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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

PARÁBOLA DA SEMENTE QUE CRESCE EM SEGREDO

A Parábola do Reino de Deus - Uma Análise Espiritual

"O Reino de Deus é semelhante a um homem que lança a semente sobre a terra. Quer ele esteja acordado, quer ele esteja dormindo, ela brota e cresce, sem ele saber como isso acontece. É a própria terra que dá o seu fruto: primeiro aparece a planta, depois a espiga, e, mais tarde, os grãos que enchem a espiga. Quando as espigas ficam maduras, o homem começa a cortá-las com a foice, pois chegou a hora da colheita." (Marcos 4:26–29)

Introdução à Parábola

Nesta parábola, Jesus compara o Reino de Deus a uma semente que cresce em segredo. Uma vez semeada, ela se desenvolve independentemente de o semeador estar acordado ou dormindo.

No Reino de Deus, que abrange todo o universo infinito, sementes são lançadas à terra pelo cultivador divino e se desenvolvem sem qualquer chance de fracassar. No mundo material, contudo, nem todas as sementes lançadas pelo agricultor germinarão.

A Lei Divina da Evolução

Por meio desta parábola, Jesus elucida uma lei divina; a lei da evolução. Esta determina que, uma vez criado o espírito, simples e ignorante, está destinado a perfeição, sem qualquer chance de retrocesso.

Pergunta 118 - Os Espíritos podem se degenerar?

"Não; à medida que avançam, compreendem o que os afasta da perfeição. Quando o Espírito acaba uma prova, fica com o conhecimento que adquiriu e não o esquece mais. Pode ficar estacionário, mas retroceder, não retrocede."

O Simbolismo da Semente

Por essa razão, a semente cresce e se desenvolve além da compreensão do semeador. Isso ocorre porque, uma vez criado, o espírito nunca morre; ao invés disso, ele é lançado às experiências existenciais e continuará a evoluir, mesmo que não tenha consciência de sua própria trajetória evolutiva sob a tutela de Deus.

A figura do homem na parábola simboliza o espírito em seu trajeto evolutivo. A semente lançada ao solo é uma metáfora para o potencial divino intrínseco a cada ser. Assim como a minúscula semente contém em seu interior o potencial para se tornar uma árvore ou planta, o espírito carrega consigo as potencialidades divinas que gradualmente se revelarão à medida que ele evolui.

Estados de Consciência

Aprofundando-se nos ensinamentos transmitidos pela parábola, percebe-se que o espírito, criado à imagem e semelhança de Deus, caminhará em direção a Ele, cumprindo o propósito para o qual foi criado – orbitar ao redor de Deus. Isso ocorre independentemente de seu estado de consciência, seja ele desperto ou adormecido, fenômeno que se manifesta tanto de dia quanto de noite.

Na parábola, o verbo 'dormir' carrega um significado espiritual, não se referindo a um estado fisiológico, mas a um estado de sono psíquico. Da mesma forma, 'desperto' alude a um estado de consciência alerta.

Referências Evangélicas

Esses estados de consciência são mencionados diversas vezes no Evangelho de Jesus. Um exemplo é a passagem em Mateus 8:22, que diz "deixe os mortos enterrar seus mortos". Essa frase só pode ser compreendida considerando-se que Jesus se referia a estados psíquicos, e não fisiológicos.

O Sono Espiritual

Deve-se considerar que muitas pessoas encarnadas se encontram em um profundo estado de sono espiritual. Estas são aquelas que nascem e reencarnam repetidamente com a consciência insensível aos valores espirituais. Por não compreenderem que as vivências são lições valiosas para seu amadurecimento espiritual, enfrentam suas experiências evolutivas com grande sofrimento. Assim, sem essa compreensão, sofrem, adoecem e se tornam infelizes.

Assim, esse ser, em estado de consciência adormecida, não compreende por que adoece e se revolta contra Deus. Não entende por que a vida colocou em seu lar pessoas desafiadoras e, muitas vezes, acaba por abandoná-las. Não consegue discernir por que seus sonhos não se concretizam, tampouco por que é vítima de violência ou foi abandonado por quem ama, entre outras adversidades.

O Processo Evolutivo

Sem entender as experiências da vida, o ser humano passa por inúmeras existências físicas, acumulando ressentimentos, desafios, sofrimento e dor. Contudo, mesmo assim, evolui, muitas vezes de maneira inconsciente, pois mesmo em um estado de consciência adormecida, segue avançando. As experiências árduas e dolorosas da vida possuem justamente esse propósito: romper a casca que protege a essência divina presente em cada ser.

Pergunta 169 - O número de encarnações é o mesmo para todos os Espíritos?

"Não; aquele que caminha rápido se poupa das provas."

O Despertar Espiritual

A semente realiza parte de seu desenvolvimento no interior da terra, rompe a casca que a envolve na escuridão do solo, e, como diz Emmanuel, em Fonte Viva, cap. 171, para isso sofre a ação dos detritos da terra, afronta a lama, o frio, a resistência do chão, mas somente quando rompe todos os obstáculos passa a se orientar para cima, na direção do Sol. E a partir daí nascem-lhe as folhagens e depois os frutos.

Os Estados de Consciência na Parábola

A imagem do ser em um estado de consciência adormecida é análoga ao desenvolvimento da semente sob a terra. Na parábola, isso é representado pela semente que cresce durante a noite, enquanto o homem está adormecido.

Por outro lado, a imagem da semente que cresce durante o dia, enquanto o homem está acordado, faz uma analogia à segunda etapa do desenvolvimento da semente. Nesta fase, ela se liberta da casca protetora, rompe o solo e se volta em direção ao Sol. Isso representa o estado de consciência desperta.

O Caminho da Evolução Consciente

Caminhar desperto significa orientar-se pelo grandioso Sol que ilumina a humanidade: Jesus. É compreender a finalidade das adversidades, como a doença, aceitando-as com gratidão e buscando aprender a partir da experiência. Significa amar e compreender aqueles que caminham ao nosso lado, seja no lar, no trabalho ou em qualquer ambiente de aprendizado e serviço. Devemos reconhecer que, em um planeta de provas e expiações, o mal ainda prevalece. Por isso, a violência pode surgir como uma visita inesperada, servindo como uma lição valiosa ou uma oportunidade de exercitar virtudes, conforme exemplificado por Jesus.

Conclusão: Os Frutos do Despertar

Para concluir a parábola, Jesus enfatiza que é a terra que produz seus frutos: primeiro surge a folha, em seguida a espiga e, finalmente, o grão que preenche essa espiga. Quando o fruto atinge sua maturidade, chega o momento da colheita.

É este o destino da humanidade: evoluir gradualmente até atingir a essência do Cristo, a máxima expressão do amor. A capacidade de doação desinteressada é a mais nobre manifestação desse amor. Ao vivenciar genuinamente o amor por si mesmo, pelo próximo e por Deus, o ser torna-se semelhante à espiga repleta de grãos, pronta para ser colhida e saciar a fome alheia.

Somente ao elevar-se a Deus, através do amor incondicional por todos, é que o ser humano se torna instrumento de Jesus, o Pão da Vida. Assim, ele passa não apenas a saciar sua própria fome espiritual, mas também a auxiliar o próximo a fazer o mesmo. Esse, afinal, é o objetivo maior da vida: produzir frutos em abundância.

terça-feira, 3 de julho de 2018

OS TRABALHADORES DA VINHA

A Parábola dos Trabalhadores da Vinha: Uma Análise Espiritual

A Parábola dos Trabalhadores da Vinha: Uma Análise Espiritual

Pois o Reino dos Céus é semelhante ao homem, pai de família, que saiu de ao raiar do dia a assalariar trabalhadores para a sua vinha. Depois de ajustar com os trabalhadores um denário por dia, os enviou para sua vinha. E tendo saído por volta da terceira hora, viu outros, que estavam de pé na praça, desocupados, e disse a esses: Ide vos também para a vinha, e o que for justo vos darei. E, eles foram. Novamente, saindo por volta da sexta e nona hora, procedeu da mesma forma. Tendo saído por volta da undécima hora, encontrou outros, que estavam de pé, e diz para eles: por que ficastes de pé, aqui, o dia inteiro, desocupados? Eles lhe dizem: Porque ninguém nos assalariou. Ele lhe diz: Ide vos também para a vinha. Chegado ao fim da tarde, o senhor da vinha diz ao seu administrador: Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, começando dos últimos até os primeiros. Vindo os da undécima hora, receberam um denário, cada um. Vindo os primeiros, pensaram que receberiam mais; todavia, também eles receberam um denário, cada um. Ao receberem, murmuraram contra o senhor da casa, dizendo: Estes últimos fizeram só uma hora, e tu os fizestes iguais a nós, que carregamos o peso do dia e o calor ardente. Em resposta, disse a um deles: Companheiro, não estou sendo injusto contigo. Não ajustaste comigo um denário? Toma o teu e vai-te; quero dar a este último tanto quanto a ti. Não me é lícito fazer o que quero com o que é meu? Ou o teu olho é mau, por que eu sou bom? Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serões últimos. Mateus 20:1-16.

O Significado Espiritual do Trabalho e da Vinha

Nas parábolas de Jesus, o Reino dos Céus frequentemente é equiparado a um estado íntimo de consciência. Esta condição de plenitude espiritual, no contexto da parábola, se assemelha ao trabalho: enquanto no plano material ele impulsiona o progresso do mundo, no âmbito interno, catalisa o desenvolvimento espiritual. A vinha, ao representar o âmbito de atuação do espírito imortal, simboliza tanto o mundo tangível quanto o universo íntimo de cada ser.

Em todos os planos da vida, Deus nos convida ao trabalho. No mundo, somos encorajados a contribuir para o progresso material; internamente, somos convocados a laborar no terreno de nossos corações, cultivando virtudes que nos elevam a níveis superiores.

Na parábola, o trabalho assume um matiz espiritual, refletindo como Jesus fala aos nossos corações. O Pai de família, que busca trabalhadores em diferentes momentos do dia, ilustra que Deus, incessantemente, convoca seus filhos ao árduo trabalho de transformação moral.

A Transição Planetária e o Momento Atual

No entanto, há aqueles que acolhem o chamado divino mais cedo, enquanto outros o fazem mais tarde. Porém, todos, inevitavelmente, despertarão. E a recompensa para todos os trabalhadores será a mesma, independentemente de quando começaram sua jornada de regeneração.

O versículo 08 destaca o momento do pagamento aos trabalhadores: a noite. Como a noite simboliza o término do dia, a parábola sugere o final de um ciclo ou etapa evolutiva.

No capítulo 20 do 'Evangelho Segundo o Espiritismo' (ESE), a parábola é analisada por quatro espíritos, incluindo o Espírito da Verdade. Eles afirmam que ela antecipa momentos decisivos que a humanidade enfrentará, visto que está nos planos divinos a transição da Terra para a categoria de mundo de regeneração. Isso significará que nosso planeta deixará de ser um refúgio para espíritos que precisam de um mundo de provas e expiações para evoluírem.

O Trabalho de Transformação Moral

Os espíritos destacam que novos tempos se aproximam para a humanidade. Estamos, assim, nas últimas horas de um ciclo, aguardando o alvorecer de uma nova era, e é por isso que Jesus enfatiza tanto a importância do trabalho de transformação moral.

No "Evangelho Segundo o Espiritismo" (ESE), na página 221, ao discorrer sobre esta parábola, o espírito Erasto exorta: "Arme-se de decisão e coragem, ó vossa legião! Mãos à obra! O arado está pronto; a terra, preparada: Arai."

A 'terra preparada', moldada pelas lutas e experiências de inúmeras encarnações passadas, simboliza o coração. O 'arado', por sua vez, representa a vontade. Portanto, com a vontade determinada, podemos trabalhar nosso interior, removendo imperfeições que obstruem o desenvolvimento de virtudes. Estas virtudes nos preparam para herdar a Terra.

A Inveja como Obstáculo Espiritual

Na parábola, Jesus sinaliza a iminência dos tempos delineados por Deus. A Terra está predestinada aos mansos e pacíficos, conforme proclamou no Sermão do Monte. Este é, de fato, o ponto ápice da parábola, ressaltando a imperativa necessidade de reflexão sobre esse ensinamento.

Os primeiros trabalhadores, apesar de sua prolongada dedicação na vinha, ainda não haviam cultivado a mansidão e a paz interior. Embora tenham atendido ao chamado do Senhor da Vinha e se dedicado por mais tempo, não estavam aptos a herdar a terra.

O tratamento igualitário dispensado pelo Senhor da Vinha aos trabalhadores que chegaram posteriormente causou inconformismo nos que haviam chegado mais cedo, levando-os a questionar o Senhor. Esse ato revelou um coração tomado pela inveja. Assim, a resposta veio: 'Companheiro, não estou sendo injusto contigo. Não ajustaste comigo um denário? Toma o que é teu e vai. Quero dar a este último tanto quanto a ti. Não posso fazer o que desejo com o que é meu? Teu olho é invejoso porque eu sou generoso?

A Natureza da Inveja e Suas Consequências

Um coração dominado por inveja e ciúme não vibra em sintonia com a mansidão. A parábola nos convida a refletir sobre esta imperfeição moral, que ainda marca presença em muitos de nós que habitam a Terra.

A inveja difere da cobiça. Enquanto a cobiça é o desejo de possuir o que pertence a outro — e, apesar de negativa, é um mal menor — a inveja é a perversa satisfação em ver ou causar a ruína da felicidade alheia, seja em conquistas morais ou materiais.

A inveja é uma profunda falha de caráter, um veneno que corrompe o coração. É uma enfermidade altamente nociva, pois é matriz de muitos males. Inclusive, foi essa falha que motivou o exílio de muitos espíritos para nosso planeta, incluindo os capelinos.

A Superação da Inveja e o Caminho para a Evolução

O canto de dor dos espíritos exilados de Capela, encontra-se representada nos primeiros capítulos da Bíblia. As imagens simbólicas de Adão e Eva, expulsos do paraíso, e de Caim, que mata Abel movido pela inveja, servem como advertências às futuras gerações: um aviso para não caírem nos mesmos padrões comportamentais que os distanciaram de Deus.

A inveja é um sentimento presente apenas nos corações dos espíritos menos evoluídos. Isso é evidenciado na resposta à questão 970 do 'Livro dos Espíritos'. Como a Terra está destinada a elevar-se na hierarquia dos mundos, cabe a nós aprimorar nosso padrão vibratório. Apenas assim estaremos aptos a continuar nossas reencarnações neste planeta.

À medida que nosso planeta avança rumo a uma nova Era, apenas os espíritos que se libertarem das amarras do mal continuarão a reencarnar aqui. A inveja, destacada na parábola, é uma raiz do mal, surgindo do orgulho, vaidade e egoísmo.

O Combate à Inveja e a Busca pela Evolução Espiritual

Na questão 933 do 'Livro dos Espíritos', é afirmado que a inveja e o ciúme são como torturas da alma; são como vermes que corroem e destroem psicologicamente quem os sente.

Dessa forma, a parábola funciona como um chamado de Jesus para superarmos a inveja dentro de nós, assumindo, com humildade, o reconhecimento de que ainda carregamos essa imperfeição em nossos corações.

Reconhecer a existência do mal, sua magnitude e esfera de influência, é essencial para compreendê-lo e, consequentemente, dominá-lo. Um guerreiro está preparado para combater apenas os inimigos que reconhece. Admitir a presença do mal em nosso coração é o primeiro passo rumo à sua superação.

O Papel da Fé e da Graça Divina

O subsequente e crucial passo para subjugar esse adversário interno é a conscientização de nossa dependência da graça divina. Ao orarmos a Deus, solicitando Sua ajuda para superar as mazelas da inveja e do ciúme, conectamo-nos às forças cósmicas que sustentam a harmonia do universo.

Joana de Angelis, no livro 'Em Busca da Verdade', aconselha-nos a cultivar sentimentos nobres com genuína alegria. Devemos encontrar satisfação na felicidade alheia, especialmente se almejamos seguir os ensinamentos de Jesus.

sábado, 19 de maio de 2018

PARÁBOLA DAS DEZ VIRGENS

A Parábola das Dez Virgens: Uma Análise Espiritual e Psicológica

A Parábola das Dez Virgens: Uma Análise Espiritual e Psicológica

A Parábola Original

O reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do esposo. E cinco delas eram prudentes, e cinco insensatas. As insensatas, tomando as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo. Mas as prudentes levaram azeite em suas vasilhas, com as suas lâmpadas. E, tardando o esposo, tosquenejaram todas, e adormeceram. Mas à meia-noite ouviu-se um clamor: Aí vem o esposo, saí-lhe ao encontro. Então todas aquelas virgens se levantaram, e prepararam as suas lâmpadas. E as loucas disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas se apagam. Mas as prudentes responderam, dizendo: Não seja caso que nos falte a nós e a vós, ide antes aos que o vendem, e comprai-o para vós. E, tendo elas ido comprá-lo, chegou o esposo, e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas, e fechou-se a porta. E depois chegaram também as outras virgens, dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos. E ele, respondendo, disse: Em verdade vos digo que vos não conheço. Vigiai, pois, porque não sabeis nem o dia e nem a hora. Mateus 25, 1-13.

Interpretação e Contexto

Embora muitas interpretações desta parábola tenham um enfoque escatológico, as palavras de Jesus oferecem múltiplas perspectivas. É plenamente possível entendê-la não apenas como uma visão do fim dos tempos, mas também como um convite ao autoconhecimento.

Ao utilizar elementos de um casamento tradicional judeu como pano de fundo, Jesus destaca a ideia de uma união cósmica e de uma conexão profunda, como um pilar que sustentará todas as outras imagens e mensagens contidas no texto.

A parábola descreve o encontro de dez virgens com o noivo. Segundo a tradição judaica, durante a cerimônia de casamento, a noiva era acompanhada por suas amigas no trajeto até o noivo. Este, por sua vez, também caminhava em direção à casa da noiva, ladeado por seus amigos.

Simbolismo Espiritual

No entanto, na parábola, Jesus omite qualquer menção à noiva, focando apenas em suas amigas, as virgens. Isso se dá porque Jesus não alude a um casamento terreno, mas sim à união entre a humanidade — o Seu rebanho — e Ele mesmo, o divino pastor.

Simbolicamente, Jesus é retratado como o noivo da humanidade, conforme evidenciado em Mateus 9:14-17. Essa representação também é reforçada na resposta à questão 309 do livro "O Consolador", ditado pelo espírito Emmanuel e psicografado por Chico Xavier.

O Reino dos Céus

Um dos pontos centrais da parábola é a analogia do reino dos céus com as dez virgens que se dirigem ao encontro do noivo. Jesus frequentemente se referiu ao "reino dos céus", utilizando diversas metáforas e elementos cotidianos da vida do povo judeu para facilitar a compreensão. Em Lucas 17:20-21, o Mestre clarifica sua mensagem, declarando que o reino não se localiza externamente, mas reside no interior de cada indivíduo. Isso sublinha que o "reino dos céus" não é um lugar físico, mas sim um estado interno de harmonia, equilíbrio e regência pelo amor incondicional.

Observamos, também, que as virgens, ao serem comparadas ao reino dos céus, avançam em direção ao noivo. Isso sugere que esse estado interno de harmonia, equilíbrio e domínio pelo amor incondicional não é algo que se recebe passivamente, mas uma conquista que exige esforço ativo.

O Simbolismo do Número Dez

A escolha do número dez na parábola também é significativa. Na tradição judaica, os números carregam profundos significados simbólicos. O número dez, em particular, representa perfeição e totalidade. Assim, as dez virgens podem ser vistas como um símbolo da busca completa e perfeita pela harmonia interior e pelo amor incondicional.

Na parábola, as dez virgens não representam uma unidade perfeita e coesa, pois enquanto metade delas é descrita como prudente, a outra metade é caracterizada como imprudente. Assim, a imagem das dez virgens ilustra uma totalidade que, apesar de completa, possui suas metades em desequilíbrio.

Psicologia Profunda e Autoconhecimento

Esta analogia pode ser estendida à humanidade atualmente encarnada no planeta. Em um mundo de provas e expiações como o nosso, o psiquismo humano, devido aos seus inúmeros conflitos internos, apresenta-se fragmentado. Existe uma parte de nós que é consciente e conhecida, enquanto outra permanece oculta e misteriosa. Há uma faceta que age com prudência e discernimento, e outra que pode ser impulsiva e até assustadora. Da mesma forma, enquanto uma parte de nós consegue controlar e dominar nossas tendências, a outra pode estar repleta de imperfeições e vícios que, por vezes, sobrepõem-se à nossa razão. Esta dualidade reflete a contínua luta interna que muitos enfrentam em sua jornada espiritual e evolutiva.

Joana de Angelis, através da série psicológica psicografada por Divaldo Franco, faz alusão ao pensamento de Carl Jung para elucidar aspectos profundos da psique humana. Segundo essa perspectiva, a parte desconhecida da personalidade abriga conteúdos psíquicos que o EU (ou SELF, conforme a terminologia junguiana) não reconhece conscientemente. Estes conteúdos estão armazenados no que é chamado de inconsciente profundo.

Este repositório oculto do inconsciente frequentemente exerce uma influência poderosa sobre nossas ações e decisões, levando-nos a agir de maneiras surpreendentes que, por vezes, contradizem nossa própria compreensão consciente. É como se existisse uma força interior, raramente reconhecida, capaz de direcionar aspectos significativos de nossa existência.

Considerando a influência profunda e misteriosa do inconsciente sobre o comportamento humano, compreende-se por que o autoconhecimento tornou-se um tema central nas parábolas de Jesus. O Mestre enfatizou a importância do olhar interior, do reconhecimento e da integração de todas as dimensões do ser, como caminho para uma vida mais plena e alinhada com o amor e a verdade divinos.

O Sono Espiritual e o Despertar

Outro aspecto marcante da parábola é o sono que acomete todas as virgens. Mesmo estando equipadas com suas lamparinas, em determinado ponto da espera pelo noivo, todas adormecem devido à sua demora.

O sono, neste contexto, pode ser interpretado como uma metáfora para a inércia espiritual. Representa a estagnação e a inatividade do espírito, simbolizando a ausência do esforço contínuo e necessário para o autoconhecimento. Esse estado de "sono" reflete o comodismo, o desinteresse e o descaso na jornada de despertar da consciência. É uma postura passiva diante da vida e da evolução espiritual.

Essa inércia, simbolizada pelo sono, prende o ser humano ao estágio evolutivo em que se encontra, atuando como uma espécie de anestesia para a vontade e o ímpeto de crescimento. Em vez de avançar e buscar a iluminação e o entendimento, a alma permanece adormecida, perdendo oportunidades valiosas de evolução e aprendizado.

O Despertar da Consciência

O momento em que as virgens são despertadas pela chegada inesperada do noivo é, sem dúvida, o clímax da parábola. Jesus, em sua maestria, utiliza simbolismos profundos e transcendentais para transmitir seus ensinamentos. A chegada do noivo à meia-noite não é um detalhe trivial. A meia-noite, marcada pelo encontro dos ponteiros do relógio, simboliza o fim de um ciclo e o início de outro.

Dentro desse contexto, a chegada do noivo nesse momento específico sugere que o despertar espiritual pode ocorrer justamente quando menos esperamos, no limiar entre duas fases de nossa existência. É um lembrete de que a oportunidade para a transformação e o crescimento espiritual pode surgir a qualquer momento, e que devemos estar sempre preparados e vigilantes para recebê-la.

Nas cartas de Paulo aos Romanos, capítulo 13, versos 11-12, destaca-se a advertência do apóstolo do Cristo: "Reconheceis o momento em que viveis, já é hora de despertar do sono. A noite está avançada, o dia se aproxima. Rejeitemos, pois, as obras das trevas, e vistamo-nos das armas da luz."

A parábola aponta para o despertar da consciência, pois a humanidade já se encontra em condições de realizá-lo. Ao despertarem, as virgens percebem que não podem mais seguir juntas, pois durante o sono suas lâmpadas se apagaram e metade delas não tinha azeite suficiente para mantê-las acesas.

O Confronto com as Máscaras Psicológicas

As virgens insensatas representam as máscaras que criamos para sustentar nossas pseudovirtudes. Quando o ser humano não busca o autoconhecimento, quando se recusa a aceitar-se, quando não se perdoa, alimenta para si falsas virtudes, numa tentativa ilusória de compensar-se, acreditando ser o que não é.

Todo movimento ilusório, do ponto de vista psicológico, um dia perde o combustível e não consegue sustentar-se, levando o ser a experimentar, muitas vezes, um despertar doloroso, como aconteceu com as virgens que, só então, perceberam o quanto se equivocaram.

Surge, novamente, a necessidade de se autodescobrir, para o trabalho de transformação moral, abandonando as máscaras e todos os outros artifícios psicológicos que evitam o despertar da consciência, rumo à plenitude espiritual.

Por fim, considere-se que a separação das virgens retrata a divisão de um todo. No caso da parábola, metade luz, metade trevas. Neste aspecto, já advertira o Cristo: "Todo reino dividido contra si mesmo será destruído. Toda cidade, toda casa dividida contra si mesma não pode subsistir". Mateus 12:25.

Conclusão

Jesus termina a parábola recomendando orai e vigiai porque não sabemos o dia e a hora.

Aproveitar a encarnação para o exercício do autoconhecimento é missão de todos aqueles que buscam os patamares superiores da vida. O relógio da imortalidade já marcou meia noite. É chegada a hora!

domingo, 22 de abril de 2018

PARÁBOLA DO GRANDE BANQUETE

A Parábola do Grande Banquete - Uma Análise Espiritual Profunda

A Parábola do Grande Banquete: Uma Análise Espiritual

Um certo homem preparou um grande banquete e convidou a muitos. Na hora do banquete, enviou seu servo avisar os convidados: Vinde, já está preparado. E todos, um após um, foram se desculpando. O primeiro disse: Comprei um terreno e preciso examiná-lo; por favor, aceite minhas desculpas. O segundo disse, comprei cinco juntas de bois e vou prová-los por favor, aceite minhas desculpas. O terceiro disse: acabo de casar e não posso ir. O Servo voltou para informar o senhor. Então o senhor da casa, irritado, disse ao seu servo: Sai depressa pelas ruas e vielas da cidade e trazei para cá os pobres, mutilados, cegos e coxos. O servo lhe disse: Senhor, foi feito como ordenastes, e ainda sobra lugar. O senhor disse ao servo: Sai pelos caminhos e atalhos e obriga-os a entrar, para que a minha casa se encha. Lucas 14:16-24.

A Essência da Parábola

Esta parábola nos apresenta uma profunda ilustração da realidade do espírito imortal em sua jornada evolutiva. Em sua estrutura, encontramos elementos que revelam como o amor divino se manifesta de diferentes formas para alcançar todos os seus filhos. O homem que organiza o banquete simboliza Deus, e o servo único representa a manifestação constante da vontade divina, que se adapta às diferentes circunstâncias mas mantém seu propósito fundamental: trazer todos ao banquete da comunhão com o Criador.

Todos os seres criados por Deus têm como destino a perfeição. É uma fatalidade da qual ninguém pode escapar. O ser humano pode estacionar temporariamente em sua jornada, mas não pode evitar o progresso, pois Deus exerce sobre todos os seus filhos uma força magnética à qual, cedo ou tarde, ninguém consegue resistir. O caminho em direção a Deus é inevitável, embora possa se manifestar através de diferentes experiências.

O Significado do Banquete

Na cultura judaica, um banquete representava muito mais que uma simples refeição. Era uma ocasião de profunda significação espiritual e social, reservada para estabelecer vínculos importantes e comunhão íntima. Ao utilizar esta metáfora, Jesus ilustra o desejo de Deus de estabelecer uma relação próxima com todas as suas criaturas.

Esta comunhão plena só será alcançada quando o espírito atingir a perfeição necessária, conforme esclarecido na questão 11 do Livro dos Espíritos:

"Será dado um dia ao homem compreender o mistério da Divindade?"

"Quando não mais tiver o espírito obscurecido pela matéria. Quando, pela sua perfeição, se houver aproximado de Deus, ele o verá e compreenderá."

O Servo e as Três Missões

Na parábola, vemos um único servo que recebe três missões diferentes. Esta estrutura é fundamental para compreendermos como a vontade divina se manifesta de formas diferentes, adaptando-se às circunstâncias e à receptividade dos espíritos, mas mantendo sempre sua essência amorosa.

Primeira Missão: O Chamado pelo Amor

O servo primeiramente é enviado para avisar aos convidados que o banquete está pronto. Os dois verbos iniciais, "convidar" e "avisar", simbolizam os chamados e os alertas do amor. Este momento representa o chamado inicial de Deus, que oferece a todos a oportunidade de evolução por meio do amor. As recusas dos convidados ilustram como frequentemente as pessoas priorizam questões materiais em detrimento do crescimento espiritual.

As Três Áreas de Provação

É importante compreender que as experiências fundamentais dos espíritos em mundos de provas e expiações, como a Terra, manifestam-se principalmente através de três esferas essenciais da vida: o trabalho, as relações afetivas e a gestão do patrimônio. Estas não são meras áreas de atividade humana, mas representam campos de aprendizado onde os princípios divinos podem ser exercitados e compreendidos em profundidade.

No campo do trabalho, o espírito aprende sobre cooperação, responsabilidade, criatividade e serviço ao próximo. Através das relações afetivas, desenvolve o amor incondicional, a compaixão, o perdão e a superação do egoísmo. Na gestão do patrimônio, exercita o desapego, a generosidade, a justiça e a administração sábia dos recursos que lhe são confiados.

Estas três esferas não são escolhidas arbitrariamente, mas constituem os campos naturais onde o espírito pode desenvolver virtudes essenciais ou, quando mal orientado, desviar-se temporariamente de seu caminho evolutivo. São como salas de aula onde cada experiência, seja ela considerada positiva ou negativa, oferece oportunidades de aprendizado e crescimento espiritual.

É por meio destas vivências cotidianas que o espírito tem a oportunidade de transformar conhecimento em sabedoria, teoria em prática, e compreensão intelectual em vivência moral. Cada situação apresenta escolhas que podem aproximá-lo ou afastá-lo temporariamente de seu objetivo evolutivo, embora o progresso final seja inevitável.

Segunda Missão: O Chamado pela Expiação

Após as recusas iniciais, o mesmo servo é enviado às ruas e vielas para trazer os pobres, mutilados, cegos e coxos.

Ao desperdiçar oportunidades de evolução através do exercício de virtudes e da aquisição de conhecimentos nas experiências vividas no âmbito do trabalho, patrimônio e relações afetivas, o indivíduo acumula sérios débitos para consigo mesmo. Assim, mais tarde, ele é conduzido, e não apenas convidado, a evoluir por meio de experiências expiatórias.

O segundo servo simboliza a expiação. Por essa razão, Jesus emprega o verbo 'trazer' (ou 'buscar', dependendo da tradução do texto) ao se referir a ele. Esse uso verbal destaca uma certa imposição. Daí a menção aos pobres, cegos, coxos e mutilados. Estes não representam deficiências físicas, mas sim espirituais. Em expiação, encontram-se aqueles que são pobres em amor ao próximo, cegos de espírito, mutilados de coração e coxos em seus sentimentos, todos por não terem aproveitado adequadamente as oportunidades de caminharem em direção a Deus por meio do amor.

A Resposta à Expiação: Resignação ou Revolta

As experiências agora são difíceis porque o orgulho cegou a alma, a vaidade mutilou os sentimentos e o egoísmo impediu o amor de expressar-se fraternalmente como Jesus ensinou.

As experiências expiatórias despertam na alma humana dois sentimentos distintos: resignação e revolta.

A resignação conduz o espírito de volta ao caminho do amor, pois reconhece que os desafios presentes são reflexos de erros passados. Essa aceitação diante das adversidades é a manifestação da compreensão profunda das palavras de Cristo: "Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados.

Já a revolta tem um efeito paralisante sobre o espírito, fazendo-o estagnar em sua jornada. Esse estado perdura até que, eventualmente, o espírito seja compelido a prosseguir em sua caminhada evolutiva.

Terceira Missão: O Chamado pela dor

Na última missão, o servo é enviado aos caminhos e atalhos para compelir todos a entrarem. Esta fase representa a universalidade do amor divino, que não desiste de nenhum de seus filhos e utiliza diferentes meios para alcançá-los.

O emprego do verbo 'forçar' por Jesus não foi aleatória. Ele quis enfatizar que todas as criaturas, inevitavelmente, alcançarão a perfeição, seja pelo caminho do amor ou pelo da dor.

Quando as oportunidades de evolução pelo amor são negligenciadas, o ser é impelido a crescer através de experiências expiatórias. Estas, gradualmente e por meio da resignação,reconduzirão ao caminho do amor.

Contudo, se, diante da expiação, a alma opta por nutrir uma revolta silenciosa contra todos e contra Deus, resistindo ao crescimento espiritual, ela será compelida a avançar sob o peso da dor e do sofrimento, em múltiplas vivências, até que reencontre o caminho do amor.

Por isso, na parábola, a última missão do servo foi consuzir,por meio do sofrimento, todas as almas revoltadas, rebeldes e persistentes no erro a marcharem rumo a Deus.

A Manifestação do Amor Divino

A progressão das missões do servo demonstra como o amor divino se adapta às diferentes necessidades e resistências dos espíritos. Não há uma divisão entre amor e expiação, mas sim diferentes manifestações do mesmo amor divino, que busca alcançar cada espírito da maneira mais adequada ao seu estado evolutivo.

Quando as oportunidades iniciais não são aproveitadas, novas circunstâncias são criadas, não como punição, mas como novas expressões do amor divino, buscando despertar a consciência espiritual através de diferentes experiências e desafios.

O Caminho Inevitável

A progressão das missões do servo ilustra uma verdade fundamental: todos os espíritos, em algum momento, responderão ao chamado divino. A escolha do verbo "compelir" na última missão não sugere uma imposição punitiva, mas sim a inevitabilidade do progresso espiritual.

Esta compreensão nos permite perceber que todas as experiências, sejam elas aparentemente fáceis ou difíceis, são manifestações do mesmo amor divino, adaptando-se às necessidades evolutivas de cada espírito. O objetivo final permanece constante: conduzir todos os espíritos ao banquete divino, à comunhão plena com o Criador.

segunda-feira, 12 de março de 2018

PARÁBOLA DOS DOIS ALICERCES

A Parábola dos Dois Alicerces: Uma Análise Espírita

A Parábola dos Dois Alicerces: Uma Análise Espírita

Todo aquele que vem a mim, ouve as minhas palavras e as pratica, será comparado ao homem prudente, que edificou sua casa, cavou fundo, aprofundou e colocou os alicerces sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as torrentes, sopraram os ventos, precipitaram-se contra aquela casa, mas não desabou pois fora edificada sobre a rocha. Mas o que ouve as minhas palavras e não pratica será comparado ao homem tolo, que edificou sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, vieram as torrentes, sopraram os ventos, chocaram-se contra aquela casa; desabou, e foi grande a sua queda.

Mateus 7:24-27 e Lucas 6:46-49

A Interpretação Espírita dos Dois Padrões Mentais

A parábola dos dois alicerces, iluminada pelas revelações espíritas, permite-nos compreender que Jesus abordava dois padrões mentais distintos, ou dois níveis de consciência.

O Homem Prudente: O Primeiro Nível de Consciência

No primeiro nível, simbolizado pelo homem prudente (lúcido e desperto), temos a figura daquele que se volta para dentro de si mesmo em busca de autoconhecimento. Esse homem absorve as lições de Jesus e as incorpora em seu comportamento, vivendo as experiências da vida em conformidade com os ensinamentos do Cristo. Ele demonstra consciência, tanto no aspecto psicológico quanto espiritual, de que sua verdadeira felicidade não se encontra na satisfação das demandas do ego. Ele reconhece que os ensinamentos do Mestre constituem um roteiro seguro para alcançar a saúde, a paz, a plenitude espiritual e a felicidade. Por isso, age de maneira coerente, colocando em prática aquilo que aprende.

O Homem Tolo: O Segundo Nível de Consciência

No segundo nível de consciência, simbolizado pelo homem insensato, temos a imagem de alguém que direciona seu foco para o exterior, concentrando-se exclusivamente no mundo ao seu redor. Esse indivíduo até absorve os ensinamentos de Jesus, mas não os aplica em sua vida prática. Essa incapacidade decorre do fato de que a criatura humana, ainda não desperta para as realidades superiores da existência, permanece voltada prioritariamente para os aspectos materiais e para a satisfação das necessidades imediatas e fisiológicas.

Embora ouça as palavras do Mestre, ele as percebe de forma superficial, como um símbolo distante ou uma ideia abstrata, sem relação concreta com sua própria experiência de vida. Assim, falta-lhe o movimento interior necessário para transformar os ensinamentos em vivências, permanecendo preso à ilusão de que a felicidade reside exclusivamente nas conquistas externas e passageiras.

A Dualidade dos Padrões de Consciência

De forma concisa, podemos compreender que o homem prudente concentra-se em seu mundo interior, vivendo no reino de Deus, que está dentro de si, enquanto o homem insensato está voltado para o mundo exterior, vivendo no reino do mundo, que está fora. O primeiro aborda as experiências da vida com clareza espiritual, enquanto o segundo permanece adormecido psicologicamente e espiritualmente. O prudente ouve as lições de Jesus e se empenha em colocá-las em prática, enquanto o insensato as aprecia, reconhece sua beleza, mas não as assimila por falta de disposição interna.

Segundo a parábola, o primeiro padrão de consciência é capaz de enfrentar provações e expiações, pois aceita sua natureza espiritual imperfeita e consegue dominar os impulsos do ego. Já o segundo padrão de consciência falha ao lidar com desafios mais intensos, resistindo à aceitação de sua própria imperfeição espiritual. Incapaz de controlar os impulsos do inconsciente, ele sofre com doenças, vícios, depressão e, em casos extremos, pode até buscar o suicídio. A parábola destaca que a queda desse segundo padrão de consciência é profunda e dramática, evidenciando as consequências de uma vida desconectada dos valores espirituais.

O Exemplo de Pedro e Judas

O Evangelho de Jesus retrata esses dois padrões mentais através das figuras de Judas e Pedro, ambos discípulos que caminharam ao lado do Cristo e absorveram Seus ensinamentos, mas que, diante das provações, acabaram traindo o Mestre.

Judas, motivado por ambições pessoais e pela ilusão das conquistas materiais, entregou Jesus por trinta moedas de prata. Esse ato revela um padrão de consciência fragilizado, incapaz de priorizar os valores espirituais acima das tentações mundanas. Sua traição simboliza a incapacidade de resistir aos apelos do ego, e, ao perceber a gravidade de sua ação, Judas é consumido pelo desespero e pela culpa. Sem encontrar forças para enfrentar o erro e buscar reparação, sua casa, edificada sobre a areia, desmorona, levando-o ao suicídio.

Pedro, por outro lado, exemplifica um padrão de consciência mais elevado, mas ainda em processo de amadurecimento. Apesar de sua profunda lealdade e amor por Jesus, em um momento de extrema pressão e medo, ele negou conhecer o Mestre por três vezes durante a prisão de Cristo. Esse ato reflete não uma traição deliberada, mas uma fraqueza temporária, evidenciando o conflito entre os valores espirituais já internalizados e os impulsos instintivos de autopreservação. Contudo, ao contrário de Judas, Pedro reconhece sua falha, arrepende-se e, posteriormente, busca realinhar-se com os ensinamentos de Jesus, mostrando que sua casa estava sendo edificada sobre a rocha, ainda que em construção.

No entanto, quando o galo canta pela terceira vez, Pedro percebe a gravidade de seu erro e inicia um movimento de arrependimento profundo, voltando-se para dentro de si. Esse esforço de transformação pessoal permite-lhe reconstruir sua vida à luz dos ensinamentos de Jesus, tornando-se um dos maiores pilares do cristianismo primitivo. Sua trajetória demonstra que sua casa estava, de fato, edificada sobre a rocha, embora precisasse ser fortalecida por meio das provações e do aprendizado.

Enquanto Pedro fazia o movimento para dentro, buscando alinhamento interior, Judas, ao contrário, permaneceu voltado para o mundo exterior, preso às ilusões e às pressões que o levaram à queda.

Ambos os casos ilustram a dualidade da natureza humana, evidenciando como a luta entre os padrões de consciência é universal e constante. A capacidade de viver de acordo com os ensinamentos espirituais pode ser comprometida pelas fraquezas e tentações do mundo material. Essa lição reforça que até mesmo aqueles que conviveram com Jesus enfrentaram batalhas internas, ressaltando a importância do esforço contínuo para alinhar-se aos valores do reino de Deus.

O Autoconhecimento como Caminho

Para identificarmos o nível de consciência em que nos encontramos na encarnação atual, Jesus nos oferece uma reflexão essencial ao dizer: Onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.

Essa frase nos convida a perguntar: onde está o nosso tesouro? Quais são os aspectos da vida que mais atraem nossa atenção? Com o que estamos ocupando nossas mentes e quais preocupações dominam nossos dias? Que tipo de pensamentos temos escolhido alimentar e nutrir?

As respostas a essas questões revelam de que forma estamos utilizando nossa energia psíquica, definindo assim o nosso nível de consciência, não sob a ótica fisiológica, mas sob a perspectiva espiritual. Elas mostram se nossas prioridades e ações refletem um movimento em direção ao reino de Deus, que está dentro de nós, ou se ainda estamos presos às ilusões e demandas externas.

Caso essa autoanálise revele que seguimos o padrão mental do homem insensato, é fundamental reconhecer a necessidade de esforço para transformação. A parábola sugere que, com o auxílio de Jesus e seus ensinamentos, podemos reorientar nossos pensamentos e atitudes, trabalhando para alcançar o padrão mental mais elevado que já vislumbramos e desejamos atingir. Esse movimento é um ato de coragem e comprometimento com o autoconhecimento e a espiritualidade, fortalecendo a edificação da nossa casa sobre a rocha.

E,para isso, a doutrina espírita oferece valioso auxílio ao nos ensinar como trilhar esse caminho de transformação. A questão 919 de O Livro dos Espíritos nos aponta a direção:

Conhece-te a ti mesmo.

Essa máxima, conhecida desde os tempos da filosofia grega, é reforçada pela orientação espiritual como a chave para o progresso moral e espiritual.

Conclusão: A Construção do Ser Interior

Construir a casa sobre a rocha, vivenciando os ensinamentos de Jesus, é um processo que se realiza no mundo íntimo, exigindo um esforço árduo e contínuo de autoconhecimento. Essa edificação não é apenas um ato de vontade, mas um trabalho profundo e gradual no campo dos sentimentos e da consciência.

Por meio do autoconhecimento, o indivíduo aprende a identificar e reduzir as demandas do ego, criando espaço para que o Eu interior (Self) se manifeste plenamente. Esse movimento simboliza a transformação do homem velho, preso às ilusões e fragilidades do mundo, em um homem novo, alinhado com os valores espirituais e com a essência divina que habita em cada um de nós.

Esse processo não deve ser encarado como uma batalha, mas como um ato de iluminação das sombras internas, seguindo o convite de Francisco de Assis:Onde houver trevas, que eu leve a luz.Ao iluminar as áreas obscuras de nossa mente e coração, deixamos de resistir às provações e passamos a integrá-las como oportunidades de aprendizado e evolução.

O propósito do autoconhecimento, portanto, é justamente esse: trazer luz ao nosso mundo interior, permitindo que, iluminados pelos ensinamentos de Jesus e pela prática do evangelho, possamos caminhar com firmeza e segurança, evitando os tropeços que surgem da ignorância ou do desconhecimento de nossa própria natureza. É esse trabalho constante que fortalece nossa edificação espiritual sobre a rocha inabalável da fé e da consciência elevada.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

JESUS E O MOÇO RICO

O Encontro de Jesus com o Moço Rico - Uma Lição sobre Valores e Desapego

O Encontro de Jesus com o Moço Rico

Introdução

O encontro de Jesus com o moço rico, registrado em Mateus, 19:16 a 24; Lucas, 18:18 a 25; e, Marcos, 10:17 a 25, surge como um autêntico convite à reflexão acerca dos valores que escolhemos para serem o epicentro de nossas existências.

O Contexto Histórico do Encontro

De início, é digno de realce o gesto do jovem rico ao se dirigir ao encontro de Jesus. Estando ele na juventude e gozando de riqueza, pertencia à elite judaica. Em contrapartida, Jesus representava um homem do povo, circulando entre as fileiras da multidão composta por desfavorecidos, enfermos e indivíduos de reputação questionável.

Naquela época, não era frequente que um homem abastado se entrelaçasse com as massas. Ainda mais incomum era alguém de posição social proeminente, como o jovem rico, procurar o aconselhamento de um homem simples do povo.

Jesus enfrentou intensas críticas e oposições por interagir com aqueles marginalizados pela sociedade daquela época. Como resultado, indivíduos de classes sociais mais elevadas, intelectuais e eruditos evitariam buscar Jesus em público. Caso sentissem a necessidade íntima de se conectar com ele, seguindo o exemplo de Nicodemos, o doutor da lei, procurariam-no sob o manto da noite, buscando o encontro discreto a fim de minimizar a exposição.

O jovem rico, entretanto, transcende a barreira do preconceito e procura Jesus à luz do dia, revelando, por meio desse ato, a magnitude de conflitos e inquietações que carregava consigo.

O Diálogo Transformador

Ao se aproximar de Jesus, o moço lança imediatamente uma pergunta.

- Bom Mestre, que devo fazer para conseguir a vida eterna?

A pergunta visava a obter uma resposta que desvendasse o caminho para alcançar a paz interior. Afinal, é desafiador compreender por que um jovem rico estaria em busca do significado da vida eterna, a menos que estivesse à procura dessa serenidade profunda.

Jesus fixa o olhar no íntimo do jovem e, antes de responder, lhe esclarece: "Por que me chamas de bom? Não há bom senão um só, que é Deus."

Os Ensinamentos e a Resposta do Jovem

O Mestre recusa o título de bom e o redireciona para Deus, ilustrando que diante dos desafios do mundo, a busca primordial deve ser direcionada a Deus.

Logo após, Jesus responde ao jovem: "Se desejas alcançar a eternidade, observa os mandamentos: não furtarás, não darás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe, não cometerás adultério, entre outros."

Entretanto, o jovem reage com surpresa, assegurando ter sempre obedecido aos mandamentos. E ele acrescenta, indagando: "O que mais me falta?"

O Desafio do Desapego

A pergunta evidencia que o jovem, apesar de cumprir os mandamentos conforme a tradição, não experimentava uma realização espiritual completa. Isso reflete uma realidade comum a muitos seres humanos, que mesmo dedicando-se ao estudo do evangelho e ao auxílio ao próximo, não conseguem alcançar a plenitude.

"Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me".

Ao escutar essas palavras, o jovem partiu com tristeza, pois detinha muitas posses. O chamado de Jesus representava uma demanda que ele não estava disposto a aceitar, pois sua afeição por suas posses era forte demais para abdicar delas.

A Mensagem Final

Disse, então, Jesus aos seus discípulos: "em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino dos céus. E, outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus".

Essas palavras frequentemente foram mal interpretadas, levando à crença de que Jesus estava condenando a riqueza e os bens materiais.

Contudo, é evidente pelo próprio contexto que Jesus não estava condenando a riqueza, uma vez que os próprios discípulos compreenderam isso e, consequentemente, questionaram: "Nesse caso, quem pode ser salvo?"

Se Jesus estivesse realmente condenando a riqueza, a pergunta dos discípulos — "Quem então poderá salvar-se?" — não faria sentido, especialmente considerando que eles eram pessoas de poucos recursos. O cerne da mensagem concentra-se no desapego dos bens terrenos, uma qualidade que tanto ricos quanto pobres podem cultivar.

Reflexões sobre o Materialismo Contemporâneo

A centralização dos interesses na posse de bens materiais levou a uma sociedade profundamente materialista e consumista, com um forte apego aos bens terrenos.

Esse apego aos bens materiais se manifesta de maneira óbvia em diversos momentos, inclusive nos momentos mais simples e cotidianos. Seja na satisfação e alegria ao adquirir novos objetos, na necessidade de exibi-los, ou mesmo na tristeza que surge ao perder um bem.

O materialismo também se evidencia nas ações humanas quando se empenha em múltiplas atividades com fins lucrativos, muitas vezes em detrimento do descanso e do convívio familiar, visando acumular recursos para concretizar um determinado desejo de consumo. Da mesma forma, se manifesta quando sentimentos negativos emergem diante da impossibilidade de adquirir o que se anseia.

Conclusão

O encontro entre Jesus e o jovem rico é um episódio repleto de convites de natureza espiritual.

O Mestre nos convida a sempre buscar Deus como solução para nossos conflitos; nos convida a empreender uma reforma íntima, eliminando as imperfeições morais que bloqueiam o desenvolvimento de virtudes genuínas; nos chama a praticar o desapego em relação aos bens materiais, e a nutrir valores espirituais, aprimorando nossas interações com os outros.

Isso porque o maior investimento que podemos realizar nesta encarnação reside no domínio dos sentimentos.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

O SINAL DE JONAS

O Sinal de Jonas: Uma Análise Espiritual Profunda

O Sinal de Jonas: Uma Análise Espiritual Profunda

Os evangelhos de Lucas e Mateus relatam que, em certa ocasião, um grupo de fariseus se aproximou de Jesus pedindo-lhe um sinal que os convencesse definitivamente de que Ele era o Messias esperado. Jesus respondeu a eles afirmando que nenhum outro sinal lhes seria dado, exceto o sinal de Jonas, que passou três dias e três noites no ventre do grande peixe.

Trata-se de um texto que exige reflexões, porque o seu conteúdo espiritual não está aparente. Ao leitor desatento, a resposta de Jesus aos fariseus parece perfeita. Os fariseus pedem a Jesus um sinal e o Mestre lhes diz que o sinal será Sua ressurreição.

No entanto, a resposta dada aponta para um conteúdo espiritual que deve ser meditado, pois Jesus não proferiu uma única palavra que carecesse de um profundo ensinamento, e também não recorreu a expedientes para atender à hipocrisia dos fariseus.

A História de Jonas

A história está registrada no Velho Testamento, no livro de Jonas. Trata-se de um livro bastante breve, com apenas quatro capítulos, que narra uma história aparentemente simples, porém repleta de conteúdo espiritual profundo.

O profeta Jonas relata que Deus o incumbiu da missão de ir até a cidade pagã de Nínive, a capital da Assíria, que era habitada por pessoas perversas e más e que eram inimigas ferrenhas de Israel. A tarefa designada a Jonas consistia em pregar ao povo e adverti-los de que o Deus de Israel os destruiria devido ao seu comportamento imoral.

Jonas, contudo, recusa essa incumbência e foge da presença de Deus. Ele segue na direção oposta e desce ao porto de Jope, onde embarca no primeiro navio disponível, com destino a Tarsis. Enquanto está em alto mar, surge uma tempestade violenta que ameaça naufragar o navio.

Os marinheiros, em estado de desespero, começam a lançar ao mar as cargas pesadas para aliviar o peso da embarcação. Enquanto isso, Jonas permanece sem se preocupar e desce ao porão do navio, onde acaba adormecendo profundamente.

Diante da tempestade, os marinheiros, cada um invocando seu próprio deus, concluem que alguém a bordo deve estar provocando a ira divina, o que causa o caos no navio. Decidem então lançar sortes para determinar quem era o culpado por essa calamidade.

A sorte recai sobre Jonas, e eles o questionam a respeito de sua responsabilidade na situação. Jonas relata-lhes toda a sua história e a missão que Deus lhe confiara. Impressionados, os marinheiros lançam Jonas ao mar, buscando aplacar a cólera divina. Nesse exato momento, surge um grande peixe, enviado por Deus, que engole Jonas, onde ele permanece por três dias e três noites.

Durante esses três dias e três noites dentro do peixe, Jonas sente-se imerso no abismo, nas profundezas do inferno. Profundamente arrependido de suas ações, ele suplica por misericórdia divina. Nesse momento, o peixe vomita Jonas em terra firme. Deus, então, aparece novamente a Jonas e lhe reitera a mesma tarefa que ele havia abandonado, ordenando-o a pregar em Nínive.

Jonas, finalmente, decide obedecer e parte para Nínive. Lá, permanece por quarenta dias, pregando ao povo sobre a vontade de Deus e alertando sobre a iminente destruição da cidade. Os ninivitas, ao ouvirem a mensagem de Jonas, sentem-se profundamente tocados e começam a crer no Deus de Israel, mudando seus caminhos de forma definitiva.Diante desse arrependimento sincero, Deus demonstra misericórdia e não executa a destruição anunciada.

No entanto, Jonas fica descontente e inconformado com o fato de Deus ter poupado os ninivitas, que eram seus inimigos declarados. Ele expressa sua frustração em oração, pedindo que Deus lhe tire a vida, pois preferiria morrer a testemunhar a compaixão de Deus para com seus inimigos.

Deus, em resposta às súplicas de Jonas, não lhe retira a vida, mas faz crescer uma grande planta sobre sua cabana, proporcionando-lhe sombra e frescor. Jonas se alegra imensamente com isso. Entretanto, Deus envia um verme para destruir a planta, deixando Jonas novamente exposto ao sol escaldante.

Nesse momento, Jonas expressa sua frustração e pede novamente a Deus que lhe seja tirada a vida. Deus, por sua vez, questiona Jonas sobre sua intensa revolta diante da perda de uma simples árvore. Ele acentua que essa árvore não foi plantada por Jonas e surgiu e desapareceu em um único dia.

Deus utiliza essa situação para fazer Jonas compreender que se ele sentiu compaixão por uma planta, quanto mais Deus deve sentir compaixão pelo povo de Nínive, que é um povo que mal conhecia a diferença entre suas mãos.

E, assim, termina a história de Jonas.

Reflexões Espirituais

Alguns aspectos da história de Jonas merecem uma reflexão cuidadosa. Antes de tudo, é importante destacar que o final do texto, escrito aproximadamente entre o século V e VII a.C., apresenta uma visão de Deus diferente daquela revelada por Moisés.

O texto sugere um Deus de amor, paciente com todos, que não se cansa diante das fraquezas humanas, do egoísmo, da falta de vontade e do orgulho de seus filhos. Ele é retratado como um Deus que oferece oportunidades de recomeço e que nunca nos abandona, mesmo quando nos encontramos nas sombras devido à nossa própria rebeldia. Esse aspecto enfatiza a misericórdia e a compaixão divina, ressaltando o desejo de Deus de oferecer oportunidades para que as pessoas se redimam e se transformem.

O final do texto ressalta um padrão mental humano equivocado, marcado pelo egocentrismo e egoísmo. Mostra como muitos buscam o amor de Deus apenas para si mesmos, acreditando merecer perdão e misericórdia, enquanto secretamente desejam a punição daqueles que os ofenderam.

O início do texto, que apresenta a missão de Jonas, é de fato um ponto importante de reflexão. A missão atribuída a Jonas nos convida a refletir sobre nossa própria missão e propósito na vida, pois a cada ser humano é confiado uma missão singular que está alinhada com suas necessidades evolutivas.

Entre as diversas missões que Deus confia a Seus filhos, a mais relevante é a missão no lar, ao lado daqueles a quem Jesus colocou ao nosso lado, ou seja, nosso próximo mais próximo.

Jonas simboliza o psiquismo que decide rejeitar a missão divina que lhe foi confiada e faz uso equivocado do livre arbítrio, optando pela fuga. Ao evadir-se de sua tarefa, Jonas imediatamente inicia um processo de queda, revelando, assim, uma lei divina e universal. Três momentos evidenciam essas quedas de Jonas: ele desce a Jope, desce ao navio e desce ao porão da embarcação, entregando-se a um profundo sono, caracterizado pela inércia, irresponsabilidade e conformismo.

Aplicação para Nossa Vida

É exatamente isso que acontece quando fugimos da missão que Deus nos confiou: fazemos um movimento de queda vibratória.

O lar é a nossa Nínive, onde estão aqueles espíritos ligados a nós pelos laços mais santos. Perdoar e servir a esposa ou o esposo complicado, o filho rebelde, o irmão ignorante e cheio de vícios, a sogra perturbada, o genro orgulhoso, a nora cega de vaidade, o pai e a mãe muitas vezes difíceis, incompreensíveis, insensíveis, castradores, entre outros, é realmente um desafio. Diante desse quadro, muitos optam por fugir.

Essa fuga se manifesta de diversas maneiras, como passar mais tempo fora de casa envolvido em diferentes atividades; em outras ocasiões, ocorre através do mergulho nos vícios, bem como em outros relacionamentos, ou até mesmo por meio de enfermidades. É notável quantas patologias podem ser entendidas como verdadeiras tentativas de escapar das responsabilidades e desafios que o convívio no lar e com aqueles que nos são mais próximos apresentam. No entanto, enfrentar essas situações de frente, com amor, paciência e compreensão, pode levar a um crescimento pessoal profundo e ao fortalecimento dos laços familiares, transformando o lar em um espaço de aprendizado e evolução espiritual.

Todas as nossas quedas morais resultam do uso equivocado do livre arbítrio, nos conduzindo por um caminho de descida e queda. No entanto, Deus nunca nos abandona. Ele proporciona novas oportunidades àqueles que cometem erros e caem. O recomeço coloca o viajante na mesma encruzilhada que antes recusou seguir. A mesma tarefa é novamente confiada a ele. Isso também aconteceu com Jonas; depois de reconhecer seu erro, pedir uma nova chance e passar por um longo período de quedas, tormentos e escuridão, Deus o enviou mais uma vez a Nínive.

Analisemos o perfil de Jonas e façamos uma reflexão bastante sincera, buscando identificar os traços de Jonas em nós. E tenhamos ânimo e coragem para sermos fiéis aos compromissos que Deus nos confiou, a fim de avançarmos, deixando para trás o ponto a que temos nos demorado tanto.

domingo, 22 de janeiro de 2017

LEGIÃO, PORQUE SOMOS MUITOS!

O Homem de Gadarenos: Uma Lição Espiritual

O Encontro com Jesus

Jesus passava pela região dos gadarenos quando um homem emergiu das sepulturas e correu ao Seu encontro assim que O avistou. Esse não era um homem comum; há muito tempo estava possuído por demônios. De aparência desgrenhada, parcialmente despido, com olhos vitrificados e alimentando-se de restos, ele habitava o local destinado às sepulturas.

Ao ver Jesus, o homem correu e prostrou-se diante da Luz do Mundo, exclamando: "Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Peço que não me atormentes." Jesus perguntou: "Qual é o teu nome?" Ele respondeu: "Legião é o meu nome, pois somos muitos."

Naquele momento, uma manada de porcos passava por ali. O homem implorou a Jesus que não os expulsasse da província. Os demônios rogaram: "Envia-nos para os porcos, para que entremos neles." Jesus consentiu, e os espíritos imundos entraram nos porcos. A manada se precipitou por um despenhadeiro no mar e se afogou.

O Significado Espiritual da Narrativa

O texto conduz a lições profundas que vão além da narrativa aparente. Literalmente, a história fala de um homem vítima de obsessão espiritual. No entanto, ao encontrar Jesus, a personificação do amor, ele corre ao Seu encontro, suplicando que o deixe em paz, pois seu tempo ainda não havia chegado (Mt 8:29).

O diálogo se estabelece com a legião de espíritos que sugavam as energias vitais do homem (Mc 5:9-13). Eles pedem a Jesus que lhes permita entrar nos porcos que passavam por ali, e o Mestre concede. Consumada a transferência, a manada se atira penhasco abaixo e se afoga no mar.

Reflexão e Autoconhecimento

O texto nos convida a um autoexame. Questiona o cultivo de "sepulcros" internos, onde abrigamos paixões, pensamentos e emoções infelizes. O autoconhecimento é uma recomendação constante nas mensagens de Jesus. Contudo, muitos, ocupados com as trivialidades do mundo, negligenciam essa prática. E quando a morte chega, surpreendem-se ao perceber que sua mente foi um depósito de cadáveres emocionais, alimentando longos processos de auto-obsessão.

Emmanuel, no livro "Pão Nosso", capítulo 32, reflete sobre o tema: "Luta contra os cadáveres de qualquer natureza que se abriguem em teu mundo interior. Deixa que o divino sol da espiritualidade te penetre, pois, enquanto fores ataúde de coisas mortas, serás seguido, de perto, pelas águias da destruição."

Consciência e Evolução Espiritual

É preciso questionar quem está no comando de nossas ações, pensamentos e desejos. Estamos sendo guiados por nossa consciência divina ou pelas nossas imperfeições morais e vícios? Essas imperfeições consomem as energias sutis da alma e estabelecem conexões com mentes que vibram na mesma frequência, levando a processos obsessivos difíceis de romper.

Por outro lado, é crucial refletir que, embora o ser humano encarnado necessite da matéria para sua evolução, o culto ao material e ao impermanente cria amarras que o aprisionam. Isso o situa em uma faixa vibratória tão densa que sua condição se assemelha à do homem obsidiado de Gadareno. Nada conseguia libertá-lo dessa situação, pois todas as tentativas de removê-lo dali foram em vão; ele estava profundamente atado às suas próprias trevas. Ele só se libertou quando a legião de espíritos que o atormentava foi transferida para uma manada de porcos. A imagem da manada de porcos se atirando do penhasco simboliza as múltiplas reencarnações do espírito, necessárias para a superação das imperfeições morais.

O Desafio Contemporâneo

O Evangelho de Jesus é o maior tesouro enviado pelo Pai para despertar as almas do sono profundo da ignorância. No entanto, dois mil anos se passaram, e a humanidade ainda exibe os mesmos defeitos: orgulho, egoísmo, vaidade, impaciência e ignorância diante dos desafios da vida.

Quando procrastinamos a mudança de um comportamento reconhecidamente errôneo, a voz do homem de Gadareno ressoa em nosso íntimo: "Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Vieste aqui para nos atormentar antes do tempo?"

Conclusão e Chamado à Ação

O momento para a mudança é agora, não amanhã. Jesus desafia as consciências daqueles que já são capazes de entender Seu Evangelho, mas relutam em viver de acordo com Seus ensinamentos. Eles preferem permanecer, como o homem de Gadareno, nos sepulcros de suas imperfeições, vivendo com uma legião de vícios e fraquezas morais.

Lembremos do apóstolo Paulo que nos convida a despertar.

"Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará" (Efésios 5:14)

domingo, 29 de março de 2015

Deus e a ciência

O Impacto da Revolução Francesa e o Culto à Razão

A Revolução Francesa foi um dos acontecimentos mais importantes da história do Ocidente, marcando o fim da Idade Moderna e o início da Idade Contemporânea. As ideias iluministas, que a impulsionaram, instituíram o culto à razão para interpretar o mundo, questionando-se o caráter sagrado do poder, defendido pelos reis, pela aristocracia e pela Igreja. Para os iluministas, a razão poderia auxiliar todos os homens na explicação dos fenômenos da natureza e da forma de organização da sociedade.

Foi nesse período, de efervescência que precedeu a revolução francesa, que um destacado político francês, Pierre-Gaspard Chaumette, se incumbiu de projetar e organizar cerimônias nas principais igrejas no território francês, as quais foram transformadas em modernos Templos da Razão(1). A catedral de Notre Dame, Paris, foi palco da maior de todas as cerimônias. Em 10/11/1972, o altar cristão foi desmontado e um altar à Liberdade foi instalado, proclamando-se, então, a inexistência de Deus.

[1] Durante dois meses, Novembro e Dezembro de 1793, o Culto da razão se estendeu pela França. As igrejas foram desprovidas de seus aparatos tradicionais e a Deusa Razão foi entronizada em cerimônias festivas. Carlyle, referindo-se a cerimônia de Notre Dame, exclama indignado que a bailarina Candeille era levada em procissão, e acrescenta: "escoltada por música de sopro, barretes frígios, e pela loucura do mundo". Realmente tudo parecia loucura, naquele momento irreal. A tradição se esboroava. Os ídolos caíam. Bispos e padres renunciavam. Carlyle acentua que surgiram de todos os lados: "curas com suas recém-desposadas freiras". E uma bailarina da Ópera era transformada em deusa, embora apenas de maneira simbólica.

Ciência, Ateísmo e a Busca pela Compreensão

Daquele marco histórico para os dias atuais, muitas foram as opiniões e manifestações filosóficas, culturais e científicas no sentido de se negar a existência de Deus, como consciência cósmica, universal, expressão do supremo amor, que a tudo governa, com leis ainda incompreendidas pela consciência humana.

Todavia, a par das opiniões lançadas, em todos os tempos, por mentalidades apaixonadas, a atualidade registra posições ateístas de personalidades expressivas, destacando-se, nesta ocasião, a recente declaração de um dos mais notáveis cientistas que o mundo atual conheceu, o astrofísico britânico Stephen Hawking, que revelou para a imprensa mundial, em setembro de 2014, ser ateu, porquanto "não há nenhum aspecto da realidade fora do alcance da mente humana". Acrescentou, ainda, que a religião acredita em milagres, mas estes são incompatíveis com a ciência.

A Evolução do Conhecimento Científico

É verdade! Não existem milagres, nem tão pouco fenômeno natural que possa escapar à compreensão humana. À medida que o homem progride intelectualmente passa a compreender fenômenos impossíveis de serem entendidos no passado. As ferramentas desenvolvidas pela ciência moderna, capazes de penetrar o macro e o microcosmo, permitiram ao ser humano comprovar realidades impossíveis de serem sequer imaginadas naquele período em que o culto da razão fez frente ao absolutismo da monarquia. Como conceber naqueles dias a ideia da existência de universos paralelos, da teoria das cordas, dos whormlores, dos buracos negros, dos Bóson de Higgs, e tantas outras descobertas no campo da ciência, as quais revolucionaram a compreensão do universo, permitindo-se, ainda, uma melhor qualidade e maior sobrevida ao ser humano.

A Perspectiva Espírita e a Razão

Allan Kardec, em 1957, pesquisou os milagres, fenômenos naturais, até então, incompreendidos pela mente humana, e publicou o resultado de suas pesquisas no livro A gênese. Em momento algum a doutrina espírita se movimentou por caminhos desprovidos da razão. A espiritualidade explicou racionalmente, há duzentos anos, os fenômenos naturais, bem como as leis que os regem. E até hoje a ciência não conseguiu demonstrar que a doutrina dos espíritos houvesse errado em quaisquer de suas afirmações. Kardec afirmou, inclusive, que "se algum dia a ciência provar que o Espiritismo está errado em determinado ponto, abandone este ponto, e fique com a ciência".

A Evolução da Compreensão Humana

A assertiva do gênio Stephen Hawking sobre a capacidade humana de compreender todos os fenômenos naturais é fato que se solidifica com o tempo. Aquilo que a física clássica não consegue explicar, vem sendo investigado e explicado pela moderna mecânica quântica. À medida que o ser humano evoluir intelectualmente, conseguirá compreender todos os fenômenos que o cercam, antes considerados milagres, pois é assim que tem que ser: nascer, morrer, renascer e evoluir sempre. É da lei.

Fé Raciocinada e Consciência Superior

É preciso considerar que a fé espírita é raciocinada, e por isso não pode abrigar as teorias de alguns homens, que em nome da ciência, afirmam que o nada ou qualquer outro acidente sideral houvesse produzido todas as coisas, mantendo-as sob a governança de leis físicas perfeitas, muitas ainda desconhecidas pela inteligência humana.

É possível crer de forma racional na existência de uma consciência superior, cósmica, universal, causa primária de todas as coisas, sem que as descobertas científicas sejam desmerecidas. E, assim, afirmar, que Deus existe, não como O conceberam as religiões que, em Seu nome, dominaram as consciências ao longo das civilizações, proclamando guerras e cometendo crimes, os mais hediondos.

A Definição Espírita de Deus

Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas, assim definido pelos espíritos à Allan Kardec, no livro dos espíritos, questão primeira. E essa inteligência suprema já não é mais uma entidade mitológica pontuada pelas religiões, mas a única fonte para explicar a realidade do Universo.

Sete Razões Científicas para Crer em Deus

A propósito, vale a pena ler o artigo do ex-presidente da academia de ciência de Nova Iorque, Abraham Cressy Morrison, publicado pela primeira vez em janeiro de 1948, no Digest do Reader e republicada em novembro de 1960, com o título "Sete razões pelas quais um cientista crê em Deus", resumidamente comentado por Divaldo Franco em suas palestras, cujo texto segue:

1. A Rotação do Sol

Comecemos pelo movimento de rotação do sol, que é de cerca de 1.600 quilômetros horários. Se, por acaso, este movimento fosse 10 vezes menor, o que equivale dizer de 160Km/h, a vida na Terra seria impossível. Os dias teriam 120 horas, assim como as noites. E durante as 120 horas de calor, a vida seria totalmente destruída pelo excesso de luminosidade, pela ardência. E qualquer forma de vida que sobrevivesse morreria nas 120 horas de trevas, portanto de frio. Logo, alguém pensou sobre isso!

2. A Distância entre o Sol e a Terra

Se, por exemplo, o sol não se encontrasse a 150 milhões de quilômetros de distância, digamos que ele estivesse a 100 milhões, a vida seria impossível, porque os raios caloríficos seriam tão terríveis que absorveriam todas as águas e a vida desapareceria. Mas, se por acaso, o sol estivesse a 200 milhões de quilômetros de distância, a vida também seria impossível por falta de calor suficiente. Se, por acaso, a lua estivesse mais próxima da Terra, a vida seria totalmente impossível, porque as pressões magnéticas sobre as águas ergueriam marés tão altas que lavariam as cumeadas das montanhas e, através da erosão, destruiriam, duas vezes ao dia, todas formas de vida. Logo, alguém – ou algo – pensou matematicamente em como manter esse equilíbrio.

3. O Equilíbrio dos Oceanos e da Atmosfera

Se, por acaso, o fundo do mar fosse mais baixo dois metros apenas não haveria a vida na superfície da Terra, pois a água do mar absorveria o oxigênio e o gás carbônico e os seres vivos não poderiam respirar. Se, por acaso, a atmosfera da Terra, que mede 60 quilômetros, fosse menor, a vida seria totalmente impossível porque diariamente caem sobre a Terra milhões de aerólitos, pedaços de planeta. Se a atmosfera da Terra não houvesse sido necessariamente calculada, eles destruiriam a vida e provocariam milhões de incêndios diariamente. Logo, alguém pensou sobre isso!

4. O Instinto dos Animais

Ninguém sabe qual é a sede do instinto dos animais. É algo tão admirável que a Ciência ainda não localizou. Tomemos como exemplo o "nosso" João de Barro, pássaro que, quando chega a Primavera, sobe no galho mais alto da árvore mais elevada, coloca o bico na direção do vento e ele sabe de que direção virá o vento quando chegar o próximo inverno. Assim, o João de Barro constrói a casa colocando a porta no sentido oposto do vento de inverno. Se a porta for colocada errada, as suas crias morrerão. Mas o João de Barro não erra nunca.

5. O Instinto das Enguias

Vamos usar outro exemplo: o instinto das enguias, que sabem que quando procriam, elas morrem. E elas, só podem procriar em águas muito profundas. Quando chega a época da reprodução, elas nadam milhares de milhas marítimas, de todos os lados, de todos os mares, de todos os oceanos onde estão, e vão reproduzir-se nas águas abissais das Bermudas. Ali elas se reproduzem e morrem. E os seus filhos? Sem saberem de onde vieram os seus ancestrais, nadam e voltam às águas de onde vieram os seus genes. E não erram nunca. Jamais foram encontradas enguias europeias em águas americanas ou enguias americanas em águas europeias. E esse instinto foi tão caprichoso que, sabendo que a enguia europeia está mais longe do que a americana das águas das Bermudas, atrasa um ano a reprodução europeia para chegarem todas ao momento da reprodução na América Central. É maravilhoso narrar a respeito dos instintos dos animais. Mas quem ensinou primeiro pássaro fez isso. E fazem-no até hoje. E Morrison afirma crer em Deus por causa também dos instintos dos animais.

6. O Equilíbrio Térmico da Terra

Ele ainda pinça, de seus conhecimentos admiráveis, a distância que separa a Terra do sol, de aproximadamente 150 milhões de quilômetros. É ela que proporciona ao nosso mundo a tépida sensação de calor, nem insuficiente, nem exagerada para a manutenção da vida, mesmo incandescendo a superfície do astro rei 6.648 em graus centígrados. Se a Terra estivesse mais próxima do sol, seria esturricada pelo calor. Mais afastada do que na órbita elíptica atual, se perderia pela insuficiência térmica, por inadequados raios ultravioletas, infravermelhos e caloríficos, mantenedores do equilíbrio metabólico na vida vegetativa.

7. A Inteligência Superior

É evidente e racional que uma inteligência matemática e superior estabeleceu e providenciou as condições de vida para a Terra, restando uma chance em bilhões de que nosso planeta fosse o resultado de um acidente filho do acaso.

Não obstante, Deus continua sendo o Grande Anônimo, incompreendido e mal interpretado pelos humanos.