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terça-feira, 19 de setembro de 2017

A PORTA ESTREITA



Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela (Mateus 7:13)


Na época de Jesus, o povo da Palestina, embora moralmente endurecido, mantinha uma forte adesão e compromisso com os preceitos religiosos presentes na Torá.

Devido a essa orientação, os judeus demonstravam uma profunda reverência pela cidade de Jerusalém, a capital religiosa do judaísmo, considerada sagrada e divina. Isso ocorria principalmente porque lá se encontrava construído o único templo onde eles deveriam adorar a Deus.

Nas datas religiosas, os judeus de toda a Palestina deixavam suas cidades e peregrinavam até a cidade sagrada de Jerusalém para celebrar as festas no templo.

Naquela época, as cidades importantes eram fortificadas e cercadas por altos muros, destinados à sua defesa. O acesso às cidades era possível apenas através de portas ou portões. 

Em Jerusalém, existiam doze portas, cada uma com um propósito específico. Havia uma porta pela qual o lixo da cidade era retirado, a porta central que era utilizada pelos peregrinos em dias de festa, uma porta pela qual os produtos eram trazidos para serem comercializados e, além destas, havia também a porta através da qual as ovelhas eram conduzidas para serem sacrificadas.

Naquela época, os judeus praticavam o sacrifício de animais como uma forma de expressar adoração a Deus. Como muitos judeus eram pastores de ovelhas, eles frequentemente utilizavam esses animais nos rituais sagrados. Durante os dias de festas religiosas, a venda de animais para sacrifício era abundante nas proximidades das portas da cidade.

Os animais destinados ao sacrifício só podiam entrar na cidade por uma porta específica, conhecida como a Porta das Ovelhas ou a Porta do Sacrifício. Essa porta permitia acesso direto à área posterior do templo e era estreita e pequena, tornando difícil a passagem de pessoas. 

Jesus, então, utiliza a simbologia presente na imagem da Porta das Ovelhas, que era estreita e reservada para o sacrifício, para transmitir ensinamentos sobre o processo de transformação moral. 

A porta é um elemento que define a fronteira entre dois espaços e possibilita a passagem de um para outro lado. Ninguém pode transpor uma porta sem se colocar em movimento. 

A reforma íntima é um processo individual que requer que as forças da alma sejam postas em movimento, permitindo abandonar um estágio evolutivo para ascender a outro.

Jesus frequentemente incentivava esse movimento com a frase: "Vai e não peques mais..." 

A porta, simbolicamente usada na lição, possui uma característica peculiar: é estreita. Para atravessá-la, é necessário percorrer o caminho do sacrifício. 

O caminho da transformação moral é estreito e requer sacrifícios, o que faz com que poucos sejam capazes de percorrê-lo. Isso ocorre porque o processo de transformação moral exige a constante disciplina, a renúncia e o desapego.

Para os espíritos que estão acomodados em suas atitudes, a tarefa da reforma íntima parece pesarosa. No entanto, para aqueles que têm boa vontade, esse caminho se torna um roteiro de vida.  

A Terra é um planeta de provas e expiações, e, por isso, oferece aos seus habitantes inúmeras portas largas, que acessam o mundo exterior das ilusões e das seduções, verdadeiras possibilidades de se adensar as próprias imperfeições morais, como o orgulho, vaidade, egoísmo, viciações, hábitos equivocados etc.

A porta estreita, por outro lado, leva ao caminho da plenitude. 

No entanto, para atravessá-la, é essencial possuir a disposição de olhar para dentro de si mesmo, mantendo a prática constante da oração e da vigilância.

O hábito contínuo da oração eleva o nível de vibração espiritual e estabelece uma conexão com esferas mais elevadas, das quais emanam as melhores inspirações para exercer o livre-arbítrio. Além disso, essa prática expande a visão interior, permitindo que o indivíduo identifique as dificuldades internas que carrega na alma. 

Além da oração, é fundamental exercer a vigilância sobre os pensamentos, palavras e sentimentos, uma vez que o que é expresso por meio das palavras, emoções e sentimentos oferece uma melhor compreensão de si mesmo.

A oração e a vigilância são caminhos que facilitam o processo de autoconhecimento. Sem esse autoconhecimento, a pessoa tende a agir sob a influência de sua natureza inferior, suas sombras e conteúdos psíquicos mais densos. A partir disso, a passagem pela porta larga se torna uma questão de oportunidade. 

O percurso do autoconhecimento, apesar de desafiador, é o único capaz de guiar o ser humano em direção à felicidade e à perfeição espiritual. Sem a dedicação à renúncia, à superação do interesse pessoal e ao desapego, que são parte integrante do processo do autoconhecimento, é inviável atravessar a porta que, embora estreita, conduz a um novo horizonte - o horizonte da liberdade.