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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

DOR E SOFRIMENTO



Por que sofremos? Por que, às vezes, as crianças desde tenra idade, inclusive recém-nascidas, parecem carregar consigo um destino de sofrimento? Por que tanto a natureza quanto os animais sofrem? Jesus nos ensinou que o amor é a lei do Universo e que foi por amor que Deus criou todos os seres. Então, por que ainda sofremos?
A pergunta levanta um problema angustiante que pode levar ao pessimismo e à dúvida sobre a existência de Deus. No entanto, o espiritismo surge como uma resposta para as inquietações mais profundas da alma humana, incluindo o problema da dor e do sofrimento.
No capítulo V do livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo", no item 2, os Espíritos que colaboraram na codificação do Espiritismo esclarecem que a consolação para todos os sofrimentos está fundamentada na fé inabalável e na confiança na Justiça Divina.
Diante dessa revelação, é crucial compreender o significado de ter uma fé inabalável no futuro e confiar na Justiça de Deus. Esses dois elementos se apresentam como faróis capazes de iluminar a compreensão humana sobre a razão da dor e do sofrimento no mundo.
A fé no futuro está relacionada à certeza da existência das múltiplas reencarnações da alma humana. Essa compreensão nos permite adotar um olhar sereno em relação aos nossos erros, sem cultivar uma consciência de culpa que pode corroer a alma e desencadear diversas enfermidades.
A fé inabalável no futuro nos permite compreender que a reparação dos nossos equívocos é possível, tanto nesta vida atual quanto em futuras existências. 
O correto entendimento da fé no futuro e na justiça divina amplia nossa visão íntima, permitindo-nos compreender nossa condição de espíritos imperfeitos, obras inacabadas de Deus. Essa compreensão nos leva a reconhecer que somos seres suscetíveis à ação de instrumentos necessários para nosso aprimoramento contínuo como seres eternos.
A dor é um dos instrumentos modeladores da alma humana, conforme ensinado por Jesus: "Bem-aventurados os aflitos, pois serão consolados."
A confiança na Justiça de Deus é uma conquista do espírito quando ele compreende que Deus não é um ser vingador que castiga as criaturas pecadoras, mas um Pai Amoroso que educa Seus filhos.
 Por isso, a ideia de castigo divino é uma criação humana. Deus não pune nem castiga, mas educa de acordo com a Lei de Justiça, Amor e Caridade que permeia todo o infinito universo.
Allan Kardec, em seu estudo sobre o sofrimento, no livro "O Espiritismo em sua Expressão Mais Simples", esclarece que além da função educativa, o sofrimento também pode ter a função de cura. Diz o texto:
"As aflições na Terra são os remédios da alma; elas salvam para o futuro, assim como uma operação cirúrgica dolorosa salva a vida de um doente e lhe restitui a saúde."
O médium inesquecível Francisco Cândido Xavier recebeu várias mensagens do mundo espiritual esclarecendo que a dor e o sofrimento são instrumentos que atuam na alma humana com a função de educar, curar e despertar o ser para sua verdadeira realidade espiritual.
A dor e o sofrimento, depois do amor, são forças capazes de transformar profundamente o mundo íntimo da criatura humana. Tanto é assim que inúmeras pessoas mudaram completamente suas vidas após passarem por sofrimentos dignamente suportados.
No capítulo 19 do best-seller "Nosso Lar", o benfeitor espiritual Druso, que é um instrutor na colônia espiritual com o mesmo nome, esclarece que a dor é um ingrediente crucial na economia da vida em expansão. Ele classifica a dor em três categorias.
1   Dor evolução: é a dor que impulsiona o ser em direção ao futuro, buscando seu aprimoramento de acordo com a lei do progresso, e é por isso que se manifesta em todos os seres vivos. Isso também se aplica ao ser humano em suas sucessivas reencarnações. Se a alma vivesse livre de aflições desde suas primeiras experiências na Terra, ela permaneceria inerte, passiva e ignorante das verdades profundas e das forças morais latentes em seu interior. A dor evolução são, portanto, experiencias dolorosas que levam o ser humano a aprimorar a inteligência, completa León Denis, no livro O Problema do ser, do destino e da dor.
Dor-expiação: relaciona-se com o passado espiritual, marcando o ser humano no caminho dos séculos, resgatando-o dos erros cometidos para regenerá-lo perante a Justiça Divina. Decorre do mau uso do livre arbítrio contra si mesmo ou lesando os outros. É na luta do presente que corrigimos as lutas de ontem. 
Dor auxílio: manifesta-se no presente. São provas que enfrentamos sem qualquer relação com nossos enganos praticados no passado. A dor auxílio tem a finalidade de limitar nossas ações por meio de enfermidades prolongadas e dolorosas, com o objetivo evitar que nos endividemos mais. Tem também a finalidade de preparar o ser para a desencarnação.
Pode-se dizer, assim, que a dor evolução aprimora o ser para o futuro, a dor expiação resgata o ser de seu passado, e, a dor auxílio fortalece e prepara o ser para o presente.
É importante ressaltar que o "Evangelho Segundo o Espiritismo" esclarece que nem toda dor e sofrimento são necessariamente resultado da aplicação direta da Justiça Divina.
Há dores e sofrimentos que são  decorrência natural do mal que impera em mundos primitivos e em mundos de provas e expiações.  Há outras, ainda, que estão relacionadas às necessidades da criatura humana na atual existência, sem qualquer vínculo com provas ou expiações.
Neste sentido, recomenda-se a leitura do texto em João 9:1-3, que relata o encontro de Jesus com o cego de nascença. Além disso, sugere-se a leitura do livro "Missionários da Luz", especificamente o capítulo 12, escrito por Francisco Cândido Xavier. Essas fontes proporcionarão insights e reflexões sobre o tema abordado.
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Não basta sofrer simplesmente para acender à glória espiritual. Indispensável é saber sofrer, extraindo as bênçãos de luz que a dor oferece ao coração sequioso de paz. Emmanuel, Vinha de Luz, cap. 80




quinta-feira, 14 de julho de 2016

REFLEXÃO SOBRE A MORTE

Com o surgimento do Espiritismo há mais de duzentos anos, o fenômeno da morte foi amplamente desmistificado. No entanto, o medo da morte ainda persiste, especialmente em relação ao momento em que ocorre.

Obras como "O Céu e o Inferno" de Allan Kardec e diversas outras psicografadas por Chico Xavier destacam que a experiência da morte varia de pessoa para pessoa. Essas variações dependem do grau de apego à matéria que o desencarnante possui. O estado moral da alma é o principal fator que determina a facilidade ou dificuldade desse desprendimento.

Segundo o livro "O Céu e o Inferno", a afinidade entre o corpo e o perispírito é proporcional ao apego à matéria. Nas almas mais elevadas, que já se identificam com a vida espiritual, esse apego é quase nulo. Portanto, a qualidade do desprendimento depende do grau de pureza e desmaterialização da alma.

O "Livro dos Espíritos" também oferece orientações valiosas, especialmente em sua parte introdutória. Ele afirma que o mundo espiritual é o mundo verdadeiro e eterno, enquanto o mundo físico é secundário. O apego excessivo ao material torna o desprendimento no momento da morte mais difícil.

Emmanuel, através da psicografia de Chico Xavier no livro "Caminho, Verdade e Vida", alerta que tudo que é material está morto ou vai morrer. Portanto, buscar felicidade nas coisas do mundo é ilusório.

O ser humano pode ser considerado materialista dependendo do foco que dá às atividades do mundo material em detrimento do seu "eu interior". Embora a vida terrena exija atenção ao mundo material, negligenciar a autotransformação moral é um erro que pode levar a experiências desagradáveis no momento da morte.

Jesus, em Mateus 8:22, e o apóstolo Paulo em suas epístolas, também alertam sobre os perigos do materialismo. Muitas pessoas vivem no mundo físico como se estivessem "mortas" para a realidade espiritual, o que pode levar a surpresas dolorosas no momento da morte.

O maior desafio do ser encarnado é viver no mundo físico sem esquecer sua natureza espiritual eterna. O autoconhecimento e a reforma íntima são objetivos evolutivos que devem ser perseguidos durante a vida terrena. A morte do corpo físico é inevitável, mas a qualidade dessa transição depende de cada um.

domingo, 14 de dezembro de 2014

O NATAL DE JESUS


O final do ano, especialmente o mês de dezembro, quando as luzes da cidade de tornam coloridas com os enfeites natalinos, nossa intimidade é impregnada com um pensamento profundo sobre o natal. 

O natal é uma festa em comemoração ao nascimento de Jesus.

 No entanto, a data correta do nascimento do Mestre encontra-se permeada por muitas discussões, porque os historiadores não se reportam a esse fato, existindo apenas especulações diversas a respeito do seu nascimento.

É incontroverso o fato de Jesus Cristo não ter nascido no dia 25 de dezembro, como não se tem ideia do mês em que Ele nasceu. Não há registro dessa informação, porque Ele era filho de um carpinteiro e de uma tecelã, gente do povo, e ninguém tinha interesse em fazer seu registro. Naqueles tempos, em Israel, apenas as crianças do sexo masculino eram registradas e, mesmo assim, a partir dos 14 anos de idade. As mulheres não eram contadas no censo.

Sabe-se, por outro lado, que Jesus Cristo nasceu em um período que, segundo as tradições, estavam ocorrendo o censo naquelas regiões. Por isso, José foi com sua esposa, Maria, para atender ao censo e nessa viagem teria nascido Jesus.

Para nós cristãos pouco importa a data em que Jesus nasceu, o que importa para nós é que Ele veio, e veio trazer lições luminosas, bênçãos do céu mais alto.

Mas como é que surgiu essa questão do 25 de dezembro, dos brilhos nas ruas, das árvores natalinas, da mesa farta? Como é que tudo isso surgiu?

Recorrendo a história, é possível registrar que o cristianismo foi oficialmente declarado religião do povo romano pelo imperador Constantino.

Conta-se que o imperador Constantino Magno enfrentou o General Maxêncio, seu rival no trono de Roma, tendo vencido a batalha guiado por vozes e sinais que apareceram no céu, como uma cruz luminosíssima que lhe apareceu em pleno céu azul de Roma, chegando a ofuscar o brilho do sol do meio dia.

Ao ver essa cruz, sinalizada em pleno céu do meio dia, Constantino leu no pé da cruz uma legenda importante que dizia “com esse sinal venceras”. Então, fortalecido, ele avança contra o general Maxencio, derrota-o e chega vitorioso em Roma.

É preciso lembrar que os cristãos tinham como simbologia de sua crença o peixe. Mas, após o martírio de Jesus, o símbolo dos cristãos passou a ser a cruz. Daí porque Constantino entendeu que, a cruz que lhe aparecera no céu, era um sinal de que o Deus dos cristãos o conduzia naquela batalha. Então, ele passou a atribuir a sua vitória a Jesus Cristo.

Desta forma, Constantino determinou, por decreto, que Jesus Cristo seria o novo senhor de Roma, deixando para traz a tradição de Júpiter Capitolino. Não seria mais Júpiter o grande deus Romano, seria agora Jesus de Nazaré.

Mas quem era Jesus? Era um homem sem uma genealogia expressiva, não era filho de nenhuma divindade, não viera do Olimpo, não viera dos campos Elíseos. Quem era Jesus de Nazaré? Filho de um carpinteiro e de uma tecelã, nascido na JUDEIA. Como entender que esse indivíduo, sem uma estrutura de nobreza, transformar-se-ia no grande senhor de Roma? Mas era decreto. E o povo passou a respeitar o decreto, mas no coração não guardavam Jesus, pois não há como alterar a psicologia de um grupo social através de um documento. As pessoas aceitam por fora, mas não aceitam por dentro, e é dessa maneira que Jesus Cristo foi alçado à condição de deus romano.

Para conferir a Jesus as feições de um deus digno de ser amado pelos romanos, o imperador Constantino requisitou os mais notáveis artistas romanos e de outras partes da Europa, para que pudessem criar uma imagem capaz de representar Jesus, porque ninguém sabia como ela era, não havia retratos à espoca.

Os artistas, a partir das descrições dos cristãos e de pessoas que tivessem conhecido alguém que conheceu Jesus, começaram a elaborar. Por isso é que hoje todas as imagens que tentam representar Jesus Cristo Judeu, há uma imagem europeia. Todas as feições de Cristo que encontramos na pintura, nas artes, são feições de um modelo europeu, desde os olhos, o cabelo, a cor da pele, os traços físicos, são de europeu.

A humanidade cristã se acostumou com esse modelo, com esse padrão europeu, e a partir daí começa um grande problema na estruturação da crença cristã: Jesus Cristo, judeu, filho de judeu, com expressões fisicamente europeias, porque foram os artistas europeus que deram corpo a imagem que nós conhecemos hoje de Jesus. Mas isto não deve ter importância alguma para nós, sejam quais forem as expressões físicas de Jesus, para nós o que deve prevalecer é essa concepção de é que Ele é o nosso modelo e guia para todo o sempre na humanidade terrestre.

Mas a data de 25 de dezembro, como marco do nascimento do Cristo, surgiu com o Papa Júlio I, no século IV, que reuniu cardeais para discutir uma questão muito séria. Jesus Cristo, sendo o grande senhor de Roma, desde Constantino, não tinha um dia, e todos os deuses pagãos dos romanos estavam ligados a uma data, porque era costume de o povo festejar seus deuses e comemorar com festa e confraternização.

Mas Jesus Cristo, estranhamente, não tinha uma data que pudesse ser comemorada, como a data de seu natalício, como a data de seu nascimento. Então se reuniram os cardeais para decidir que data iriam criar, para, simbolicamente, representar a data do nascimento de Jesus. Discutiram muito, reuniram várias vezes, até que chegaram à conclusão de que a festa que deveria servir para homenagear Jesus, deveria ser aquela que maior número de pessoas reunisse em Roma. E aí pensou-se nas várias festas realizadas em Roma, concluindo-se que a melhor festa para representar o nascimento de Jesus seria a festa do solstício do inverno.

A festa do solstício de inverno começava no dia 22 de dezembro e findava-se no dia 25, oportunidade em que se homenageava a entrada oficial do inverno europeu. Nessa data, o povo saia para as ruas, fazendo pequenas fogueiras, evocando o deus Apolo, que segundo a mitologia romana era o grande deus solar, pois era Apolo que levava o carro do sol pelo céu. E, quando surgia o inverno, as pessoas imaginavam que Apolo estivesse em outro lugar, deixando a Europa desvitalizada sem o calor de sua luz solar. Então faziam fogueiras evocando Apolo.

Era costume, entre as mulheres, a troca de produtos de sua própria fabricação. Assim, trocavam-se tecido, doces, pães, e demais produtos, como parte do ritual ao deus pagão, surgindo daí a tradição de trocar presentes na data do natal. Por outro lado, as famílias sabendo que chegaria o inverno, costumavam recolher as frutas que, no inverno, não seria possível ser produzidas. Assim, as desidratavam, açucarando-as, para conservá-las. Então, no inverso europeu, as frutas cristalizadas era costume às mesas, e até hoje compramos frutas secas e cristalizadas para o natal, como resquício desse hábito europeu.


Fonte: Raul Teixeira - o Natal de Jesus


MARIA DE MAGDALA



Ninguém lhe conhecia a origem. Ela aparecera em Magdala, numa ocasião em que a cidade transbordava de estrangeiros, vindos das festas de Jerusalém e de caravanas carregadas de especiarias do Egito.

Magdala era uma aldeia de pescadores, na beira ocidental do lago de Genesaré, onde os palácios se erguiam, ao longo da praia, entre os leques das palmeiras e a sombra dos jardins.

Nas ruas calçadas, trafegam os mercadores, soldados de escudo e lança, publicanos, o povo. Pelas mãos circulam dracmas, sestércios, denários e papiros cambiais aos sons do hebraico, aramaico, grego e latim.

Ela chegara e logo adquirira fama: Maria. Logo se lhe acrescentara à denominação, o nome da cidade: de Magdala. Era uma mulher de grandes olhos nostálgicos e de longos cabelos caídos sobre as espáduas, como onda escura de ouro.

Seu palácio era procurado pelos príncipes das sinagogas, ricos negociantes, opulentos senhores de terras e de escravos, funcionários de alta categoria da administração herodiana, que lhe depositavam no regaço moedas de ouro, joias, dracmas de prata, perfumes raros, presentes exóticos.

Ela se dava ao luxo de escolher quem lhe aprouvesse e se tornou detentora dos segredos dos fariseus, aqueles que baixavam a cabeça na rua, com ares pudicos, mas que a buscavam, embuçados em mantos negros, a horas mortas.

Maria, de Magdala ou Madalena, contudo, não era feliz. Surda tristeza a minava, entregando-se, por vezes, dias seguidos, à profunda amargura. Espíritos infelizes a tomavam, em noites variadas, deixando-a alheada, olhos perdidos no mistério de insondáveis distâncias.

Nessas horas, as servas despediam, do átrio, todos os que a buscassem. Alguns homens, sentindo-se preteridos, dobravam as ofertas pelas horas de prazer que anteviam. Tudo em vão.

“Numa noite de perfumes primaveris, instada por uma serva de confiança, dedicada e fiel, permitiu um diálogo” (1) sobre o Rabi que andava pelas estradas da Galileia e da Judeia.

Sentiu a esperança renascer, ante a informação de que aquele Rabi convivia com os pecadores, os excluídos. Ele viera para encontrar o que estava perdido.

Numa noite que “balouçava luzes miúdas no firmamento escuro” (1), servindo-se de uma embarcação, atravessou o lago e foi ter com Ele, em Cafarnaum.

Quando Ele veio a Magdala, ela tomou de um vaso de alabastro que continha o perfume do lótus. Custara-lhe o preço de um campo. Era seu presente ao Amigo.

Sabendo-O em casa de Simão, para lá se dirigiu. Como bom fariseu, Simão experimentava um gozo particular em ostentar virtudes e recepcionar amigos, apresentando, em seu palácio, personalidades que, por qualquer motivo, se tornaram famosas.

Durante meses, após um banquete, os comentários persistiam na cidade, acerca dos personagens que sua casa acolhera.

Com Jesus não fora diferente. Ele e dois de seus discípulos haviam “merecido" a distinção de um banquete na rica vivenda de Simão.

Quase ao seu final, ouviram-se gritos e altercações. Depois, rompendo a segurança, Madalena irrompe na sala.

Tudo se deu tão rápido! Ela se arroja aos pés do Rabi que permanece impassível, na posição em que se encontrava.

Surdos cochichos perpassam pelo ambiente. Simão se enche de cólera, ante o epílogo desastroso do seu jantar. Teme mandar expulsá-la, porque sabe da sua coragem e ousadia. Ela o conhece muito bem, bem como a tantos outros que ali se apresentam como homens de honra.

Jesus serve-se do momento para lecionar o Amor, exaltando o gesto daquela mulher que ajoelhada a seus pés, rega-os com suas lágrimas, enxuga-os com seus cabelos e os unge com o excelso perfume que impregna todo o ambiente, concluindo: “Por isso te digo que os seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco é perdoado, pouco ama. ” (Lucas, VII, 47)

Ergue-se a voz de Jesus com infinita majestade:

“Mulher, a tua fé te salvou; vai-te em paz. ”(Lucas, VII, 48)

“Na manhã seguinte Magdala soube, pasmada, a notícia da conversão da pecadora. Distribuíra tudo quanto possuía e, com o estritamente necessário, iniciara nova vida.

As vozes da desonra e do despeito sussurravam que ela voltaria às noites de prazer, que enlouquecera, que sempre fora louca.

Ela se juntou aos que seguiam o Mestre. Discreta, mais de uma vez, recebeu a bofetada da desconfiança. Sabia que não confiavam em sua renovação, nem se davam conta de quantas tentações ela estava procurando sublimar.

Chegados os dias da denúncia de Judas, a prisão de Jesus, o julgamento arbitrário, ei-la, caminhando para o Gólgota, acompanhando-O.

Permaneceu ao pé da cruz, junto a Maria e o discípulo João. Quando a cabeça D'Ele pendeu, desejou cingir-lhe outra vez os pés e osculá-los com ternura, mas se sentiu imobilizada.

No domingo, indo ao túmulo com Joana de Cusa, Maria, a mãe de Marcos e outras mulheres, encontrou a pedra do sepulcro removida, dobrados os lençóis que lhe haviam envolvido o corpo.

Ela temeu que os judeus houvessem roubado o seu corpo. Enquanto as demais mulheres retornaram a Jerusalém a informar o ocorrido, ela permaneceu no jardim, a chorar.

A saudade feita de dor lhe estrangulava o peito, quando ouviu a voz d'Ele, chamando-a pelo nome. O Mestre estava ali, vivo, radioso como a madrugada recém-nascida.

Foi anunciar o fato aos discípulos, que não creram. Por que haveria Jesus de aparecer a ela, logo para ela? Somente Maria, a mãe d'Ele a abraçou e lhe pediu detalhes.

Os dias que se seguiram foram de saudades e recordações. As notícias lhe chegavam doces. O encontro com os jornaleiros dos caminhos de Emaús. A pesca incomparável. A jornada a Betânia.

Após 40 dias, no Monte das Oliveiras, junto aos quinhentos discípulos, O viu ascender lentamente, as mãos voltadas para eles, como num gesto de afago, as vestes luminosas, desaparecendo ante seus olhos.

Desejou então seguir com os novos disseminadores da Boa Nova. Temeram que sua presença pudesse ser perniciosa, semeando desconfiança, naqueles dias incipientes das luzes do novo Reino.

Ela experimentou soledade e abandono e, para arrefecer a imensa saudade do Rabi passou a andar pelas longas praias que tanto O recordavam.

Numa dessas tardes, encontrou leprosos que vinham de muito longe buscar o socorro da cura.

Ela os abraçou, dizendo-lhes que Jesus já partira. Deteve-se por horas a falar, saudosa, do que aprendera com quem era o Caminho, a Verdade e a Vida.

Depois, seguiu com eles ao vale dos imundos.

Sentindo que a seiva da vida diminuía em suas veias, desejou rever a doce Mãe de Jesus, aquela que tanto a afagara em suas amarguras, e foi a Éfeso, morrendo às portas da cidade, sendo brandamente recolhida nos braços do Amor não Amado.



Artigo publicado no Jornal Mundo Espírita - dezembro/2003.




segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

A JUSTIÇA APLICADA POR JESUS




Jesus recomendou a todos a abstenção de e julgar os comportamentos alheios.
Conhecendo a natureza íntima de todos os homens alertou-os quanto ao erro que se comete ao julgar, porquanto as imperfeições morais que carregamos na alma nos desautoriza a julgar o outro.
A doutrina espírita esclarece que todo aquele que julga o outro expõe as próprias mazelas morais, pois os recursos utilizados para a prolação da sentença residem na intimidade do ser, ainda frágil e cheio de dificuldades morais e espirituais.
Foi por isso que Jesus convocou os homens que iriam apedrejar a mulher adultera, a atirar a primeira pedra aquele que estivesse sem pecado algum.
Eram criaturas doentias, pois estavam transferindo para aquela mulher, também moralmente doente, as mazelas morais que traziam na alma. A adultera seria para aqueles homens um bode expiatório. Ao apedrejarem aquela mulher, aqueles homens sentiriam certo alívio íntimo porque inconscientemente teriam a sensação de apedrejar as próprias imperfeições.
Quem seriam eles para julgar?
A verdadeira justiça é uma virtude que tem o propósito de correção, de reparação, de forma sempre educativa. Justiça não é punição.
Deus, em sua infinita sabedoria e amor não pune ninguém. Através de suas leis irrevogáveis, procura corrigir a criatura, orientá-la a reparar pedagogicamente os erros cometidos.
Justiça verdadeira somente se dá se estiver acompanhada de amor e compaixão por aquele que errou, buscando trazê-lo de volta para o caminho do bem.


domingo, 3 de junho de 2012

BEM AVENTURADOS OS AFLITOS















Quando Jesus proferiu o Sermão da Montanha, às margens do mar da Galileia, na cidade de Cafarnaum, proclamando serem bem-aventurados os aflitos, pois serão consolados, Ele não se referia a todos os que sofrem, mas apenas àqueles que sabem sofrer.

A resignação diante do sofrimento é uma conquista da alma e traz alívio ao sofrimento. A dor e o sofrimento são ferramentas de evolução do espírito que transita em mundos de provas e expiações, onde o mal predomina.

A respeito da dor, há significativas lições registradas por Leon Denis, no livro "O Problema do Ser, do Destino e da Dor". O espírito André Luiz, em "Ação e Reação", esclarece sobre os propósitos da dor como ferramenta de evolução, acrescentando que ela pode ter a finalidade de impulsionar a criatura para o crescimento. É a dor como evolução. Quando a dor tem o caráter de reparação de um erro cometido, cobrado por nossa memória espiritual que não esquece o mal que cometemos, estamos diante da dor como expiação. E, por último, quando somos freados no mal que estamos cometendo a nós mesmos e aos outros, passamos pela dor como auxílio.

Diante da dor, seja qual for seu propósito, a resignação é a atitude de quem humildemente se coloca em obediência à vontade de Deus. São para estes que choram resignados que Jesus prometeu consolar.



segunda-feira, 30 de abril de 2012

Adoção na visão espírita














O Espiritismo entende a adoção como uma das mais belas vivências da alma na Terra. Dar a uma criança a oportunidade de viver em um lar estruturado, com chances de crescer através de uma convivência carinhosa com pais e irmãos, é abrir caminhos novos e altamente positivos para a redenção espiritual.

É uma das formas de resgatar, com base no amor, antigos vínculos do passado e substituir velhas matrizes de ódio e vingança por novas bases de perdão, ternura e companheirismo. Quando o “novo filho” é também um dos filhos da guerra, não só das que utilizam armas, mas igualmente das que se travam nas favelas da miséria sócio econômica de qualquer cidade, os pais ganham valiosos reforços em suas lutas particulares de crescimento espiritual.

Não só marcantes conquistas no campo da afetividade são realizadas, mas também novos amigos espirituais se apresentam para partilhar com a família suas lutas em busca da ascese íntima: os inimigos do passado, que não resistem à mudança de seus devedores, e os benfeitores espirituais dos “adotados”, que estão, por si, lutando para a melhora definitiva de seus queridos do coração.

 Os laços com os rebentos de sangue e os do coração passam a ser um só. Emmanuel afirma que o filho, sendo a materialização dos sonhos dos pais, é também a obra deles na Terra. Daí a necessidade de recebê-lo como quem encontra a oportunidade mais santa de trabalho no mundo.

Reforçando a atitude de quem resolveu acalentar nos braços os filhos de outras mães como se fossem seus, a recomendação do Espírito Meimei é de notável beleza, quando relembra que, se os nossos pequeninos trazem nas feições a perfeição dos astros, somos incessantemente chamados a estender mãos compassivas aos enfermos que chegam à Terra como lírios contundidos pelo granizo do sofrimento. Esses não são apenas os doentes do corpo ou da mente, mas também aqueles que se tornaram machucados da emoção, por causa do abandono de pais inscientes de suas responsabilidades.

Segundo Meimei, “são aves cegas que não conhecem o próprio ninho, pássaros mutilados esmolando socorro em recantos sombrios da floresta do mundo!...”

Como que enviando uma mensagem amorosa aos corações dos pais, que estão vivendo a experiência da adoção, ela escreve ainda que esses outros “são nossos outros filhos do coração, que volvem das existências passadas, mendigando entendimento e carinho, a fim de que se desfaçam dos débitos contraídos consigo mesmos...”.

Enquanto escrevemos estas páginas, imaginamos o que o conhecimento da realidade espiritual sob a lente do Espiritismo poderia fazer, em termos de renovação de ânimo e de coragem, no íntimo de tantos pais desesperançados.

De imediato, chega-nos ao coração a vontade de orar por eles, pedindo-lhes que, por enquanto, não aguardem dos filhos que vieram de um mundo familiar dilacerado respostas imediatas de reconhecimento emocional. No desejo de confortá-los, repetimos as expressões de Meimei, quando afirma que “cada vez que lhes ofertes a hora de assistência ou a migalha de serviço, o leito agasalhante ou a lata de leite, a peça de roupa ou a carícia do talco, perceberás que o júbilo do Bem Eterno te envolve a alma no perfume da gratidão e na melodia da bênção”.

Artigo publicado na Revista Reformador do mês de dezembro de 2007, da Federação Espírita Brasileira.