A
Revolução Francesa foi um dos acontecimentos mais importantes da história do
Ocidente, marcando o fim da Idade Moderna e o início da Idade Contemporânea. As
ideias iluministas, que a impulsionaram, instituíram o culto a razão para
interpretar o mundo, questionando-se o caráter sagrado do poder, defendido
pelos reis, pela aristocracia e pela Igreja. Para os iluministas, a razão
poderia auxiliar todos os homens na explicação dos fenômenos da natureza e da
forma de organização da sociedade.
Foi
nesse período, de efervescência que precedeu a revolução francesa, que um
destacado político francês, Pierre-Gaspard Chaumette, se incumbiu de projetar e
organizar cerimônias nas principais igrejas no território francês, as quais
foram transformadas em modernos Templos da Razão[1]. A catedral de Notre Dame,
Paris, foi palco da maior de todas as cerimônias. Em 10/11/1972, o altar
cristão foi desmontado e um altar à Liberdade foi instalado, proclamando-se,
então, a inexistência de Deus.
Daquele
marco histórico para os dias atuais, muitas foram as opiniões e manifestações
filosóficas, culturais e cientificas no sentido de se negar a existência de
Deus, como consciência cósmica, universal, expressão do supremo amor, que a
tudo governa, com leis ainda incompreendidas pela consciência humana.
Todavia,
a par das opiniões lançadas, em todos os tempos, por mentalidades apaixonadas,
a atualidade registra posições ateístas de personalidades expressivas,
destacando-se, nesta ocasião, a recente declaração de um dos mais notáveis
cientistas que o mundo atual conheceu, o astrofísico britânico Stephen Hawking,
que revelou para a imprensa mundial, em setembro de 2014, ser ateu, porquanto
“não há nenhum aspeto da realidade fora do alcance da mente humana”.
Acrescentou, ainda, que a religião acredita em milagres, mas estes são
incompatíveis com a ciência.
É
verdade! Não existem milagres, nem tão pouco fenômeno natural que possa escapar
à compreensão humana. A medida que o homem progride intelectualmente passa a
compreender fenômenos impossíveis de serem entendidos no passado. As
ferramentas desenvolvidas pela ciência moderna, capazes de penetrar o macro e o
microcosmo, permitiram ao ser humano comprovar realidades impossíveis de serem
sequer imaginadas naquele período em que o culto da razão fez frente ao
absolutismo da monarquia. Como conceber naqueles dias a ideia da existência de
universos paralelos, da teoria das cordas, dos whormlores, dos buracos negros,
dos Bóson de Higgs, e tantas outras descobertas no campo da ciência, as quais
revolucionaram a compreensão do universo, permitindo-se, ainda, uma melhor
qualidade e maior sobrevida ao ser humano.
Allan
Kardec, em 1957, pesquisou os milagres, fenômenos naturais, até então,
incompreendidos pela mente humana, e publicou o resultado de suas pesquisas no
livro A gênese. Em momento algum a doutrina espírita se movimentou por caminhos
desprovidos da razão. A espiritualidade explicou racionalmente, há duzentos
anos, os fenômenos naturais, bem como as leis que os regem. E até hoje a
ciência não conseguiu demonstrar que a doutrina dos espíritos houvesse errado em
quaisquer de suas afirmações. Kardec afirmou, inclusive, que “se algum dia a
ciência provar que o Espiritismo, está errado em determinado ponto, abandone
este ponto, e fique com a ciência”.
A
assertiva do gênio Stephen Hawking sobre a capacidade humana de compreender
todos os fenômenos naturais é fato que se solidifica com o tempo. Aquilo que a
física clássica não consegue explicar, vem sendo investigado e explicado pela
moderna mecânica quântica. A medida que
o ser humano evoluir intelectualmente, conseguirá compreender todos os
fenômenos que o cercam, antes considerados milagres, pois é assim que tem que
ser: nascer, morrer, renascer e evoluir sempre. É da lei.
É
preciso considerar que a fé espirita é raciocinada, e por isso não pode abrigar
as teorias de alguns homens, que em nome da ciência, afirmam que o nada ou
qualquer outro acidente sideral houvesse produzido todas as coisas, mantendo-as
sob a governança de leis físicas perfeitas, muitas ainda desconhecida pela
inteligência humana.
É
possível crer de forma racional na existência de uma consciência superior,
cósmica, universal, causa primaria de todas as coisas, sem que as descobertas
cientificas sejam desmerecidas. E, assim, afirmar, que Deus existe, não como O
conceberam as religiões que, em Seu nome, dominaram as consciências ao longo
das civilizações, proclamando guerras e cometendo crimes, os mais hediondos.
Deus
é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas, assim definido
pelos espíritos à Allan Kardec, no livro dos espíritos, questão primeira. E
essa inteligência suprema já não é mais uma entidade mitológica pontuada pelas
religiões, mas a única fonte para explicar a realidade do Universo.
A
propósito, vale a pena ler o artigo do ex-presidente da academia de ciência de
Nova Iorque, Abraham Cressy Morrison, publicado pela primeira vez em janeiro de
1948, no Digest do Reader e republicada em novembro de 1960, com o título “Sete
razões pelas quais um cientista crê em Deus”, resumidamente comentado por
Divaldo Franco em suas palestras, cujo texto segue:
1º
- Comecemos pelo movimento de rotação do sol, que é de cerca de 1.600
quilômetros horários. Se, por acaso, este movimento fosse 10 vezes menor, o que
equivale dizer de 160Km/h, a vida na Terra seria impossível. Os dias teriam 120
horas, assim como as noites. E durante as 120 horas de calor, a vida seria
totalmente destruída pelo excesso de luminosidade, pela ardência. E qualquer
forma de vida que sobrevivesse morreria nas 120 horas de trevas, portanto de
frio. Logo, alguém pensou sobre isso!
2º
- Se, por exemplo, o sol não se encontrasse a 150 milhões de quilômetros de
distância, digamos que ele estivesse a 100 milhões, a vida seria impossível,
porque os raios caloríficos seriam tão terríveis que absorveriam todas as águas
e a vida desapareceria. Mas, se por acaso, o sol estivesse a 200 milhões de
quilômetros de distância, a vida também seria impossível por falta de calor
suficiente. Se, por acaso, a lua estivesse mais próxima da Terra, a vida seria
totalmente impossível, porque as pressões magnéticas sobre as águas ergueriam
marés tão altas que lavariam as cumeadas das montanhas e, através da erosão,
destruiriam, duas vezes ao dia, todas formas de vida. Logo, alguém – ou algo –
pensou matematicamente em como manter esse equilíbrio.
3º
- Se, por acaso, o fundo do mar fosse mais baixo dois metros apenas não haveria
a vida na superfície da Terra, pois a água do mar absorveria o oxigênio e o gás
carbônico e os seres vivos não poderiam respirar. Se, por acaso, a atmosfera da
Terra, que mede 60 quilômetros, fosse menor, a vida seria totalmente impossível
porque diariamente caem sobre a Terra milhões de aerólitos, pedaços de planeta.
Se a atmosfera da Terra não houvesse sido necessariamente calculada, eles
destruiriam a vida e provocariam milhões de incêndios diariamente. Logo, alguém
pensou sobre isso!
4º
- Ninguém sabe qual é a sede do instinto dos animais. É algo tão admirável que
a Ciência ainda não localizou. Tomemos como exemplo o “nosso” João de Barro,
pássaro que, quando chega a Primavera, sobe no galho mais alto da árvore mais
elevada, coloca o bico na direção do vento e ele sabe de que direção virá o
vento quando chegar o próximo inverno. Assim, o João de Barro constrói a casa
colocando a porta no sentido oposto do vento de inverno. Se a porta for
colocada errada, as suas crias morrerão. Mas o João de Barro não erra nunca.
5º
- Vamos usar outro exemplo: o instinto das enguias, que sabem que quando
procriam, elas morrem. E elas, só podem procriar em águas muito profundas.
Quando chega a época da reprodução, elas nadam milhares de milhas marítimas, de
todos os lados, de todos os mares, de todos os oceanos onde estão, e vão
reproduzir-se nas águas abissais das Bermudas. Ali elas se reproduzem e morrem.
E os seus filhos? Sem saberem de onde vieram os seus ancestrais, nadam e voltam
às águas de onde vieram os seus genes. E não erram nunca. Jamais foram
encontradas enguias europeias em águas americanas ou enguias americanas em
águas europeias. E esse instinto foi tão caprichoso que, sabendo que a enguia
europeia está mais longe do que a americana das águas das Bermudas, atrasa um
ano a reprodução europeia para chegarem todas ao momento da reprodução na
América Central. É maravilhoso narrar a respeito dos instintos dos animais. Mas
quem ensinou primeiro pássaro fez isso. E fazem-no até hoje. E Morrison afirma
crer em Deus por causa também dos instintos dos animais.
Sexta
razão: Ele ainda pinça, de seus conhecimentos admiráveis, a distância que
separa a Terra do sol, de aproximadamente 150 milhões de quilômetros. É ela que
proporciona ao nosso mundo a tépida sensação de calor, nem insuficiente, nem
exagerada para a manutenção da vida, mesmo incandescendo a superfície do astro
rei 6.648 em graus centígrados. Se a Terra estivesse mais próxima do sol, seria
esturricada pelo calor. Mais afastada do que na órbita elíptica atual, se
perderia pela insuficiência térmica, por inadequados raios ultravioletas,
infravermelhos e caloríficos, mantenedores do equilíbrio metabólico na vida
vegetativa.
Sétima
razão: É evidente e racional que uma inteligência matemática e superior
estabeleceu e providenciou as condições de vida para a Terra, restando uma
chance em bilhões de que nosso planeta fosse o resultado de um acidente filho
do acaso.
Não
obstante, Deus continua sendo o Grande Anônimo, incompreendido e mal
interpretado pelos humanos.
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[1]
Durante dois meses, Novembro e Dezembro de 1793, o Culto da razão se estendeu
pela França. As igrejas foram desprovidas de seus aparatos tradicionais e a
Deusa Razão foi entronizada em cerimônias festivas. Carlyle, referindo-se a
cerimônia de Notre Dame, exclama indignado que a bailarina Candeille era levada
em procissão, e acrescenta: "escoltada por música de sopro, barretes
frígios, e pela loucura do mundo". Realmente tudo parecia loucura, naquele
momento irreal. A tradição se esboroava. Os ídolos caíam. Bispos e padres
renunciavam. Carlyle acentua que surgiram de todos os lados: "curas com
suas recém-desposadas freiras". E uma bailarina da Ópera era transformada
em deusa, embora apenas de maneira simbólica.