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domingo, 22 de abril de 2018

PARÁBOLA DO GRANDE BANQUETE




Um certo homem preparou um grande banquete e convidou a muitos. Na hora do banquete, enviou seu servo avisar os convidados: Vinde, já está preparado. E todos, um após um, foram se desculpando. O primeiro disse: Comprei um terreno e preciso examiná-lo; por favor, aceite minhas desculpas. O segundo disse, comprei cinco juntas de bois e vou prová-los por favor, aceite minhas desculpas. O terceiro disse: acabo de casar e não posso ir. O Servo voltou para informar o senhor. Então o senhor da casa, irritado, disse ao seu servo: Sai depressa pelas ruas e vielas da cidade e trazei para cá os pobres, mutilados, cegos e coxos.  O servo lhe disse: Senhor, foi feito como ordenastes, e ainda sobra lugar. O senhor disse ao servo: Sai pelos caminhos e atalhos e obriga-os a entrar, para que a minha casa se encha. Lucas 14:16-24.


A parábola congrega elementos com o objetivo de ilustrar a realidade do espírito imortal, que, por iniciativa própria, deve caminhar em direção a Deus, buscando a perfeição. Nesta longa e desafiadora jornada, o espírito reencarna diversas vezes em mundos materiais que espelham seu universo íntimo. Nestes mundos, ele vivencia experiências condizentes com seu estágio evolutivo, capacitando-se para habitar em esferas mais elevadas. Ao alcançar a perfeição, finalmente compreenderá Deus. 
Todos os seres criados por Deus têm como destino a perfeição. É uma fatalidade da qual ninguém pode escapar. O ser humano pode estacionar em sua jornada, mas não pode evitar o progresso, pois Deus exerce sobre todos os seus filhos uma força magnética à qual, cedo ou tarde, ninguém consegue resistir. Evoluir em direção a Deus é o destino de todos, seja através das experiências do amor ou pelas lições da dor.
O grande tema da parábola do grande banquete é justamente esse. O homem que organizou o banquete simboliza Deus. A ideia do banquete foi empregada para representar a comunhão. Para os judeus, um banquete era uma ocasião especial, reservada apenas para convidados de grande importância, com os quais o anfitrião desejava estabelecer uma relação íntima. 
A imagem de um homem que organiza um banquete e convida muitos ilustra a concepção de que Deus espera por todos os seus filhos para uma profunda comunhão. Esta comunhão plena só será alcançada quando o espírito atingir a perfeição, conforme abordado na questão 11 do Livro dos Espíritos.
11. Será dado um dia ao homem compreender o mistério da Divindade?
Quando não mais tiver o espírito obscurecido pela matéria. Quando, pela sua perfeição, se houver aproximado de Deus, ele o verá e compreenderá. 
Na parábola, o homem prepara o banquete e envia seu servo para convidar e informar a muitos que tudo estava pronto. Os dois verbos iniciais, "convidar" e "avisar", simbolizam os chamados e os alertas do amor. 
O primeiro servo da parábola personifica o convite de Deus para a evolução através do amor. Cada experiência vivenciada pelo ser em sua trajetória é um chamado de Deus, incentivando-o a evoluir pelo caminho do amor. 
Todas as oportunidades que o ser tem para interagir no mundo são instrumentos providenciados por Deus para ajudá-lo na missão de refinar sentimentos e adquirir conhecimentos. No entanto, muitas vezes, essas oportunidades são desperdiçadas em busca de ilusões e devaneios pessoais.  
Na parábola, o primeiro servo, simbolizando o amor, sai para avisar os convidados de que o banquete estava pronto. Contudo, todos, sem exceção, declinam o convite, alegando estarem imersos em compromissos mundanos, como cuidar do patrimônio, dedicar-se ao trabalho e manter relações afetivas. 
É interessante perceber que as responsabilidades atribuídas por Deus aos espíritos que habitam mundos de provas e expiações, como a Terra, estão intrinsecamente ligadas ao trabalho, relações afetivas e gestão do patrimônio. 
É justamente nessas áreas de atuação que o ser encarnado tem a oportunidade de aprimorar suas virtudes ou, em contrapartida, acumular sérias dívidas diante da lei divina. Torna-se evidente que todos os equívocos e transgressões humanas, assim como todas as suas vitórias morais, ocorrem no âmbito do patrimônio, das relações afetivas e do trabalho
Na parábola, os convidados declinam o convite para o banquete, pois todos eles colocavam o trabalho, o patrimônio e as relações afetivas como centrais em suas vidas. Em outras palavras, todos os interesses dos convidados orbitavam em torno desses três pilares.
Neste aspecto, a parábola serve como um aviso. Trabalho, dinheiro, família e relações afetivas são, de fato, oportunidades evolutivas para o espírito encarnado em mundos de provas e expiações. Eles representam valiosa oportunidade de crescimento espiritual. No entanto, não devem ter um poder tão dominante sobre o ser humano a ponto de estagnar seu progresso em direção a Deus.
Quando o servo retorna e relata que os convidados declinaram o convite para o banquete, o homem ordena que ele saia novamente e traga os pobres, mutilados, cegos e coxos. 
O significa isso? Quem é o segundo servo? 
Ao desperdiçar oportunidades de evolução através do exercício de virtudes e da aquisição de conhecimentos nas experiências vividas no âmbito do trabalho, patrimônio e relações afetivas, o indivíduo acumula sérios débitos para consigo mesmo. Assim, mais tarde, ele é conduzido, e não apenas convidado, a evoluir por meio de experiências expiatórias
O segundo servo simboliza a expiação. Por essa razão, Jesus emprega o verbo 'trazer' (ou 'buscar', dependendo da tradução do texto) ao se referir a ele. Esse uso verbal destaca uma certa imposição. Daí a menção aos pobres, cegos, coxos e mutilados. Estes não representam deficiências físicas, mas sim espirituais. Em expiação, encontram-se aqueles que são pobres em amor ao próximo, cegos de espírito, mutilados de coração e coxos em seus sentimentos, todos por não terem aproveitado adequadamente as oportunidades de caminharem em direção a Deus por meio do amor.
As experiências agora são difíceis porque o orgulho cegou a alma, a vaidade mutilou os sentimentos e o egoísmo impediu o amor de expressar-se fraternalmente como Jesus ensinou. 
As experiências expiatórias despertam na alma humana dois sentimentos distintos: resignação e revolta.
A resignação conduz o espírito de volta ao caminho do amor, pois reconhece que os desafios presentes são reflexos de erros passados. Essa aceitação diante das adversidades é a manifestação da compreensão profunda das palavras de Cristo: "Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados.
Já a revolta tem um efeito paralisante sobre o espírito, fazendo-o estagnar em sua jornada. Esse estado perdura até que, eventualmente, o espírito seja compelido a prosseguir em sua caminhada evolutiva.
O segundo servo, conforme instruído por seu senhor, conduz os sofredores e, ao perceber que ainda havia espaço, foi orientado a sair pelos caminhos e compelir todos a entrar. A escolha do verbo 'forçar' por Jesus não foi aleatória. Ele quis enfatizar que todas as criaturas, inevitavelmente, alcançarão a perfeição, seja pelo caminho do amor ou pelo da dor.
Quando as oportunidades de evolução pelo amor são negligenciadas, o ser é impelido a crescer através de experiências expiatórias. Estas, gradualmente e por meio da resignação, o reconduzirão ao caminho do amor. 
Contudo, se, diante da expiação, a alma opta por nutrir uma revolta silenciosa contra todos e contra Deus, resistindo ao crescimento espiritual, ela será compelida a avançar sob o peso da dor e do sofrimento, em múltiplas vivências, até que reencontre o caminho do amor.
Por isso, na parábola, o último servo tem a missão de, por meio do sofrimento, conduzir todas as almas revoltadas, rebeldes e persistentes no erro a marcharem rumo a Deus.



segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

A ÚLTIMA CEIA


Antes de ser preso e crucificado, Jesus reuniu-se pela última vez com seus discípulos. Esse evento é relatado pelos quatro evangelhos e pela primeira Epístola aos Coríntios. A última ceia ocorreu após a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, e foi seguida por sua traição, prisão, julgamento e crucificação. Entre os hebreus, a ceia era considerada um momento significativo, pois não se compartilhava apenas a refeição, mas também a intimidade, a fraternidade, a união, o amor e o verdadeiro relacionamento espiritual. É por essa razão que a parábola sobre a regeneração do mundo tem como cenário uma refeição solene, o banquete de casamento.

Consciente das horas que se aproximavam e sabendo que seu tempo no mundo estava chegando ao fim, Jesus ansiava pelo último encontro com seus discípulos. Conforme a narrativa de Lucas 22:14-20, Ele disse: 'Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes do meu sofrimento.' Este encontro não era simplesmente uma ceia de despedida, mas um momento especial que Cristo reservou para tocar os corações de seus discípulos. O objetivo era despertar neles a compreensão para o desfecho inesperado de sua missão na Terra. Isso porque todos os discípulos estavam confiantes de que a vitória de Jesus seria uma vitória mundana, e não espiritual.

No livro 'Boa Nova', psicografado por Chico Xavier e atribuído ao espírito Humberto de Campos, é contado que, no primeiro dia das festas da Páscoa, Jesus e seus discípulos se reuniram como de costume. Na ocasião, o Mestre partiu o pão com a ternura habitual. Durante a refeição, Jesus anunciou que seria traído por um de seus discípulos e, conforme descrito em João 13:26, entregou a Judas um pedaço do pão, perdoando-o antecipadamente. Assim, antes mesmo de ser ofendido, Ele concedeu perdão ao ofensor.

No capítulo 24 do livro 'Boa Nova', Humberto de Campos aborda a traição de Judas, afirmando que ele, de fato, amava Jesus. Segundo o autor, o objetivo de Judas era acelerar a instauração do Reino de Deus na Terra. Ele acreditava que esse Reino, frequentemente mencionado por Cristo, seria um reino terreno onde Jesus reinaria como um general. No entanto, Judas considerava Jesus demasiado humilde para confrontar os poderosos da época. Por isso, ele tentou antecipar a chegada do Reino. Em sua visão, a ele caberia assumir as rédeas do poder, enquanto Jesus teria a missão de iluminar os corações das pessoas.

Acreditava Judas que Jesus não ficaria preso por muito tempo, pois aquele homem, que multiplicava pães, curava cegos e leprosos e ressuscitava mortos, se livraria facilmente das amarras do Sinédrio. No entanto, o plano deu errado, e Judas tornou-se uma marionete nas mãos da sombra.

Depois de anunciar que seria traído, Jesus afirmou que ainda assim haveria uma vitória e que o Reino de Deus seria implantado na Terra.

Nesse momento, diante do anúncio do Reino que seria implantado, os apóstolos imediatamente se esqueceram do tema da traição e passaram a discutir quem entre eles seria o maior quando o Reino de Deus fosse implantado na Terra. Então, Jesus, diante daquela discussão, levantou-se, tirou a túnica, envolveu o quadril com um pano e vestiu-se como um escravo da época.

Os apóstolos ficaram perplexos, pois o Mestre, horas antes, entrara triunfante em Jerusalém. Instantes atrás, partira o pão como um patriarca; como poderia agora se comportar como um escravo? Mas Jesus estava disposto a deixá-los ainda mais perplexos. Vestido como um escravo, ele pegou uma vasilha de água e começou a lavar os pés dos apóstolos, especialmente dos que estavam discutindo qual deles seria o maior, o mais importante.

Os discípulos começaram a protestar diante daquele ato de suprema humildade. Então, Jesus asseverou: Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou. Se eu, Senhor e Mestre, vos lavo os pés, deveis igualmente lavar os pés uns dos outros no caminho da vida, porque no Reino do Bem e da Verdade o maior será sempre aquele que se fizer sinceramente o menor de todos.

Eis a preciosa lição: quem serve mais é o mais importante, é o maior. Essa é uma lei universal. No universo, quem mais serve é Deus. Servir é uma honra; ser servido é um agrado, um presente. Importante é quem serve.

Terminada a lição e retomando seu lugar à mesa, o Mestre sentenciou: Aproxima-se a hora do meu derradeiro testemunho! Sei, por antecipação, que todos vós estareis dispersados nesse instante supremo. É natural, porquanto ainda não estais preparados senão para aprender. Antes, porém, que eu parta, quero deixar-vos um novo mandamento, o de amar-vos uns aos outros como eu vos tenho amado; que sejais conhecidos como meus discípulos, não pela superioridade no mundo, pela demonstração de poderes espirituais, ou pelas vestes que envergueis na vida, mas pela revelação do amor com que vos amo, pela humildade que deverá ornar as vossas almas, pela boa disposição no sacrifício próprio.

O Mestre deixa um novo mandamento: amar uns aos outros como Ele nos ama, um mandamento que ultrapassa o de amar uns aos outros como a si mesmo.

Jesus termina aquela ceia dizendo a todos que uma das maiores virtudes do discípulo do evangelho é estar sempre pronto ao chamado da providência divina, não importando onde e como seja o testemunho.

O essencial é revelar a união com Deus em todas as circunstâncias, seja nas horas de tranquilidade ou nas horas de sofrimento, porque, se os desígnios de Deus são insondáveis, são também invariavelmente justos e sábios.