domingo, 29 de março de 2015

Deus e a ciência


A Revolução Francesa foi um dos acontecimentos mais importantes da história do Ocidente, marcando o fim da Idade Moderna e o início da Idade Contemporânea. As ideias iluministas, que a impulsionaram, instituíram o culto a razão para interpretar o mundo, questionando-se o caráter sagrado do poder, defendido pelos reis, pela aristocracia e pela Igreja. Para os iluministas, a razão poderia auxiliar todos os homens na explicação dos fenômenos da natureza e da forma de organização da sociedade.
Foi nesse período, de efervescência que precedeu a revolução francesa, que um destacado político francês, Pierre-Gaspard Chaumette, se incumbiu de projetar e organizar cerimônias nas principais igrejas no território francês, as quais foram transformadas em modernos Templos da Razão[1]. A catedral de Notre Dame, Paris, foi palco da maior de todas as cerimônias. Em 10/11/1972, o altar cristão foi desmontado e um altar à Liberdade foi instalado, proclamando-se, então, a inexistência de Deus.
Daquele marco histórico para os dias atuais, muitas foram as opiniões e manifestações filosóficas, culturais e cientificas no sentido de se negar a existência de Deus, como consciência cósmica, universal, expressão do supremo amor, que a tudo governa, com leis ainda incompreendidas pela consciência humana.
Todavia, a par das opiniões lançadas, em todos os tempos, por mentalidades apaixonadas, a atualidade registra posições ateístas de personalidades expressivas, destacando-se, nesta ocasião, a recente declaração de um dos mais notáveis cientistas que o mundo atual conheceu, o astrofísico britânico Stephen Hawking, que revelou para a imprensa mundial, em setembro de 2014, ser ateu, porquanto “não há nenhum aspeto da realidade fora do alcance da mente humana”. Acrescentou, ainda, que a religião acredita em milagres, mas estes são incompatíveis com a ciência.
É verdade! Não existem milagres, nem tão pouco fenômeno natural que possa escapar à compreensão humana. A medida que o homem progride intelectualmente passa a compreender fenômenos impossíveis de serem entendidos no passado. As ferramentas desenvolvidas pela ciência moderna, capazes de penetrar o macro e o microcosmo, permitiram ao ser humano comprovar realidades impossíveis de serem sequer imaginadas naquele período em que o culto da razão fez frente ao absolutismo da monarquia. Como conceber naqueles dias a ideia da existência de universos paralelos, da teoria das cordas, dos whormlores, dos buracos negros, dos Bóson de Higgs, e tantas outras descobertas no campo da ciência, as quais revolucionaram a compreensão do universo, permitindo-se, ainda, uma melhor qualidade e maior sobrevida ao ser humano.
Allan Kardec, em 1957, pesquisou os milagres, fenômenos naturais, até então, incompreendidos pela mente humana, e publicou o resultado de suas pesquisas no livro A gênese. Em momento algum a doutrina espírita se movimentou por caminhos desprovidos da razão. A espiritualidade explicou racionalmente, há duzentos anos, os fenômenos naturais, bem como as leis que os regem. E até hoje a ciência não conseguiu demonstrar que a doutrina dos espíritos houvesse errado em quaisquer de suas afirmações. Kardec afirmou, inclusive, que “se algum dia a ciência provar que o Espiritismo, está errado em determinado ponto, abandone este ponto, e fique com a ciência”.
A assertiva do gênio Stephen Hawking sobre a capacidade humana de compreender todos os fenômenos naturais é fato que se solidifica com o tempo. Aquilo que a física clássica não consegue explicar, vem sendo investigado e explicado pela moderna mecânica quântica.  A medida que o ser humano evoluir intelectualmente, conseguirá compreender todos os fenômenos que o cercam, antes considerados milagres, pois é assim que tem que ser: nascer, morrer, renascer e evoluir sempre. É da lei.
É preciso considerar que a fé espirita é raciocinada, e por isso não pode abrigar as teorias de alguns homens, que em nome da ciência, afirmam que o nada ou qualquer outro acidente sideral houvesse produzido todas as coisas, mantendo-as sob a governança de leis físicas perfeitas, muitas ainda desconhecida pela inteligência humana.
É possível crer de forma racional na existência de uma consciência superior, cósmica, universal, causa primaria de todas as coisas, sem que as descobertas cientificas sejam desmerecidas. E, assim, afirmar, que Deus existe, não como O conceberam as religiões que, em Seu nome, dominaram as consciências ao longo das civilizações, proclamando guerras e cometendo crimes, os mais hediondos.
Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas, assim definido pelos espíritos à Allan Kardec, no livro dos espíritos, questão primeira. E essa inteligência suprema já não é mais uma entidade mitológica pontuada pelas religiões, mas a única fonte para explicar a realidade do Universo.
A propósito, vale a pena ler o artigo do ex-presidente da academia de ciência de Nova Iorque, Abraham Cressy Morrison, publicado pela primeira vez em janeiro de 1948, no Digest do Reader e republicada em novembro de 1960, com o título “Sete razões pelas quais um cientista crê em Deus”, resumidamente comentado por Divaldo Franco em suas palestras, cujo texto segue:
1º - Comecemos pelo movimento de rotação do sol, que é de cerca de 1.600 quilômetros horários. Se, por acaso, este movimento fosse 10 vezes menor, o que equivale dizer de 160Km/h, a vida na Terra seria impossível. Os dias teriam 120 horas, assim como as noites. E durante as 120 horas de calor, a vida seria totalmente destruída pelo excesso de luminosidade, pela ardência. E qualquer forma de vida que sobrevivesse morreria nas 120 horas de trevas, portanto de frio. Logo, alguém pensou sobre isso!
2º - Se, por exemplo, o sol não se encontrasse a 150 milhões de quilômetros de distância, digamos que ele estivesse a 100 milhões, a vida seria impossível, porque os raios caloríficos seriam tão terríveis que absorveriam todas as águas e a vida desapareceria. Mas, se por acaso, o sol estivesse a 200 milhões de quilômetros de distância, a vida também seria impossível por falta de calor suficiente. Se, por acaso, a lua estivesse mais próxima da Terra, a vida seria totalmente impossível, porque as pressões magnéticas sobre as águas ergueriam marés tão altas que lavariam as cumeadas das montanhas e, através da erosão, destruiriam, duas vezes ao dia, todas formas de vida. Logo, alguém – ou algo – pensou matematicamente em como manter esse equilíbrio.
3º - Se, por acaso, o fundo do mar fosse mais baixo dois metros apenas não haveria a vida na superfície da Terra, pois a água do mar absorveria o oxigênio e o gás carbônico e os seres vivos não poderiam respirar. Se, por acaso, a atmosfera da Terra, que mede 60 quilômetros, fosse menor, a vida seria totalmente impossível porque diariamente caem sobre a Terra milhões de aerólitos, pedaços de planeta. Se a atmosfera da Terra não houvesse sido necessariamente calculada, eles destruiriam a vida e provocariam milhões de incêndios diariamente. Logo, alguém pensou sobre isso!
4º - Ninguém sabe qual é a sede do instinto dos animais. É algo tão admirável que a Ciência ainda não localizou. Tomemos como exemplo o “nosso” João de Barro, pássaro que, quando chega a Primavera, sobe no galho mais alto da árvore mais elevada, coloca o bico na direção do vento e ele sabe de que direção virá o vento quando chegar o próximo inverno. Assim, o João de Barro constrói a casa colocando a porta no sentido oposto do vento de inverno. Se a porta for colocada errada, as suas crias morrerão. Mas o João de Barro não erra nunca.
5º - Vamos usar outro exemplo: o instinto das enguias, que sabem que quando procriam, elas morrem. E elas, só podem procriar em águas muito profundas. Quando chega a época da reprodução, elas nadam milhares de milhas marítimas, de todos os lados, de todos os mares, de todos os oceanos onde estão, e vão reproduzir-se nas águas abissais das Bermudas. Ali elas se reproduzem e morrem. E os seus filhos? Sem saberem de onde vieram os seus ancestrais, nadam e voltam às águas de onde vieram os seus genes. E não erram nunca. Jamais foram encontradas enguias europeias em águas americanas ou enguias americanas em águas europeias. E esse instinto foi tão caprichoso que, sabendo que a enguia europeia está mais longe do que a americana das águas das Bermudas, atrasa um ano a reprodução europeia para chegarem todas ao momento da reprodução na América Central. É maravilhoso narrar a respeito dos instintos dos animais. Mas quem ensinou primeiro pássaro fez isso. E fazem-no até hoje. E Morrison afirma crer em Deus por causa também dos instintos dos animais.
Sexta razão: Ele ainda pinça, de seus conhecimentos admiráveis, a distância que separa a Terra do sol, de aproximadamente 150 milhões de quilômetros. É ela que proporciona ao nosso mundo a tépida sensação de calor, nem insuficiente, nem exagerada para a manutenção da vida, mesmo incandescendo a superfície do astro rei 6.648 em graus centígrados. Se a Terra estivesse mais próxima do sol, seria esturricada pelo calor. Mais afastada do que na órbita elíptica atual, se perderia pela insuficiência térmica, por inadequados raios ultravioletas, infravermelhos e caloríficos, mantenedores do equilíbrio metabólico na vida vegetativa.
Sétima razão: É evidente e racional que uma inteligência matemática e superior estabeleceu e providenciou as condições de vida para a Terra, restando uma chance em bilhões de que nosso planeta fosse o resultado de um acidente filho do acaso.
Não obstante, Deus continua sendo o Grande Anônimo, incompreendido e mal interpretado pelos humanos.
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[1] Durante dois meses, Novembro e Dezembro de 1793, o Culto da razão se estendeu pela França. As igrejas foram desprovidas de seus aparatos tradicionais e a Deusa Razão foi entronizada em cerimônias festivas. Carlyle, referindo-se a cerimônia de Notre Dame, exclama indignado que a bailarina Candeille era levada em procissão, e acrescenta: "escoltada por música de sopro, barretes frígios, e pela loucura do mundo". Realmente tudo parecia loucura, naquele momento irreal. A tradição se esboroava. Os ídolos caíam. Bispos e padres renunciavam. Carlyle acentua que surgiram de todos os lados: "curas com suas recém-desposadas freiras". E uma bailarina da Ópera era transformada em deusa, embora apenas de maneira simbólica.


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