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quarta-feira, 1 de junho de 2016

PARÁBOLA DO MORDOMO INFIEL


A parábola do mordomo infiel narra a história de um senhor rico e poderoso que delega a administração de suas terras a um empregado, o mordomo. No entanto, em vez de honrar a confiança depositada nele e desempenhar suas responsabilidades com integridade, o mordomo age de maneira desonesta. Ele se apropria indevidamente dos bens que lhe foram confiados para gerir, como se fossem de sua propriedade, e utiliza-os em benefício próprio, desrespeitando os direitos legítimos do dono da terra.

Ao ser descoberto em suas práticas desonestas, o mordomo foi imediatamente demitido pelo proprietário, que exigiu uma prestação de contas completa de sua gestão. Diante dessa situação, o homem começou a refletir sobre seu futuro incerto. Sem saber como agir após a notícia da demissão, ele decidiu que a melhor estratégia seria conquistar o favor dos devedores de seu ex-patrão. Assim, quando se encontrasse em uma situação de penúria, após perder sua posição, poderia contar com a ajuda dessas pessoas como aliados.

Então, o mordomo convocou todos os devedores de seu ex-patrão e reduziu as quantias que deviam. Os devedores ficaram extremamente gratos ao mordomo por aliviar seus débitos e passaram a ter um profundo respeito por ele. No entanto, ao examinar os registros financeiros, o proprietário da terra percebeu rapidamente que as contas haviam sido manipuladas e que o mordomo tinha diminuído as dívidas dos devedores.

E qual foi a reação do proprietário? Se estivéssemos em seu lugar, o que faríamos? Provavelmente, chamaríamos o mordomo à responsabilidade pelo prejuízo causado e o obrigaríamos a reverter toda aquela situação. Exigiríamos imediatamente a reparação do dano e não aceitaríamos o prejuízo.

No entanto, na parábola, o dono da terra agiu de forma surpreendente. Ele chamou o mordomo e, contra todas as expectativas, aprovou sua conduta.

Jesus conclui a parábola afirmando que o mordomo infiel agiu de forma mais prudente do que os "filhos da luz", ou seja, aqueles que seguem Seu evangelho. Ele recomenda: "Fazei para vós amigos com as riquezas da injustiça, para que, quando estas vos faltarem, vos recebam nos tabernáculos eternos. Quem é fiel no pouco, também o será no muito."

À primeira vista, essa parábola pode levar a uma interpretação errônea, sugerindo que Jesus estaria incentivando a acumulação de riquezas ilícitas, contanto que se usem esses bens desonestamente adquiridos para fazer amigos. No entanto, o ensinamento é mais profundo e complexo, e não deve ser entendido como uma aprovação da desonestidade.

Além disso, Jesus frequentemente utilizava parábolas que provocavam escândalo ou surpresa, com o objetivo de forçar as pessoas a pensar e refletir mais profundamente sobre os temas abordados. Essas histórias eram projetadas para desafiar as convenções e as expectativas, levando os ouvintes a questionar suas próprias crenças e a considerar os princípios do Reino de Deus de uma nova perspectiva.

Era incomum naquela época, e até nos dias de hoje, um agricultor oferecer desconto na dívida de seu empregado. Mas há outro fato incomum: pela lei da Palestina daquela época, o dono da terra, ao descobrir que o mordomo o estava lesando, poderia tê-lo denunciado às autoridades, e o mordomo seria preso.

Além disso, outro aspecto notável da parábola é o contexto legal da Palestina da época. Segundo as leis vigentes, o proprietário teria o direito de denunciar o mordomo às autoridades por sua conduta desonesta, o que resultaria na prisão deste último.

A decisão do proprietário de não tomar essa ação legal e, surpreendentemente, aprovar a conduta do mordomo, adiciona uma camada de complexidade à parábola. Quando o proprietário da terra confronta o mordomo sobre as acusações de dissipar seus bens, o mordomo permanece em silêncio, reconhecendo sua culpa. Ele também percebe a misericórdia do proprietário, que optou apenas por demiti-lo em vez de denunciá-lo às autoridades, uma ação que teria consequências muito mais graves.

Diante dessa misericórdia, o mordomo decide agir de forma similar com os devedores do senhor. Embora suas ações sejam motivadas por interesse próprio, ele altera os registros contábeis para reduzir as dívidas dos devedores. Ele faz isso na esperança de ganhar a simpatia e o apoio dessas pessoas, que poderiam ajudá-lo em tempos de dificuldade.

E é exatamente isso que Jesus nos propõe nessa parábola. Quer o Mestre que imitemos o mordomo infiel. Que atenuemos a dívida dos nossos semelhantes com os bens que Deus nos concede, pois tudo que possuímos são empréstimos. Chegamos no mundo sem nada, absolutamente nada. Tudo o que temos é resultado da misericórdia divina.

Emmanuel, no livro "Pão Nosso", capítulo 112, nos diz que até hoje temos sido administradores infiéis dos bens que Deus nos confiou. Há quem utilize os bens confiados para a exclusiva satisfação de forma egoísta. Há outros que exploram os semelhantes para acumular ainda mais. Isso levou Jesus a dizer que é mais fácil um camelo passar por uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus.

É assim que, ao longo de várias encarnações, nós temos sido o mordomo infiel que administra os bens confiados pela providência divina para atender à nossa satisfação exclusiva, sendo, pois, servos dissipadores do patrimônio divino. Se hoje não temos ligações com as riquezas da injustiça, em vidas passadas, com certeza, nós tivemos.

Jesus está ensinando, nesta parábola, que é preciso saber administrar os bens que Deus nos emprestou em proveito dos semelhantes, porque não somos donos de nada. Tudo pertence ao Criador. Eis uma verdade absoluta que a mão niveladora da morte haverá de nos revelar.

A morte nos torna todos iguais e, com ela, temos que prestar contas da mordomia. Quando a morte nos visitar, teremos que entregar tudo, inclusive o corpo, pois nada ficará conosco. Isso prova que o dono de tudo que possuímos é Deus; nós somos apenas administradores. No momento da morte, somente seguirão conosco as qualidades nobres ou aviltantes que houvermos instalado em nós mesmos.

Como podemos, no nosso dia a dia, imitar o mordomo infiel, atenuando a dívida dos outros? Nota-se que o mordomo atenua uma dívida que não lhe pertence. Como poderemos atenuar a dívida dos outros perante Deus?

Para atenuar a dívida dos outros perante Deus, podemos começar por praticar a empatia, a compaixão e o amor ao próximo em nossas ações cotidianas. Podemos ajudar os necessitados, tanto material quanto espiritualmente, e buscar ser justos e honestos em nossas relações. A ideia é usar os bens e talentos que nos foram confiados para o bem comum, em vez de apenas para a nossa satisfação pessoal. Ao fazer isso, não só ajudamos os outros a "pagar suas dívidas", como também cumprimos nossa própria missão como administradores fiéis dos bens divinos.

Todas as vezes que nossos atos e ações suavizarem a dor do outro, estamos interferindo na contabilidade divina, como fez o mordomo infiel. Sabemos que todo sofrimento é resultado da lei de causa e efeito. Salvo exceções, o sofrimento e a dor são decorrências naturais dessa lei. Atenuar a dor do outro, por meio da fraternidade, do amor, da caridade e da solidariedade, é seguir a proposta do Mestre, ensinada nesta parábola.

É prestando auxílio aos outros que nós mobilizamos a misericórdia divina em nosso favor. Deus age através de seus filhos. É assim que Deus permite que nós, que carregamos tantas imperfeições e dificuldades, sejamos veículos de seus ilimitados recursos. É uma honra servir à misericórdia divina, ser aquele fio condutor que liga a misericórdia divina ao necessitado.

São tantas as necessidades que afligem o mundo, de ordem material e moral, como a depressão, dor, perda, pobreza, ignorância e estupidez; são tantas as carências que as criaturas carregam. Para um, podemos dar um abraço amigo; para outro, uma palavra de conforto; para outro, um passe; para outro, um recurso material, etc.

Se vivermos exclusivamente para nós mesmos, estaremos nos isolando espiritualmente, sem conquistar simpatias espirituais. Ao nos voltarmos para o bem-estar dos outros, não apenas cumprimos nosso papel como administradores fiéis dos recursos divinos, mas também atraímos para nós a benevolência e a misericórdia divinas. É uma forma de enriquecer nosso próprio espírito enquanto contribuímos para o alívio e o crescimento espiritual dos que nos cercam.

Quando saímos de nosso comodismo, do nosso isolamento, para irmos ao encontro do outro, aliviando suas dificuldades, seja com um passe, com uma palavra amiga, ou prestando-lhe qualquer auxílio, atrairemos simpatia não somente da pessoa que auxiliamos, mas especialmente de seus amigos espirituais. E é assim que, socorrendo, amparando, auxiliando e assistindo às dificuldades dos outros, granjearemos uma multidão de amigos, de ambos os lados da vida.

É minimizando a dor do semelhante, ajudando-o a carregar sua cruz e tornando-a mais leve, que conseguiremos, pelo amor, apagar nossos próprios débitos. "O amor cobre uma multidão de pecados", conforme escreveu o apóstolo Pedro. Esse é o poder transformador do amor e da compaixão: eles não apenas aliviam o fardo dos outros, mas também purificam nosso próprio espírito, aproximando-nos cada vez mais da essência divina que todos compartilhamos.

Precisamos ampliar o ciclo de simpatias espirituais, dando de nós em favor do outro, servindo de instrumento à providência divina. Mesmo sendo nós pecadores, seres imperfeitos, que trazemos em nossa contabilidade espiritual muitos crimes, todos nós podemos servir na seara do Pai. Deus se serve de seus mordomos infiéis para espalhar o seu amor e a sua luz sobre todos os seus filhos.

É exatamente isso que Jesus quis dizer ao contar esta parábola. Mesmo sendo imperfeitos, todos nós podemos amar. Mesmo sendo um devedor, com um passado espiritual delituoso, triste, de muita injustiça e muito sofrimento, todos podemos ser instrumentos da misericórdia divina e minorar a dor do semelhante.

Discípulo de Cristo é aquele que sai de si mesmo, é alguém que alivia a dor do semelhante, não importa que dor seja. É assim que a misericórdia nos une a todos que somos devedores. Somos devedores ajudando devedores, porque Deus não é um banqueiro inflexível que quer que seus filhos paguem dívidas. Deus quer que aprendamos a amar.