. De forma simbólica, Jesus nos ensina que um simples impulso da alma, uma pequena reflexão, é o suficiente para libertar alguém das amarras que ele mesmo criou por conta de sua ignorância.

Neste sentido, a questão 909, do Livro dos Espíritos, lança luz sobre o tema.

"Concilia-te com teus adversários". Eis a terapêutica para nossos conflitos internos.

Conciliar-se implica em buscar um entendimento ou acordo de paz com nossas inquietações interiores. O Mestre não sugere que eliminemos completamente nossos adversários, isto é, nossas imperfeições morais. Ele jamais nos pediria algo além de nossa capacidade. Devemos entender que a transformação moral é um processo contínuo que se desenrola ao longo de séculos.

No livro 'Sementeira de Luz', capítulo 30, psicografado por Chico Xavier, o espírito Neio Lúcio ensina que a purificação dos sentimentos ocorre apenas no extenso e por vezes doloroso decorrer dos séculos. É através do ciclo contínuo de múltiplas vidas que conseguimos eliminar nossos defeitos e desenvolver as mais elevadas qualidades do espírito. Portanto, é essencial manter o trabalho constante na busca pela evolução espiritual. E neste contexto, a mensagem de Jesus é de profunda sabedoria e cura: 'Concilia-te!'

Na parábola da Torre Inacabada, Lucas 14, 31-32, Jesus faz o mesmo convite, alertando-nos sobre a impossibilidade de se estabelecer um confronto entre o EU divino (SELF) e o EGO.

Ensina Jesus: "Qual é o rei que, indo à guerra a pelejar contra outro rei, não se assenta primeiro a tomar conselho sobre se com dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil? De outra maneira, estando o outro ainda longe, manda embaixadores, e pede condições de paz".

Diante dos conflitos internos entre o SEF o EGO, a mensagem é clara: devemos reconhecer nossas limitações e buscar a reconciliação interna. Em vez de permitir que esses dois aspectos do ser entrem em conflito direto, é mais sábio buscar o entendimento e a harmonia, assim como um rei que, percebendo sua desvantagem, busca condições de paz antes do confronto

Conciliar significa não entrar em conflito com os próprios defeitos morais, mas sim mantê-los sob controle, evitando que se manifestem de maneira a causar dano aos outros. 

Segundo o 'Livro dos Espíritos', na questão 893, aqueles que conseguem adotar tal postura já alcançaram uma virtuosa conquista. 

Allan Kardec, em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", capítulo XVII, acrescenta: "Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más".

O verdadeiro espírita é aquele que se esforça para dominar as más inclinações. E, dominando-se, transforma-se.

Conciliar com os adversários é manejar os recursos da alma a fim de diminuir, pouco a pouco, a manifestação das imperfeições morais no pensamento, nas escolhas e no comportamento perante a vida. E, neste manejo, sem dúvida alguma, o êxito será resultado de inúmeras tentativas.

Por isso, Jesus nos pede para perseverar, jamais desistir (Mateus 24:13).

Emmanuel, no livro "Pão Nosso", capítulo 36, expressa: 

"Muita gente se desanima e prefere estacionar, séculos a fio, nos labirintos da inferioridade; todavia, os bons trabalhadores sabem perseverar, até atingirem as finalidades divinas do caminho terrestre, continuando em trajetória sublime para a perfeição.".










sábado, 7 de fevereiro de 2015

AMAR OS INIMIGOS












Se o amor ao próximo constitui o princípio da caridade, o amor aos inimigos é a mais sublime aplicação desse princípio, pois a aquisição dessa virtude representa uma das maiores vitórias alcançadas contra o egoísmo e o orgulho.

No entanto, a tarefa é de difícil realização. Talvez nenhum ensinamento de Jesus seja tão difícil de ser seguido quanto o mandamento "amai os vossos inimigos". Há mesmo quem, sinceramente, julgue impossível colocá-lo em prática. Consideramos fácil amar quem nos ama, mas nunca aqueles que, aberta ou insidiosamente, procuram nos prejudicar.

Já sabemos que o próximo é todo aquele que está ou se coloca à nossa volta. Mas e o inimigo? Quem é o inimigo? No dicionário Aurélio, encontramos o seguinte conceito, dentre outros: inimigos são aqueles que nos fizeram algum mal. Pessoa nociva.

Jesus, aparentemente, pede para amarmos aqueles que nos fizeram mal. Como podemos sentir afeição por alguém cujo intento é nos esmagar ou colocar inúmeros e perigosos obstáculos em nosso caminho? Como podemos gostar de quem ameaça os nossos filhos ou assalta as nossas casas?

Quando Jesus disse: "Amai os vossos inimigos", Ele não ignorava a dificuldade dessa imposição e conhecia bem o significado de cada uma das suas palavras. A responsabilidade que nos cabe, como cristãos, é descobrir o significado desse mandamento e procurar vivê-lo durante toda a nossa vida.

"O Evangelho Segundo o Espiritismo", ao tratar do tema, esclarece que há um equívoco no tocante ao sentido da palavra amar. Jesus, ao falar assim, não pretendeu que cada um de nós tenha para com o seu inimigo a ternura que dispensa a um irmão ou amigo. A ternura pressupõe confiança. Ora, ninguém pode depositar confiança numa pessoa, sabendo que ela lhe quer mal; ninguém pode ter para com ela um sentimento de amizade, sabendo-a capaz de abusar dessa atitude.

Entre pessoas que desconfiam umas das outras, não pode haver essas manifestações de simpatia que existem entre as que comungam das mesmas ideias. Enfim, ninguém pode sentir, ao estar com um inimigo, prazer igual ao que sente na companhia de um amigo.

Além disso, a repulsa que naturalmente se sente na presença de um inimigo resulta mesmo de uma lei da física: a lei da assimilação e da repulsão dos fluidos. Sabemos que o pensamento malévolo determina uma corrente fluídica que impressiona penosamente. O pensamento benévolo nos envolve num agradável eflúvio. Daí a diferença das sensações que se experimenta à aproximação de um amigo ou de um inimigo. Amar os inimigos não significa que não podemos fazer diferença alguma entre eles e os amigos.

Amar os inimigos não é ir ao encontro deles, abraçá-los e beijá-los. Isso é tarefa para os milênios futuros. Amar os nossos inimigos, se os tivermos, ainda que supostamente gratuitos, é jamais lhes guardar ódio, é perdoá-los sem pensamentos ou intenções ocultas, é nunca lhes opor obstáculo à reconciliação, desejando-lhes sempre o bem e até vibrando de contentamento, quando formos informados de um grande bem que lhes advenha; numa palavra, não guardar contra eles qualquer ressentimento.

Sempre que nos surpreendermos na emissão natural ou espontânea de um pensamento de amor, em favor de alguém que haja procedido mal para conosco, recolheremos o testemunho de um coração em processo de espiritualização.

Diante de um mal que alguém nos faça, deixar de pensar em vingança, deixar de nutrir ódio e ressentimento, trabalhar os sentimentos para vencer a dor que o mal nos causou, significa cumprir o apostolado do Cristo. Quem age assim está amando o inimigo, conforme nos ensinou Jesus.

São muitos os que dizem trazer Jesus no coração, mas isso não basta. É preciso colocar Jesus em nosso comportamento e retribuir o mal com o bem. E Ele disse ainda: "Não resistais ao mal que vos queiram fazer; se alguém vos bater numa face, apresentai-lhe a outra."

É claro que este preceito não deve também ser interpretado literalmente. O próprio instinto de conservação, que é uma lei da natureza, obsta que alguém estenda o pescoço ao assassino. Ao enunciar aquela máxima, Jesus não pretendeu proibir o ato de defesa, mas condenar a vingança. Quando disse para darmos a outra face àquele que nos haja batido numa, quis dizer, na verdade, que não se deve pagar o mal com o mal; que o homem deve aceitar com humildade tudo o que seja de molde a lhe abater o orgulho; que maior glória terá ao ser ofendido do que ofender, que mais felicidade terá ao suportar pacientemente uma injustiça do que de praticar alguma; que mais vale ser enganado do que enganar, ser arruinado do que arruinar os outros